Para Schirley e Sancho Panza
Carruagem semelhante à que Maria Bago Mole usava
Depois de ter visitado o cabaré de várias cidades da Zona da Mata Sul de Pernambuco em sua carruagem westerniana, presente do coronel Bitônio Coelho, à procura de carne nova para “abastecer” seu bordel, Maria Bago Mole visita a Coreia de Palmares, várias vezes mencionada n’O Romance da Besta Fubana, do escritor e editor do JBF Luiz Berto, local onde lhe sopraram ao ouvido existir a maior concentração de adolescentes fugidas de casa por não suportarem a tirania dos pais, que se tornaram insuportáveis do dia para a noite porque as más línguas das redondezas lhe sopraram no ouvido que a filha havia sido descabaçada debaixo de um pé-de-algaroba, ora por Tonho das Cabras, ora por Zeca Jumentim e outros aproveitadores da inocência juvenil.
Quando os habitantes das imediações da Coreia souberam, por meio de curiosos que estava chegando uma cafetina ao lupanar coreiano, guiando uma carruagem parecida com a do velho oeste americano, calçando botas vermelhas, vestindo calças compridas e usando chapéu vitoriano, aumentou ainda mais a curiosidade das donas de casa mexeriqueiras e oprimidas pelos maridos e, aproveitaram suas ausências para irem até o meretrício só para ver a chegada da cafetina que tanto atraia os homens, frequentadores assíduos desses ambientes de comes e bebes.
Quem não gostou nada da presença da cafetina Maria Bago Mole na Coreia foi o comissário de polícia Juvenço Oião, espécie de Tenório Cavalcanti local, o “Homem da Capa Preta,” que enfrentava seus desafetos com a submetralhadora “Lourdinha”, inimigo figadal do coronel Bitônio Coelho, que desconfiava que Maria Bago Mole estivera nas imediações a mando dele, sondando o ambiente para expandir seus negócios e transformar a Coreia no longa manus político do seu cabaré de Carpina e manipular todo comércio de carne mijada em toda região da Zona da Mata Sul.
Apesar de na vida nada lhe impressionar, pois já havia passado por todo tipo de agruras, fome e abandono, Maria Bago Mole ficou abalada com os milhares de retirantes que encontrou estrada afora apenas com a roupa do couro e uma trouxa na cabeça procurando uma sombra para descansar e uma raiz para comer, porque onde vivia a seca tinha devastado tudo e nenhuma esperança lhes restava mais viver naquele lugar desacolhedor, onde até os calangos e as lagartixas os escorpiões haviam devorado.
Quando encontrara uma família na beira da estrada esburacada só o couro e o osso, parava a carruagem e entregava um saco de mantimentos que carregava no porão para os retirantes irem enganando a fome até chegar à cidade grande em busca da prosperidade que não existia.
Nessa primeira viagem à região da Zona da Mata Sul, Maria Bago Mole não colheu o que estava dentro da sua expectativa, mas tinha plena consciência de que o resultado positivo viria pela frente em abundância graça aos seus esforços e acreditar que o que estava plantando iria servir de trampolim para o grande sucesso amanhã: a expansão dos seus negócios lucrativos, como bem observara o comissário Juvenço Oião, morrendo de inveja da mulher empreendedora e indomável.
Ciço, meu bom compadre:
É impressionante como a pena de sua caneta (ou a bolinha de sua esferográfica, ou a tecla de seu computador, sei lá) é leve para mostrar os acontecimentos do sertão. Às vezes tão sofridos, mas tão humanos.
Parabéns pelo seu estilo. Muito agradável.
Abraço,
Magnovaldo
“Daí de comer a quem tem fome”, escreveu La Duchesse.
Ciço, meu querido… E lá vai Sancho sempre faminto…
Quanto coisa boa acontece debaixo de um pé-de-algaroba, não é mesmo, minha gente? Em certas horas batem certos “apetites”, caríssimo “manu véi”…E lá vai o Quixote Véi di Guerra seguindo a carruagem de MBM, pois vai que em alguma curva do caminho cai na estrada algum “pestisco” ruivíssimo para matar a fome do caminhoneiro, pois nem só de pão vive o homem. kkkk.
Ciço, meu manu di estrada da vida
MBM muito zelosa com as meninas não deixou cair na estrada nenhum “pestisco” ruivíssimo para o caminhoneiro saborear.
Depois de percorrer longo trecho, espero para breve a relação das “novas” meninas que agora irão fazer parte do elenco cabarelístico, pois, estou pensando em dar um pulinho em casa tão acolhedora para troca de óleo e colocar o papo em dia…
Abraçação, manu véi.
Ah, as ruivas…
Caríssima,
Felizmente o carnaval aqui no Chuveste foi recheado de sol e calor, fazendo com que as encomendas cocoleiras fossem bombando durante o final de semana que passou e o início desta.
