CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Macaco-seco, apelido de Florisvaldo de Melo Rego

Em junho de 1986 publiquei um livro sobre a História do Banco do Brasil em Pernambuco, no qual fiz comentários sobre o Sistema Bancário que funcionava em nosso Estado, onde constaram comentários sobre todos os Bancos que se estabeleceram na cidade do Recife, naquela década, ampliando a matéria com notas a partir da instalação dos primeiros estabelecimentos bancários em nossa cidade.

A História registra, através da pena de Flávio Guerra, eminente historiador de Pernambuco, que em 1816, a Carta Régia de 16 de fevereiro, veio permitir ao Banco Real do Brasil – a primeira empresa do gênero no País – a abertura e uma Caixa de Descontos que depois passou a ser Caixa-filial em Pernambuco.

Em 1824 instalou-se na sede da Associação Comercial, no atual Marco Zero, uma Caixa Econômica, destinada a empréstimos e depósitos. O historiador Francisco Augusto Pereira da Costa comentou na sua coleção – “Anais Pernambucanos” – que na mesma época se instalou no Recife a “Companhia de Olinda”, para operar com desconto de Letras e Bilhetes de Alfândega. Em 1851 criou-se o Banco de Pernambuco, de fato o primeiro sob a denominação de Banco.

O êxito do meu livro – graças ao impulso do Diário de Pernambuco, que publicou uma página inteira em seu Caderno Viver – foi de tal medida que editei três edições. No ano seguinte à sua publicação, a Direção Geral do Banco do Brasil recebeu solicitação da Library of Congress Office Brazil – American Consulate General, informando que a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos tinha grande interesse na publicação.

E completava: “Apreciaríamos receber as obras que porventura tenham sido editadas sobre o mesmo tema, a fim de encaminhá-las à sede da Biblioteca, em Washington, D.C. – Lygia Maria Ballantyne – Fiel Director.”

O Autor havia imaginado um trabalho amplo sobre os Bancos de Pernambuco, sobre o qual se debruçou durante quase dois anos, sem, porém, imaginar que um tema restrito ao registro de tais instituições viesse a ter tão significativa repercussão, tudo graças ao cuidado com os registros da Ficha Catalográfica e do ISBN – International Standard Book Number, iniciativas que sempre recomendo a quem deseja publicar livros, pois torna as obras internacionalmente conhecidas.

Aproveitei, o referido compêndio, para fazer uma abordagem sociológica sobre a Instituição onde trabalhei até me aposentar, com referências especiais aos seus funcionários, incluindo minibiografias de alguns, que no exercício de outras atividades se sobressaíram na vida de nossa cidade. Dei certo relevo à parte pitoresca de nossa intimidade como colegas, durante os momentos de folga.

Longe da azáfama do expediente, sempre houve no seio do funcionalismo, alegria, camaradagem e bom humor, o que nos tornou uma unidade dinâmica. Colegas muito espirituosos “batizavam” os recém-empossados logo à sua chegada, havendo até uma simbólica “Comissão dos Apelidos”.

O sociólogo Mauro Mota, um dos acadêmicos do Recife, publicou interessante relação de apelidos – “Barão de Chocolate & Cia.” – onde enfoca a primeira publicação do gênero: “Alcunhas Famosas de Pernambuco”, de Júlio Pires Ferreira, editada pelo Anuário Pernambucano, de 1903.

Os apelidos foram as páginas que esquentaram a matéria do meu livro que foi reimpresso três vezes. Ainda hoje, decorrido mais de trinta anos, ainda recebo comentários sobre esta parte em que nossos nomes foram substituídos por apelidos que se notabilizaram. E assim, volto ao assunto apenas citando uma historieta a respeito.

MACACO-SECO – Ilustre e muito respeitado chefe da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial, ao aposentar-se, foi homenageado no próprio gabinete. Durante o agradecimento pela generosidade de seus colegas à sua despedida, fez pequeno discurso.

Florisvaldo de Melo Rego, porém, deu a bobeira de anunciar sua tristeza por não haver sido “agraciado” com um apelido, embora soubesse que era carinhosamente conhecido por: “Melo Rego”.

Os que estavam ao seu redor caíram na risada porque somente ele desconhecia que fora, há anos, “batizado” com o infernizante apelido de “Macaco-seco”, pois, era portador de corpo esguio e fisionomia cujas peles da face eram um pouco encolhidas, bem parecia com um símio ressecado.

Certo dia, para resolver galho grosso num contrato de financiamento, para o qual precisava de detalhamentos do parecer a fim de colocar seu jamegão, o saudoso Gerente da Agência Centro, Saul Ildefonso de Azevedo – que já adotara, na intimidade, uns poucos apelidos, para se referir a algum colega – me chamou e disse, sem perceber a “periculosidade” da frase:

– Por favor, Carlos Eduardo, peça a “Macaco-seco” para dar um “pulinho” até aqui.

2 pensou em “MACACO-SECO

  1. Prezado Carlos Eduardo,
    Gosto muito de ler seus artigos, porque além da qualidade ímpar dos mesmos, são da lavra de um ilustre colega. Também sou funcionário aposentado do BB. Quando recebi o comunicado de aprovação no concurso do banco, em 1964, meu padrasto disse: “Posso morrer tranquilo, você está com o futuro garantido”. No concurso daquele ano, uma multidão de nordestinos foi aprovada. Mas eram poucas as agências e muita gente não conseguiu nomeação imediata. O banco havia realizado um concurso em São Paulo para preencher vagas nos estados do Sul, porém o Banco do Estado de São Paulo, carente, também, de servidores, “roubou” os aprovados naquele estado no concurso do BB e assim “nosso” banco ofereceu aos excedentes nordestinos as vagas das agências nos Estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ninguém era obrigado a aceitar. Do meu concurso, em Maceió, muitos disseram sim. Em 1965 oito colegas viemos para a mesma cidade: Videira, situada no meio oeste catarinense. Outros foram espalhados em cidades pujantes dos três estados do Sul. Muitos voltaram, depois. Outros, como eu, ficaram, constituíram família e se radicaram no “sul-maravilha”, voltando ao Nordeste apenas para usufruírem as merecidas férias. Posso testemunhar, como você bem diz no seu artigo, que o ambiente de trabalho sempre foi de companheirismo e cordialidade. Como os trotes nos novatos. Mandá-los ao almoxarifado pegar a máquina de achar diferenças, procurar as capas redondas para arquivar as cartas-circulares, se preparar, com roupas adequadas, para levar o lucro da agência para a capital e assim por diante.
    Graças ao Cabaré do Berto, tenho a satisfação de vê-lo, nas quartas-feiras à noite.
    Um abraço fraternal. Bom fim de semana.

  2. Caríssimo irmão Hélio, (pelo vínculo da Família Satélite).

    Preciso – antes de tudo – que o caro colega me informe qual o grau de parentesco que tem com HÉLIO PAES FONTES.

    Essa criatura que conheci de perto e que citei seu nome num dos meus livros: O BANCO DO BRASIL NA HISTÓRIA DE PERNAMBUCO, editado em 1986, na p. 126.

    Logo em seguida comentarei sobre a gentileza de suas palavras sobre minha crônica.

    Se possível mande-me seu ZAP para que possamos estabelecer contato imediato antes que o Brasil vá pro brejo…

    Meu e-mail: santosce@hotmail.com.

    Aquele abraço dominical com a força de quem é parente, pois estamos ligados à histórica Família Satélite.

    Um abraço arretado do

    Carlos Eduardo

Deixe um comentário para Carlos Eduardo Carvalho dos Santos Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *