CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Bóris Trindade sabe teatralizar os “causos” que conta

Na 2ª. Vara Federal, durante os preparativos para início de uma audiência, onde estive representando o Grupo Preserve, assessorando Dr. Bóris Trindade – velho colega de jornalismo no “Diário da Noite” e do Teatro de Amadores de Pernambuco – ouvi esta história incrível, que ficou nos anais do Fórum. O próprio Bóris, com seu estilo bem teatral, narrou o “causo”, que aqui faço minha interpretação literária.

Uma das novas varas criadas em Caruaru, se tornara conhecida como a “Vara Pequena”, face aos poucos processos que estavam nas suas estantes. O Juiz de Casamentos era o Dr. Belestrero Fagundes, que se tornaria conhecido nas rodas pornográficas como o “Juiz da Vara Pequena”. E o magistrado sabendo desses comentários tentava esquecer o que percebia.

Mariquinha era u’a moça, já meio avançada na idade. “Donzela juramentada”, assim conceituada por sua retidão sexual. Estava, explicitamente no caritó. Passara dos 40 e nada de casamento. Nunca havia visto um homem feito inteiramente nu.

O Prof. Hermenegildo, afrodescendente, recém-chegado de Angola, se estabelecera na cidade para ficar. Tinha notícias de que ali se promovia o melhor São João do Mundo. Aposentado, com bom pé de meia, iniciava seus planos para formar uma família, procurava casa para comprar e u’a moça donzela e de bom caráter para se casar.

Lapa de homem da porra, um metro e 80 de altura, preto retinto, homem bonito, atraia pela educação, faces bem delineadas, peitos estufados. Tudo nele era grande.

Conheceu Mariquinha. Olhares fulminantes. As etapas de namoro e noivado foram atropeladas. Casaram-se. O pai da noiva fizera uma festa e até alugara os aposentos numa das novas pousadas da cidade, para que a filha tivesse Lua de Mel no capricho.

Depois da festa a noiva foi levada para o “matadouro”. Estava certa de que naquele cenário tão deslumbrante veria voar pelos ares o tampão de sua virgindade por tantos anos selada, esperando uma “vara”. Depois de uma hora de vinhos e queijos, o que se viu foi um fato assombroso. A noiva saíra do quarto às tontas; correndo, pulou janela, vestida apenas de camisola. Desembandeirada, voltou pra casa dos pais.

Dois dias depois Mariquinha estava diante do Dr. Belestrero, com seu advogado, solicitando anulação do casamento. Contristado, o magistrado começou a perguntar:

– Mas, minha filha, por que você não namorou mais tempo com o tal senhor, para melhor conhece-lo?

– Não dava, Seu Juiz! Com o caritó ninguém brinca! Eu já tenho mais de 40 anos e o homem tinha tudo que eu desejava, menos uma “vara” pequena.

– Menos o que, minha filha?…

– Vou contar tudinho, viu?!… Chegamos ao quarto, ele me ofereceu um “Porto”, vinho de safra que guardou desde os tempos em que lecionara em Coimbra. Depois procurou me mimosear com um queijinho suíço, um beijinho na face e pediu-me para ir ao banho.

Indagada, na véspera, como seria uma Lua de Mel com “Foda Platônica” – conforme lhe havia prometido o noivo – a mãe de Mariquinha havia feito uma breve recomendação, após consultar algumas amigas: Minha filha, escove bem os dentes, passe bem graxa no furico e seja lá o que Deus quiser.

E continua Mariquinha falando ao Juiz.

– O negão voltou da chuveirada enrolado na toalha, cheiroso que só rapariga de feira. Era todo charmoso, delicadíssimo. Um encanto de crioulo. Notei, porém, um primeiro detalhe. Ele tinha um tique nervoso. Coçava-se dando umas unhadas nos peitos; uma espécie de coceira de macaco; umas unhadas bem rápidas. Uma coisa estranha, mas isto não foi o motivo para este pedido de anulação de casamento. Fui tomar meu banho. Aproveitei para me perfumar bem, sobremodo a “perseguida”, os sovacos, e ainda empurrei um supositório de vaselina no orifício anal, para me prevenir de alguma ”introdução alternativa”, já que a foda era “Platônica”. Quando abri a porta do banheiro o que vi foi uma cena pavorosa: o negão deitado, inteiramente nu. Do centro de suas pernas não se via um membro masculino, uma rolinha de nada, e sim aquele molho de ferro em brasa. Um verdadeiro tronco de jacarandá, com a cabeça mais vermelha do que um cu de girafa. E me disse em tom verdadeiramente romântico:

– Venha, querida; venha se enfiar na minha pombinha!…

– O senhor iria, Seu Juiz?

– Iria não, Mariquinha. Deus me livre!

2 pensou em “JUIZ DE VARA PEQUENA

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