WELLINGTON VICENTE - GLOSAS AO VENTO

Manoel Bandeira da Silva (Mané Bandêra) nasceu no município de Quipapá-PE, em data que ele desconhecia.

Analfabeto e sem contato com alguém da sua terra natal (pelo menos nunca me falou de algum parente seu), Mané Bandêra chegou a Altinho no início da década de 1960.

Casou com a senhora Elvira, com quem teve o filho Adilson José da Silva (falecido). Morou até a sua morte em 1994, no sítio Sobradinho, Altinho-PE.

Foi durante a sua vida um trabalhador rural dos mais dispostos, trabalhando nas terras do meu avô João Maurício de Farias, dos meus tios maternos Alcides, Pedro e Gumercindo e participando dos famosos mutirões de roça nos sítios Quilombo, Letreiro e Cantinho.

Foi uma figura muito presente em minha infância na roça e na vida de muita gente da minha época.

Em 1994, após ficar sabendo do seu passamento para o Plano Superior, escrevi o poema MANÉ BANDÊRA, que foi publicado no jornal Diário da Amazônia, em Porto Velho, Rondônia.

MANÉ BANDÊRA temos,
desde o nascimento,
Nossos destinos traçados;
Uns são bem-afortunados,
Outros só têm sofrimento.

Não me queixo, nem lamento
Cada um tem seu valor:
Um nasce pra ser doutor,
A outra pra ser parteira…
Porém o Mané Bandêra
Nasceu pra ser lavrador!

Mané! Foste um ser humano
Sem fortuna, sem renome,
Mas tinhas o mesmo nome
De um vate pernambucano;
Quis, porém, O Soberano
Mudar a linha traçada,
Passaram na mesma estrada
Mas com diferentes metas:
Ele: Mestre dos Poetas!
Você: Mestre da Enxada!

Nos lugares que passaste
Todos sentem a tua falta,
Na roça, a tua ribalta,
Muito suor derramaste;
Mas foi lá que encontraste
O prazer de viver nela.
Tua camisa amarela
Foi “armadura de guerra”,
Quem mais descobriu a terra
Está coberto por ela.

Não vi, porém, imagino
A tua triste partida
Deixando enorme ferida
No Agreste Nordestino.
Quando repicou o sino,
Piou tristonho o tetéu,
Pegaste botas, chapéu,
O “pacaia” e a enxada
Pra primeira “empeleitada”
Com O Capataz do Céu.

Uma foto dos anos 90: Mané Bandeira, de camisa branca, e este colunista, bem jovem, no lado direito

2 pensou em “MANÉ BANDÊRA

  1. O Bandeira a academia imortalizou. Este Bandêra a vida deu umas lapadas antes de abrir as portas da eternidade.
    Ambos foram para Pasárgadas, depois de lutarem contra seus moinhos de vento.
    Bela reportagem unindo o “mestre dos poetas” e o “mestre da enxada” e ambos deixando uma aula magna da vida!
    Um se chamava Manuel e o outro, carinhosamente Mané, escreveram suas linhas de poesias vivas.

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