CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA OU OS VÍRUS ASSASSINOS

Os primeiros sintomas foram apenas incômodos. Cansaço, febrícula, dores, essas coisas a que estamos acostumados. Jamais se vira, no entanto, uma doença alastrar-se tão rapidamente. Primeiro, epidemia, que de pronto se fez pandemia e dor, muita dor, no eterno adeus dos entes queridos.

Apesar das reiteradas advertências dos especialistas, o governo tratava o assunto como se fosse de interesse secundário, enquanto o vírus ceifava, sem discriminação, vidas ricas e pobres, embora estes em flagrante desproporção.

O governo, enfim, foi compelido a agir, e em vez de brincar de médico foi, mesmo a contragosto, implementar providências enérgicas. A força da pandemia, contudo, é maior, não permitindo redução do ímpeto viral, como desejado.

A propósito, a realidade cede lugar à ficção de José Saramago (Ensaios sobre a cegueira) falando de um mundo onde todos os habitantes se tornam cegos. Nesse mundo, apenas uma mulher manterá a sua visão, enfrentando todos os horrores que serão causados, presenciando o poder, a obediência, a ganância, o carinho, o desejo, a vergonha, os dominadores e os dominados, os subjugadores e os subjugados, as lutas pela comida, a compaixão pelos mais necessitados, a violência, o abuso sexual, a morte…

Prossegue Saramago relatando que a cidade estará toda infectada, cheia de cadáveres, lixo, detritos, todo o tipo de imundície. Os cegos, por sua vez, passarão a seguir os seus instintos animais, vindo a sobreviver como nômades, instalando-se em lojas ou casas desconhecidas. José Saramago nos induz a refletir sobre a moral, os costumes, a ética e o preconceito através dos olhos da personagem principal da obra, a mulher do médico.

Esse quadro aterrador pertence à ficção de José Saramago, repita-se, mas, pense bem, tem muitas afinidades com a realidade atual. Ausência de leitos e de vagas em UTI para os que se estão ultimando nestes dias turbulentos, é uma delas.

Pensando bem, Ensaio sobre a cegueira é pesadelo ou realidade?

5 pensou em “MARCELO ALCOFORADO – RECIFE-PE

  1. o governo tratava o assunto…

    Creio que o termo governo, no caso do coronavírus deveria ser pluralizado pelo señor Alcoforado, a nível mundial, pois governanttes federais, estaduais e municipais mundo afora assim a trataram… Inclusive a OMS…

    • Em vez de brincar de médico……………. Mas quem sempre tratou da doença foram médicos e enfermeiros . Uns abnegados , outros nem tanto. No início pessoas eram deixadas para reagir por si , pois ainda não havia compreensão do tratamento e o medo de se aproximar era natural ( e ainda é ) . Talvez o senhor Marcelo ache que o presidente deveria pegar um porrete e sair correndo atrás do vírus . O que mais atrapalha nesta pandemia , é que muitos tentam tirar proveito da situação. Lucra-se em cima do sofrimento dos outros. Políticos cretinos desviam verbas públicas destinadas ao combate da pandemia , apoiados, todos sabem , por muitos do mesmo caráter.
      Enfim como costumava dizer meu pai , o papel aceita tudo e a tela de meu computador também. Eu não!. No mais sigo Dom Sancho de Orléans Bragança São Bernardo e Adjacências .

      • Falando em brincar de médico,meu querido JFran, quando criança (e lá vai tempo) tinha o jovencito Sancho uma amiguinha que adorava brincar de dermatologista e já ia dizendo, autoritária e bela:
        – Dispa-se, que é hora de examiná-lo de fio a pavio.
        Eficientíssima, por sinal…

        • E aí amigo , ela viu o pavio curto ?.
          Brincadeirinha!. É dia de malhar o lula , digo o judas . Estou preocupado com o Mestre Iluminado , que ainda não deu as caras por aqui. Deve estar dando em outro local .

  2. Parabéns, Gustavo, pelo texto. Lamentavelmente, o Humanismo do século XXI se encontra debaixo do tapete, sobrepujado por uma era digital amplamente necessária, embora devendo ser amplamente companheira de um Humanismo sem fricote, denso sem mediocridades gestuais, capaz de superar todos os negativismos do mundo. Vibrei com o luso Saramago, com um ensaio alertador pra lá de arretado de ótimo.

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