CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Desde que publiquei um trabalho sobre o Banco do Brasil em Pernambuco, (primeira edição em junho de 1986), fiz constar, num dos capítulos, um esboço de Estudo Sociológico, no qual descrevi as qualidades dos funcionários mais destacados, suas habilidades extra bancárias e até alguns dos seus apelidos mais engraçados.

Não raro, por isso, sempre estou sendo solicitado a comentar sobre as alcunhas mais pitorescas de alguns, porque marcam uma época, onde a seriedade de trabalhadores bancários era uma tradição naquela Casa, porém, na intimidade – fora do expediente – a “bagaceira” corria frouxa.

“Mauro Fernandes” se projetou porque, além de possuir uma novíssima motocicleta “NSU”, costumava utilizá-la, algumas vezes, como transporte para ir ao Banco.

Estacionava a “maraviha” na porta do prédio, na Av. Alfredo Lisboa, 427, Marco Zero do Recife e o veículo que chamava a atenção pelo brilho dos seus cromados, pois, até o motor era reluzente.

Na década de 1940 havia poucos funcionários que possuíam automóveis, visto que todos os modelos eram importados. Por isso, a motocicleta de Mauro fazia sucesso por onde passava e quando estacionada juntava apreciadores.

Pela circunstância – o ruído do motor estridente – quando acelerava a partir da Rua do Aragão, onde seu dono residia, dava a impressão que por ali passava um “cabra macho que só preá”, trepado num cavalo de aço. Porém, não era bem assim…

Em 1945, terminada a II Guerra Mundial, muitas motocicletas apareceram no Recife, algumas abandonadas pelas Forças Armadas Americanas, as quais funcionavam sob a graça de mecânicos habilidosos, dentre os quais Berivaldo Lopes, um funcionário do Banco do Brasil, que costumava comprar tais veículos destroçados, no depósito do Departamento de Trânsito, fabricava as peças danificadas, consertava-os e revendia.

E nessas circunstâncias surgiu a aproximação dos dois colegas e a descoberta de que Mauro não era tão macho quanto se pensava.

Mauro Bilola, só a cara de homem mau

É verdade, que usando um daqueles gorros de aviador, dava a impressão de que se tratava de um “Super Men” abrasileirado, quando na verdade se acabou descobrindo o contrário.

Mauro tinha estatura atlética, “cara de mau”, porém, na verdade, era um meninão. Fora criado pelas irmãs mais velhas, e adquirira hábitos não muito másculos. Fora considerado “criado com vó”.

Estudioso, passara no concurso do Banco em posição invejável, mas se mostrava tímido no trabalho e não apreciava as festas em clubes, como os jovens de sua geração.

O que lhe dava temporária masculinidade, porém, era, de fato, quando pilotava aquela “senhora máquina”. Solteiro até os últimos dias de sua vida, confidenciara com um colega que tinha medo de mulher. Casar, nem pensar!

Por seu procedimento recatado acabou “agraciado” com o apelido de “Mauro Bilola”, que no Nordeste do Brasil significa menino abobalhado, abilolado.

Como o apelido havia se tornado identidade, certa feita o Subgerente Francisco Bayma se embaralhou ao pedir sua participação em determinado trabalho, e em voz alta se pronunciou no amplo salão:

– Ô colega, por favor chame aqui aquele rapaz da Contabilidade; um bem vermelho, que é motociclista, cujo nome não me ocorre agora, mas o conheço como “Mauro Bilola”!

Estava consagrado!

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