E a sogrona, que controla as planilhas, botou o bloco na rua, ops, o camihão de Sancho na rua, pois a véia zureta é louca por dinheiro e não iria perder a oportunidade para faturar; para piorar o cenário sanchístico, um dos caminhoneiros pegou covid e o trabalho que faria foi distribuido por Sancho e Zé da Zana, desafetos da véia jararaca.
Pé na tábua, que amanhã tem mais…
Beijão de Sancho… sempre até sempre…
E de lascar !
Esse homi é phoda.
Como é que ele foi até o Hell de Janeiro de 30/50 anos atraz de ressuscitar
esse cabra famoso que foi uma das piores coisas que já aconteceram no Rio,
Esse Tenório Cavalcanti, era um politico, uma figura muito comentada, odiada, e
conhecida como um dos maiores bandidos da Estado e ameaçava e matava seus opositores com a sua famosa metralhadora Lourdinha. Era um politico bandido
( como todos os demais ) que dominava parte da cidade do RJ, com força e poderes maior que o governador e ahi! de quem se intrometesse no seu caminho.
Ele usava uma grande Capa Preta e junto aos seus bandidos contratados
dominava e impunha a sua presença e o seu poder na zona norte do RJ.
Uma vez um reporter pressionou o bandido e raspar a sua barba ao vivo na TV,
oferecendo milhões para caridade. Depois de várias negativas chegaram a um acordo, pois os reporteres da TV não davam folga e cobriam todas as propostas que
eram oferecidas e superadas pelo politico.
O Tenório aceitou então raspar a sua barba, sob protestos de toda a sua
familia e de seus asseclas. Apos a raspagem da barba, houvre uma revolta
à beira da piscina e os capangas do bandido acabaram jogando na piscina
todos os reporteres, o pessoal, tecnico da tv e todo o seu aparelhamento.
Eles tiveram sorte, pois se não estivessem no ar. as suas vidas correriam perigo.
Isso ninguém me contou, eu vi na TV ao vivo.
Agora eu pergunto, como é que o Ciço sabe de tudo isso ?
Inteligencia meu caro e arguto pesquisador.
Abraços Cição, você nunca me decepciona.
Mestre D.Matt.,
Tenório Cavalcanti era um político controverso, polêmico, agressivo, violento, desde suas raízes em Palmeira dos Índios, nas Alagoas, onde nasceu.
De Alagoas se mudou para o Rio de Janeiro, onde formou sua base política:
Primeiro foi eleito vereador por Nova Iguaçu, depois deputado estadual e deputado federal, onde ameaçava todos seus desafetos com sua metralhadora Lourdinha.
Um dia peitou, dentro do cabaré que é a Câmara Federal contra Antonio Carlos Magalhães, outro corrupto, oriundo da Bahia, e a merda quase vira boné. Vê-se a transcrição do bá-fá-fá:
Tenório Cavalcanti candidatou-se para o cargo de governador da Guanabara em 1960 pelo Partido Social Trabalhista (1946), mas perdeu as eleições para Carlos Lacerda. Candidatou-se a governador do Estado do Rio de Janeiro em 1962, perdendo para Badger da Silveira. Estes fatos, somado às pressões cada vez mais fortes das elites de Caxias, solaparam o poder de Cavalcanti, que lentamente cairia no esquecimento. Antes disso, protagonizaria um dos episódios mais tensos da história política brasileira.
Na ocasião, Cavalcanti, ainda no mandato de deputado federal, discursava na Câmara dos Deputados. No discurso, acusava o então presidente do Banco do Brasil, Clemente Mariani, de desvio de verbas. Antônio Carlos Magalhães, então deputado e baiano como Mariani, defendera o conterrâneo respondendo que “Vossa Excelência pode dizer isso e mais coisas, mas na verdade o que Vossa Excelência é mesmo, é um protetor do jogo e do lenocínio, porque é um ladrão.”
Tenório Cavalcanti, então, sacou o seu revólver e berrou: “Vai morrer agora mesmo!”. Alguns dos membros da Câmara Federal correram para tentar impedir o assassinato enquanto outros fugiram do plenário. Antônio Carlos Magalhães, tremendo de medo, teve uma incontinência urinária. Mesmo assim, gritava: “Atira.” Tenório, por fim, resolveu não atirar. Rindo da situação em que ACM se encontrava, recolheu o revólver, dizendo que “só matava homem”.
Obrigado, Deusa do Asfalto, a mulher que tem o coração mais lindo do que o pôr do sol.
Minha príncipa,
Sua presença aqui, intercicomunicando com a ousadia atemporal de Maria Bago Mole, uma cafetina inteligente, que anteviu a beleza d’ O Romance da Besta Fubana, numa época que ainda não existia máquina de escrever, é de uma leveza espiritual sem precedente para o universo da imaginação.
Eu tenho um amor especial por todos os que participam da festa da alegria aqui no JBF, sem discriminação ou preferência de estilo, no apé do editor, que está sempre alegre quando é dia de festa.
