CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Cartaz do filme MEDIDA PROVISÓRIA, sem as tetas da vaca mimosa da União

O ator e agora diretor Lázaro Ramos – o novo queridinho afro-descendente do politicamente correto, lançou, recentemente, um balaio com um gato dentro, isto é, um longa metragem chamado MEDIDA PROVISÓRIA, que denomina de filme cabeça, cogumelo cool, desses que só quem entende são os adeptos da seita que está abaixo do porão do underground.

Sobre o filme cabeça, escreveu o crítico de cinema goiano Kevin Rick, que diz ter começado sua jornada na Grand Line, ter passado pelo Templo de Ar do Leste, adentrado no Monte da Justiça, em Happy Harbour, e nadado nas profundezas de Atlântica.

Afirma ainda está em busca do One Piece. Durante suas viagens pôde descobrir mundos nas imagens de quadrinhos, imaginá-los nas páginas de livros e vivenciá-los na tela de cinema. Ainda não chegou ao Laugh Tale, mas está aproveitando o caminho.

Eis o que escreveu sobre o longa MEDIDA PROVISÓRIA do novo cineasta Lázaro Ramos, adepto fervoroso das tetas da vaca Mococa da Lei Rouanet, lá do Engenho União, que parece ter secado o leite:

“Eu sinto que as únicas qualidades de Medida Provisória partem do campo extra-fílmico. Primeiramente, existe um contexto muito bacana da equipe criativa por trás do filme, passando pelo cineasta Lázaro Ramos e o elenco protagonizado por Taís Araújo, Seu Jorge, Alfred Enoch e Emicida, todos artistas que influenciaram e representaram o povo negro brasileiro de diversas formas na Arte, até o material original do filme, o sucesso teatral “Namíbia, Não”, escrito por Aldri Anunciação, que também virou livro premiado com um Jabuti em 2013. Além disso, o discurso racial da obra é extremamente importante e traz diversos níveis de debate e conscientização para o racismo estrutural no Brasil, inclusive tocando na ferida de certas organizações que censuraram a obra, como também aconteceu com o polêmico Marighella.

Assim sendo, a produção circula o ativismo, no que podemos usar o termo “artivismo” para classificar o trabalho de Lázaro Ramos, utilizando o Cinema como veículo de protesto e engajamento social. Existe verdade na obra enquanto estratégia artística para desencadear uma discussão, sendo que a própria censura é o primeiro ato ridículo que precisa ser problematizado. Notaram como Medida Provisória tem múltiplas camadas extra-fílmicas que dão pano pra manga? É um exercício cinematográfico bem interessante se formos analisar num contexto social e de mercado (por exemplo, por que censurar esse filme se tantos outros com temas similares já estrearam por aqui, seja do cinema brasileiro ou estrangeiro?).

No entanto, dito tudo isso, dado um leve panorama externo da produção sem se aprofundar tanto, é preciso olhar para a obra de arte em si. Não se esqueçam, importância temática é diferente de execução artística. Muitos filmes falam sobre racismo, feminismo, machismo, homofobia, representação cultural, entre outros tópicos relevantes, mas são pouquíssimos que o fazem com qualidade artística. E, para mim, essa frase anterior resume minha péssima experiência com a obra, mais próxima de um cartaz de protesto nas ruas do que uma experiência cinematográfica verdadeiramente reflexiva. Antes de se aprofundar neste argumento, vejamos a premissa do filme: uma sociedade brasileira distópica aprova uma medida provisória ordenando que os brasileiros de “melanina acentuada” sejam mandados de volta à África, provocando uma reação caótica e resistente daqueles oprimidos, com especial lente para o casal Antônio (Enoch) e Capitu (Araújo), e o divertido André (Seu Jorge, sempre carismático).

Existe uma intenção muita clara de Lázaro em ser acessível para o grande público, colocando seu discurso crítico da maneira mais possivelmente descomplicada. Logo de partida, isso dá um tom superficial à narrativa, sem interesse em qualquer nível de sutileza, nuance ou profundidade em seus temas, colocando personagens para gritarem aos quatro ventos os conflitos raciais em debate. É meio constrangedor quando o conteúdo de um filme é mais falado do que trabalhado, especialmente quando Lázaro tenta proporcionar um tipo de encenação valorosa para os monólogos rasos dos personagens, ou então nas suas sacadas visuais óbvias e pobres, como um racista comendo sorvete de chocolate.

São críticas raciais muito brandas, feitas numa espécie de zona de conforto para a audiência, desde o governo maldoso até as caricaturas preconceituosas, como nas personagens de Adriana Esteves e Renata Sorrah, proporcionando um jogo bobo para o espectador médio apontar o dedo para a tela e identificar alguns clichês sociais e ponderar por alguns minutos tudo que já sabia sobre preconceito no Brasil, além de nunca meditar sobre si mesmo como cidadão. Para um filme que se vende como radical em sua premissa absurda, é estarrecedor como Lázaro joga pela segurança, sem explorar qualquer tipo de elemento crítico do filme, seja o meio político, social, educacional ou até de dramas pessoais. Aliás, é difícil sentir algum nível de empatia ou conexão emocional com os protagonistas mal trabalhados e bem pouco complexos, basicamente avatares genéricos para transmitir o discurso aprazível do roteiro.

