DEU NO JORNAL

José Nogueira Sobrinho (Tenente Coronel Especialista em Avião FAB)

Maria Boa (1920-1997)

O cabaré de Maria Boa, e suas lindas meninas, no bairro da Cidade Alta, Natal, onde a cidade nasceu e depois se espalhou pelo bairro da Ribeira, era, desde que surgiu no tempo da guerra, um casarão luxuoso, bonito e caro. “O visitante, ao entrar, via uma casa recheada de móveis vermelhos, estilo clássico, e um imenso salão com damas dançando tango”. O poeta, escritor e boêmio João Bosco Lopes, debochava: “Havia mais reunião de deputados em Maria Boa do que na Assembleia”.

Na bucólica Natal de antes da guerra, o lugar de todos os encontros era o Grande Ponto, um café, confluência da avenida Rio Branco com a rua João Pessoa, no centro da cidade. A cidade nasceu como um misto de santuário, aldeia e fortaleza. E aí veio a guerra. Segundo Lewis Munford, a guerra é tanto construtora de cidades, como dos mercados, dos bancos, das casas de má fama. A rua 15 de Novembro era conhecida como a 15 do meretrício. Com a guerra, a cidade fervilhava de militares americanos e brasileiros, pondo do avesso os costumes.

“Mesmo com pouco estudo, Maria Boa desenvolveu o gosto por música, literatura e cinema. Os cabarés do seu tempo eram refúgio dos homens e iniciação sexual dos jovens. Seu comportamento extremamente discreto, aliado à sua classe e elegância, fazia com que ela transitasse normalmente na sociedade natalense. Todos sabiam da sua existência, entretanto, não era vista por quase ninguém” – Torres Neto, A Primeira Dama de Natal. Aurino Araújo, no Poti (28/03/1995): “Discreta, influente e poderosa, Maria Boa chegava a avalizar títulos nos bancos para figurões locais. O jornalista Cassiano Arruda, da Rádio Cabugi, ao fazer um flash ao vivo direto da Maria Boa: “Quem disse que o melhor carnaval é no América ou no Aeroclube? O melhor carnaval é aqui, de onde estamos falando. Pelo menos não falta mulher”.

Na década de 70, vinte anos depois da guerra, o cabaré ainda mantinha a sua fama: depondo a Torres Neto, o então estudante Aldaliphal Cintra lembra: tinha duas escadas. Uma, na lateral, para todos, e outra, na frente, para os grandes clientes. Quando aparecia um dinheiro a mais na minha mão, a pedida era Maria Boa. Difícil era escolher a mulher. Todas bonitas, elegantes, educadas, gentis, atenciosas, interessantes e sedutoras. Depois, dependendo da grana, quarto normal com pia, sabonete, toalha e ventilador; ou suíte com banheiro, chuveiro, ar-condicionado e direito a pedidos de drinques, lanches e refeições. Um sonho.

Mas o sonho acabou. Com a liberdade sexual, os namoros coloridos, o cabaré perde prestígio, agoniza e fecha para sempre em 15/03/1995. Manchete do Diário de Natal (22/07/1997), no falecimento de Maria Boa: “Morre a Dama das Camélias”. Natal, e a boemia, nunca mais foi a mesma. E como “nunca houve uma mulher como Gilda”, nunca houve um cabaré como o de Maria Boa!

O AVIÃO DE MARIA BOA – Depois da guerra, a Base Aérea de Natal homenageia Maria Boa pintando o “nome de guerra” dela no lado esquerdo da fuselagem do nariz do avião B-25 J 5071.

AVIÕES B-25 – Os B-25 operaram em Natal até o final da guerra, 1945, no antigo 10 Grupo Misto de Aviação, quando foram distribuídos também para o Parque do Recife e bases aéreas de Salvador e Fortaleza. O B-25 J 5071 ficou em Natal e foi o escolhido para homenagear Maria Boa.

FAMA – Outros B-25, com figuras e nomes desenhados no nariz, também ficaram famosos, como o “Maconha” e o “Amigo da Onça”, do Parque do Recife, pilotados pelo tenente Nobyle (coronel reformado, e seus lúcidos 89 anos de idade, completados em 05/05/2020).

ANÉIS DE VELOCIDADE – A parte frontal das carenagens em volta do motor formam o anel de velocidade. Os B-25 de Salvador tinham os anéis pintados na cor verde; os do Recife, na cor vermelha; os de Natal, na cor amarela; e os de Fortaleza, na cor azul. Nunca houve um cabaré como o de Maria Boa!

FANTASIA – “Nunca houve uma mulher como Gilda”. Gilda, no entanto, não existe. É fantasia. Personagem de Rita Hayworth, no filme de mesmo nome, Gilda, divulgado pela frase acima, uma das mais espetaculares da propaganda. O filme americano, ousado para a época (1946), mostra uma mulher linda, exuberante e sensual, Gilda, digo Rita, estrela que, por causa desse filme, foi a primeira a ser chamada de superstar, e é hoje um clássico. Há uma frase famosa de Rita sobre Gilda: “Os homens dormem com Gilda e acordam comigo”. E ainda tem quem duvide que a fantasia move o mundo.

6 pensou em “MARIA BOA

  1. Fui frequentador de Maria Boa, eu e vários amigos que ia a Natal RN, e sempre as farras tinha como objetivo dá uma passadinha em MARIA BOA. Um certa vez encontramos um amigo, e agente estava indo para MARIA BOA, ao chegar esse amigo foi barrado, pois não estava com roupas adequadas, estava com um esquenta que os professores de Educação Física usa e de havaianas, voltamos para comprar uma calça e uns tenes, o negócio era sério, não no STF que se entra de BERMUDAS.

    • O abelhudo Sancho, grande apreciador de “mariposas”, solicita ao señor Guedes, talvez parente do Paulo, que nos brinde com “causos” ocorridos dentro de tal estabelecimento, vocacionado para luxuriantes momentos de entretenimento, para que tenhamos um panorama de como eram as famosas meninas e o interior de tão interessante lugar. Não esqueça que há no JBF espaço para quem saber contar boas histórias.
      Abraço grande.

    • Veja a moral dos deputados do rn fazia reunião seria num lugar adequado diferente dos de hoje que faz reunião de sacanagem em Brasília

  2. VISITEI O LOCAL, UM REQUINTE. SÓ PORQUE ME DISSERAM , LÁ EM NATAL, QUE MARIA BOA ERA DE CAMPINA GRANDE PB. NÃO CHEGUEI A CONHECER.

    FENOMENAL…CABARÉ DE LOCAL FÍSICO DETERMINADO, HOJE É AO AR LIVRE EM TODOS OS CANTOS!!!

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