Grato por tudo. Beijaço e abraçaço.
Presados colegas comentaristas.
Esta seção de comentários esta se tornando tão importante como
as colunas dos redatores semanais.
Os comentaristas , outrora só escreviam algumas frases sobre os artigos
publicados, mas agora os comentários estão se tornando aulas de historia
com fatos, e acontecimentos detalhados de situações históricas.
Haja vista, este comentário acima do nosso amigo Cição, que preenche
um espaço com grandes informações altamente fidedignas.
Fico surpreso ao ler as narrativas do amigo Cição, detalhando corretamente
os fatos acontecidos no passado recente e que certamente são
desconhecidos para a maioria dos leitores, isto porque foram acontecidos
numa época do passado recente que ainda não tinha a internet
para fofocar para o mundo, tim tim por tim tim.
Para nossa sorte, podemos contar com o trabalho de pesquisa do
amigo colunista e também comentarista, que copiando a tradição das lavadeiras de beira dos rios, fofoqueiras que
botam pra quebrar e contam tudim que acontece para quem quiser saber, sem omitir uma virgula.
Falar em lavadeiras de beira de rios, aqui pode ser apenas expressão de
fundo literário,. Embora muitos não acreditem, assim como as bruxas elas realmente existem, pois quando de uma viagem a Portugal , o ônibus de turismo no qual eu viajava, parou perto
de um rio , somente para mostrar aos turistas as lavadeiras que realmente
estavam lavando grandes trouxas de roupas, numa pequena ribanceira.
Infelizmente, o progresso que nos trouxe a internet, está ou já acabou com
as cenas pitorescas das nossas vidas, e que agora nos aprisiona diante de uma te
tela e nos obriga a apertar botões, sem emoção.
Ciço, meu caro, a sua descrição sobre os fatos perpetrados pelo bandido Tenório Cavalcante é muito correta e, como carioca acompanhei todos os fatos e
e posso acrescentar que somente os fatos acontecidos no Hell de Janeiro, dariam para escrever uns cem comentários.
Abração, Cição.
Parabéns, querido colunista Ciço Tavares, pela excelente crônica, “MARIA BAGO MOLE VISITA A COREIA DE PALMARES”,
No texto, destaca-se a generosidade dessa mulher iluminada, que não deixava de ajudar aos mais necessitados, que encontrava pelas estradas por onde passava.
Gostei da carruagem “‘westerniana”, “presente do coronel Bitônio Coelho”, na qual Maria Bago Mole percorreu cabarés de várias cidades da Zona da Mata Sul de Pernambuco, “à procura de carne nova para abastecer seu bordel.”
Foi tocante a generosidade dessa mulher, quando se deparou com a pobreza, a fome e o abandono. Sem pestanejar, procurou ajudar aos retirantes que encontrou pelas estradas, somente com a “roupa do couro e uma trouxa na cabeça”, procurando uma sombra para descansar e uma raiz para comer..
Apesar de já ter passado por todo tipo de agruras, Maria Bago Mole ficou abalada com o sofrimento dos retirantes.
Sem dúvida, ela foi uma grande empreendedora, e seus pensamentos positivos a ajudaram a alcançar os seus ideais.
Grande abraço!.
Obrigado pela descrição da bondade da personagem, queridíssima Violante Pimentel (VIVI – como carinhosamente a chama o genial Sancho) – e nós também.
Maria Bago Mole, segundo meu irmão com mais idade – José Tavares – que conheceu na feira de Carpina muitos remanescentes dos homens que a conheceram pessoalmente, era ela uma mulher – para época: única!
O que mais me impressiona na história dela, e eu vou narrar em capítulo aqui, é que ela amou o coronel Bitônio Coelho, que era um fazendeiro riquíssimo, apesar de ele implorar a ela para VIVER com ele, ela nunca aceitou a “oferta”, preferindo o cabaré, confessando-lhe que tinha mais liberdade e poderia ajudar muitas mulheres da vida difícil a tomar um rumo descente na vida, e Seu Bitônio Coelho a respeitava, a amava e a aceitava numa boa!
MARIA BAGO MOLE nasceu para ser independente, ser dona do seu próprio nariz e encantasse amando seu único homem em vida, não pela riqueza, mas pelo amor que ele a afetava e ela a ele.
Essa história é encantadora!
Obrigado, querida, e um ótimo final-de-semana para você e o seus entes queridos e amados.
Querido cronista Ciço Tavares:
A sua personagem Maria Bago Mole, sucesso das suas excelentes crônicas, é o próprio amor personificado. Mas, antes de tudo, ela sabia amar a si própria. Jamais entregaria sua vida e sua liberdade a um amante, por mais que o quisesse, e por mais rico que fosse. Sua experiência deve ter lhe ensinado que nada é mais importante na vida do que a liberdade.
Estou ansiosa pelas “cenas dos próximos capítulos”, grande escritor!.
Um grande abraço!