Nesse sentido, podemos criticar a falta de processo narrativo da obra. Lázaro não consegue criar tensão nas perseguições nas ruas, muito menos angústia nos períodos que Antônio e André passam sem comida (ou insulina, já que aquele conflito existe de forma aleatória e sem impacto na história), e, se possível, tem ainda menos rigor para transpor o sentimento de sobrevivência coletiva nos Afro Bunkers, que são mais julgadores do que representativos da cultura negra. Afinal, qual é o significado daquela sequência que eles matam um homossexual branco? Círculo vicioso? Pessimismo? Honestamente, me parece uma escolha arbitrária para mostrar os “dois lados da mesma moeda”, confortando o público no pensamento de que violência é chumbo trocado, pelo que eu digo: imparcialidade na Arte é morte criativa. Lázaro parece querer confrontar o brasileiro ao mesmo tempo que passa a mão na cabeça do preconceito.

Mas, vamos lá, talvez o intuito é ser ambíguo, certo? Para isso, eu respondo que Medida Provisória é tão ambíguo quanto suas piadinhas de mau gosto que tentam dar à obra um tom de sátira, mas que na verdade tiram a potência das críticas e dos dramas para novamente colocar a audiência numa segurança com pequenos risos. A comédia é só mais um elemento simplificador de Lázaro para tornar seu protesto audiovisual de fácil digestão, e consequentemente vazio de substância ou efeitos dramáticos. Vou além e digo que a escolha de Wagner Moura por escalar Seu Jorge em Marighella é mais provocativa do que qualquer porcaria leviana que vemos nesta obra para ativistas alienados e revolucionários de redes sociais.

Outro ponto terrivelmente construído no filme está em sua mitologia, que até tem bons conceitos como os quilombos modernos, mas que não dispõe de qualquer naturalidade ou coesão narrativa, como nas citadas cenas nas ruas, na anticlimática fuga do ato final e nos entornos do apartamento, em que não temos lógica interna mesmo no absurdo ou exploração de situações sugeridas (revolução, movimento, luta), e muito menos sensação de periculosidade, urgência ou suspense na direção estéril de Lázaro. Críticas visuais são inexistentes numa terra em que tudo é explicado da maneira mais trivial possível. Nada é desenvolvido em Medida Provisória, do discurso até o ambiente, dos personagens até a linha narrativa, tudo soa como um panfleto de conscientização para idiotas. Um “artivismo” pobre sem catarse. Um cartaz de protesto de Ensino Fundamental que pode ser muita coisa, menos cinema, no sentido simbólico-qualitativo do termo.”

Trailer Oficial

10 pensou em “MEDIDA PROVISÓRIA (2022), UM FILME CABEÇA UDIGRUDI

  1. Não vou assistir nem amarrado…
    As tetas da vaca leiteira da lei rouanet (antiga), secaram e essa thurma está INCONSOLÁVEL…
    Dá-lhes POLODORO!!

  2. O crítico de cinema goiano Kevin Rick usa um monte de palavras rebuscadas para definir um filme, quando apenas uma bastava: Ruim.

    • Concordo plenamente com o nobre amigo João Francisco.

      Ruim, não! Mas merda sim. Poderia até ser o titulo do comentário dele!

      Mas mesmo assim, para ele largar de ser bobo com os idiotas dos politicamente corretos, deveria ter medito a estrovenga.

      Veja o quando ele está sendo bombardeado pelos idiotas no site onde publicou o texto:

      https://www.planocritico.com/critica-medida-provisoria/

      Abraçaço, estimado comentarista.

      Ótimo domingo para o mestre e família.

  3. Ciço, meu bom compadre:
    Há pelo menos uns 10 – 15 anos que não vejo filmes brasileiros, todos eivados da cretinice esquerdista. Na verdade, nem sou atraido pelos filmes estrangeiros também (europeus e, principalmente, americanos, hoje dominados pela porcaria do conceito de “politicamente correto”).
    Mas, passando a ler seus inteligentes comentários sobre o cinema, passei a prestar mais atenção na chamada sétima arte. Só por curiosidade, para matar um pouco a saudade das porcarias, vou procurar ver tal “obra de arte”.
    Meus parabéns pela suas brilhantes análises.
    Feliz Páscoa para você e todos os seus queridos.
    Abraços,
    Magnovaldo

  4. Por São Anthony Hopkins,
    E o cinema tupiniqim jamais avançou em qualidade para além da pornochanchada, onde o único intuito era fazer punheteiros ainda mais punheteiros em um desfilar de corpos femininos nus para o gozo de adolescentes (lembram-se das histórias que as nossas babás não contavam?); diretores e atores/atrizes abaixo da linha da mediocridade sempre foi a tônica e jamais avançamos um passo sequer.

