CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

De onde vem nossas ideias?

Outro dia assisti a um dos inúmeros vídeos de Olavo de Carvalho que circulam na internet. Nele o filósofo fazia uma crítica aos imbecis (palavra dele) que julgam ter ideias originais que não passam de novas roupagens de pensamentos formulados por filósofos séculos atrás. Dizia ele que o pensamento desses filósofos começa a circular no meio intelectual e depois permeia toda a sociedade, tornando-se algo natural na forma de pensar das pessoas. O imbecil, portanto recebeu de diversas fontes da sociedade fragmentos do pensamento original. Um belo dia ele junta todos esses fragmentos e elabora uma ideia que, para ele, é original, mas que na realidade fora concebida alguns séculos antes. O que irrita Olavo é que esses imbecis apresentam-se como grandes pensadores, apesar de serem apenas maquiladores de uma ideia antiga concebida por outros.
Sem dúvida Olavo tem razão. Vemos isto acontecer amiúde.

Este vídeo de Olavo levou-me a pensar sobre a influência dos meios de comunicação sobre as ideias econômicas que circulam na sociedade brasileira de hoje. Poucas pessoas percebem que suas opiniões não são originais, mas sim fruto de uma insidiosa campanha de mídia.

Hoje há um consenso na sociedade que toda imprensa “mainstream” (principalmente o grupo GLOBO) é mistificadora, doutrinadora, pró-banca e globalista. Essa ideia permeia tanto a esquerda quanto a direita: seja um petista de carteirinha seja um bolsonarista convicto, todos são unânimes neste diagnóstico: a imprensa é antinacional e não é confiável.

Este consenso foi sendo construído pouco a pouco graças a internet. Um cidadão qualquer abre o jornal e lê um artigo sobre um assunto sobre o qual conhece bem. Percebe então que o articulista foi equivocado, maldoso, superficial ou agiu de pura má-fé. Essa pessoa antigamente só poderia desabafar sua indignação para alguns poucos conhecidos de seu círculo de amizade. Era uma guerra desigual. Os jornais atingem centenas de milhares de pessoas, a televisão milhões e o pobre cidadão, quando muito, poderia falar com meia dúzia de amigos. Hoje tudo mudou. Com a internet, qualquer um faz uma postagem que, de retransmissão em retransmissão, pode rivalizar com a televisão mais popular.

Mesmo assim, os meios de comunicação tradicionais ainda gozam de uma certa credibilidade na sociedade. Principalmente aqueles que possuem bons articulistas capazes de explicar para o povão assuntos mais difíceis e complexos – tais como as teses econômicas. Muito embora a jornalista Miriam Leitão (do grupo GLOBO) tenha sido “desconvidada” de participar da Feira do Livro de Jaraguá do Sul (SC), creio que este “desconvite” tenha ocorrido mais em função de sua visceral oposição ao governo Bolsonaro do que por causa de suas opiniões econômicas pró-banca.

Essa mídia, que o economista Marcos Coimbra (do jornal Monitor Mercantil) rotulou, com muita propriedade, de “mídia amestrada”, sempre defendeu o capitalismo especulativo em detrimento do capitalismo produtivo. Mas não pensem que isso acontece só no Brasil: em todo o mundo ocidental a mídia é dominada pela banca.

O problema é que não temos no país ninguém que se contraponha a essa influência nefasta. Nossos políticos, coitadinhos, são umas toupeiras. Os discursos no Congresso, sejam da situação ou da oposição, são simplesmente lastimáveis. E assim, somos todos bombardeados diuturnamente com fragmentos de opinião e com dados parciais ou distorcidos para que qualquer cidadão (não precisa ser um imbecil como disse Olavo) conclua aquilo que a banca deseja.

Estamos assistindo neste momento a destruição do BNDES, nosso banco de fomento criado por, nada mais nada menos, Roberto Campos, o maior pensador liberal que o país já teve. A banca nacional e internacional nunca engoliu o BNDES e agora, com a ação orquestrada da mídia e Paulo Guedes no poder, ele será desidratado e transformado em um banco comercial comum.

As desculpas para isso são ridículas, mas por não haver uma contestação sólida, acabam sendo aceitas pela maioria da população. Os argumentos são: “É uma caixa preta”, “Favorece a corrupção”, “Empresta a juros muito baixos”, “Usa o dinheiro dos pobres para emprestar para os ricos”, “Só empresta para empresas grandes”.

Ora, todo país precisa de um banco de fomento para financiar sua infraestrutura. Por definição bancos de fomento só emprestam para o setor produtivo e a juros mais baixos que bancos comuns. O BNDES é muito mais transparente em suas operações que qualquer outro banco nacional ou estrangeiro. Se não tivermos um banco de fomento o capital produtivo terá que se financiar no exterior, resultando em remessa de lucros para fora do país, além de estar sujeito a instabilidades políticas externas e a insegurança do câmbio. Um banco de fomento só financia empresas nacionais, mesmo quando os investimentos (uma obra, por exemplo) são feitos no exterior. Só emprestar para empresas pequenas, aumentará os riscos e diminuirá seu potencial de retorno. Nenhum desses contra-argumentos é apresentado na imprensa.

Uma das justificativas mais populares usados para extinguir o BNDES é que Lula e Dilma o utilizaram para criar empresas “campeãs nacionais”. Ora, essa política, em tese, não está errada. Seria muito bom se o país dispusesse de algumas empresas líderes mundias em suas atividades. O que estragou tudo foi a corrupção, a escolha de empresas baseada no critério de “amigo do rei” ou, pior, aquela que paga a melhor comissão. Precisamos acabar com o BNDES por causa disso? Uma faxina geral não seria suficiente?

E assim vemos nosso povo iludido aplaudir quando o BNDES devolve dinheiro ao Tesouro, e agora Bolsonaro posa de bonzinho permitindo saques do FGTS e do PIS/PASEP, fontes tradicionais de recursos do banco. A desculpa é incentivar o consumo. O que não é dito é que isto causará diminuição nos investimentos.

Não devemos nos iludir. Está em curso uma desindustrialização monstro no Brasil orquestrada pela banca e apoiada pela imprensa amestrada. Bolsonaro, um ex-nacionalista, apostou todas suas fichas em Paulo Guedes – um homem da banca. Ao contrário do “ôba-ôba” do mercado, o horizonte que vislumbro para a economia é negro. Preparem-se para a volta da esquerda em 2022.

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