    O tempo passou, tal situação ficou indissociável ao próprio cinema nacional – “filme brasileiro só tem mulher pelada”, quem nunca repetiu tal mantra? Poucos foram os filmes que deixaram suas atrizes vestidas

    Rebusco a memória e não encontro uma “obra” que me fez ir ao cinema ver a prata da casa; nem a Super Fêmea Vera Fischer, no auge da gostosura conseguiu tal feito .

    Investir firme em piadas totalmente sem graça e de duplo sentido seja no vocabulário ou em qualquer tipo de nudez (que não será jamais castigada) é serventia da casa. A boca do lixo foi ao luxo e continuou lixo.

    Só de olhar para cada um de nossos “astros” em cena, deles já é possível decifrar tudo o que acontecerá a seguir: um nada absoluto em termos de CINEMA.

    O filme brasileiro, qualquer um deles, fracassa sempre por girar em torno do próprio umbigo. Investindo em trocadilhos infames e personagens extremamente mal desenvolvidos, com direito a peitinhos e bundas ao sabor do vento. Pífio é o nome que se dá ao cinema por aqui praticado.

    Diante de tantos problemas – estruturais, de (falta de) humor e de atuação (absolutamente ninguém se salva!) -, o pouco de interesse existente está na pergunta: ainda existem punheteiros a procurar o escurinho o cinema? De resto, trata-se de continar a não desejar mais do mesmo.

    Abraçação, Cição, i vamu qui vamu…

    • Mestre Sanchão,

      Aconselhado pelo magno, super cinéfilo D.Matt., assistir por mais de 20 vezes ERA UMA VEZ NO OESTE, do genial diretor italiano Sergio Leone.

      Impressionante que diante de uma exuberância chamada Claudia Cardinale, um vulcão sensual em chama, em pleno deserto Monument Valley, não ser sequer mostrado aqueles dois peitos exuberantes dela, e o faroeste é um clássico, uma obra-prima insubstituível!

      Mais uma vez se prova: o Brasil não é para amador nem no cinema!

      Abraçaço, estimado amásio sentimental de Maria Bago Mole.

      • Ciço, meu caro

        Você é meu amigo ou amigo da onça?

        Ao escrever “estimado amásio sentimental de Maria Bago Mole” (epa, epa, epa…) tal texto pode gerar uma confusão dos diabos e colocar os capangas de Bitônio à caça deste pobre caminhoneiro para dar fim deste vivente.

        Veja bem o rolo em que agora você me colocou: amásio. a.má.si.o ɐˈmazju. nome masculino. depreciativo, pessoa que mantém uma relação amorosa com outra com a qual não é casada; amante.

        Como não possuo nenhum poder para a tal “ressurreição”… interceda por mim, Ciço.

        Solicito encarecidamente ao amigo que interceda junto ao coroné Coelho para que a interpretação da frase não carregue consigo nenhum perigo para este que vos escreve, pois “vivê é bao dimais da conta, sô”.

        Acorrege aí, Ciço!!!!!!!!

        • Seu acerto de conta seria com o Coronel Bitônio Coelho, que autorizaria seus capangas a dividir um litro de 51.

          Mas como ele acredita na sua amada, e sabe que toda essa alucinação não passa de uma quimera sua, ele manda dizer-lhe que já está perdoado, e como Mister Carter na pele de Erricane:

          – Não nasci para ser assassino. Sou um boxeador. Estou aqui para amar a minha deusa e respeitar os seus fregueses. E Sancho é um deles.

          Xêros e abraços héteros.

          • Isso me levou a recordar frase de Jânio sobre mal-entendidos: “Minha cara, intimidades geram duas coisas: filhos e mal-entendidos. E eu não pretendo nenhum dos dois com a senhora” Jânio Quadros (a uma jornalista que o tratou por “você”).

            Agradeço ter tirado a cisma e os olhos de Coroné Bitônio Coelho de cima de “euzim”, pois quero distância da terra “dus pé juntu”, que é para onde ele manda os desafetos e os que se engraçam com a Maria..

            I vamu qui vamu

        • Formigas-ruivas poderão ser destino e fim…

          Ah,caríssima, se soubesses do que são capazes os capangas de Bitônio, não irias desejar a Sancho tal destino…

          O último cabra que se engraçou com Maria foi colocado em formigueiro de formigas-ruivas, mais conhecidas por formigas lavapés (caga-fogo, formiga-brasa, formiga-de-cemitério, formiga-de-defunto, formiga-quente, formiga-malagueta, formiga-ruiva, itaciba, jequitaia, jiquitaia, lava-pé, mordedeira, mossoró, queima-queima, pititinga, pixixica, taciba, taçuíra, taviriri, taçuva e uaiatu.) e devorado vivo durante uma semana, não sendo registrado por quanto tempo durou antes do último suspiro…

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