ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Eu não tenho a pretensão, muito menos a ousadia, de servir de cavalo de terreiro para o espírito de Zola montar em minha carcunda e ser “santo” do dia, mas quero partir da mesma visão que ele teve, ao defender o capitão Dreyfuss diante da injustiça militar ao qual foi submetido. Mas, no caso do capitão, havia em desfavor dele, o fato de ser judeu e alsaciano. Para o brasileiro cumpridor da lei, há, o fato de ser, meramente, cumpridor das leis brasileiras.

Hoje, 29 de junho, dia de São Pedro e São Paulo, eu acuso os membros do supremo tribunal federal – assim mesmo em letras minúsculas, pois aqueles senhores apequenaram aquela casa, envergonharam grandes juristas que ali passaram e cravaram uma faca no coração da decência e da legalidade -, de pisotear a Constituição de 1988, buscando, cada um, ter uma constituição particular que interpreta de acordo com suas conveniências e amizades, violando o fundamento de que “TODOS” são iguais perante a lei, transformando uns em mais iguais do que outros.

Eu acuso o supremo tribunal federal de se arrogar mandos imperiais e ditatoriais, violando o princípio de que ninguém é culpado até prova em contrário, abusando de suas prerrogativas, calcando às leis aos seus egos inflados e lançando vitupério àqueles que, bem, ou mal, em um barraco, ou em uma mansão, buscam cumprir a lei, pois veem nela o primado da civilização.

Eu acuso o supremo tribunal federal de, deliberadamente, provocar uma balbúrdia legal, uma bagunça jurídica e uma farra processual, em que é vítima, investigador, acusador e julgador em um mesmo processo, arrogando, quiçá, o papel de verdugo contra aqueles a quem considera seus inimigos. Nesse convescote circense, além de equilibrista, engolidor de espadas e apresentador, ainda quer ser a bailarina e o homem borracha, deixando à população boquiaberta, o papel de palhaço que os remunera regiamente para que eles solapem o Estado Democrático de Direito.

Eu acuso o supremo tribunal federal a utilizar-se de métodos heterodoxos, truculentos e violentos, e que, qualquer nação com apreço à democracia taxaria de ditatorial, a fim de calar aqueles que não concordam com seus métodos, divergem e criticam os mesmos, exigindo que os chamemos de “excelências”. Meus senhores. Excelência, substantivo, liga-se ao adjetivo excelente, coisa que os senhores não os são, e sabem disso, pois buscam esconder o asco que sentem do povo brasileiro, daqueles mesmos que pagam os altos e nababescos salários, no palavreado de pavão, cheio de citações em línguas estrangeiras e mortas. Os senhores são como as citações que usam: estrangeiros para os brasileiros e mortos em suas próprias arrogâncias.

Eu acuso o supremo tribunal federal de arrogar para si poderes que a Constituição não lhes dá, mas que o conluio com o poder legislativo permite e nutre, na troca de favores e de informações, escoiceando a deusa Dice, que, envergonhada não apenas ficou cega, mas também com suas vergonhas à mostra e sua intimidade rifada na Praça dos Três Poderes. Venderam-se-lhe a balança e penhoraram sua espada, rasgaram a sua roupa e, tais quais aqueles centuriões que lançaram sorte sobre a capa do Salvador, também lançam sorte sobre as vestes daquela dama pudenda, para saber quem irá ficar com o maior butim.

Eu acuso o supremo tribunal federal de ir contra tudo o que esse vetusto prédio representa, contra todos aqueles luminares do direito que por essa casa passaram e defenderam a Constituição. Hoje vocês – isso mesmo, tratá-los por Vossas Excelências é gastar pronome de tratamento belo demais com gente que de excelente nada tem – envergonham nomes como Luís Galloti, José Francisco Rezek, Celio Borja, Nelson Hungria, Sidney Sanchez, Mauricio Correa, Neri da Silveira, entre outros. Arvoram-se o direito de defender a Constituição e, ao arrepio dessa mesma constituição prendem jornalistas, solapam o direito à livre expressão e nos manda calar a boca. Digo e repito: Cala a boca já morreu!.

Eu acuso o supremo tribunal federal de violar a vontade do povo brasileiro, usurpando o direito de serem governados por aquele que foi legitimamente eleito e empossado, dentro da legalidade da civilidade, porém, despojado de seu poder por quem nem um voto teve, a não ser a indicação de alguém cujos interesses estão para serem protegidos naquela corte.

Eu acuso o supremo tribunal federal de julgar segundo o bolso e a conta bancária de quem está sendo julgado, negando ao pobre o mínimo direito de ter proteção do estado e dando a ladrões contumazes e corruptos incorrigíveis a sentença da eterna impunidade. Este fato mais dolorido, pois é do suor daquele que chega, todo o dia em casa, fedendo, faminto e sedento, que sai a maior parte dos impostos que são usados para que vocês se locupletem com lagostas, vinhos caros, jantares nababescos. Daqueles pobres diabos que, muitas vezes, mal conseguem colocar um pedaço de pão seco, com um pouco de café ralo sobre a mesa, para os filhos poderem matar a fome, sai o dinheiro que garante à pequenez de vocês, o carro com motorista, a viagem de primeira classe e a hospedagem em hotel cinco estrelas.

Eu acuso o supremo tribunal federal de ser, na atualidade, o maior risco que a nação brasileira tem para se colocar em pé, orgulhosa de si, de sua criatividade e de seu trabalho. Esta nação que pode muito, porém, é colocada de joelhos, por um supremo que se tornou supremo de si mesmo, encastelando nulidades e delinquentes jurídicos que pouco estão ligando para o país, mas tudo estão fazendo para esculhambar a nação e colocar em prática seu nefasto projeto para 2022: inocentar o corrupto triplamente condenado, para que ele possa disputar as eleições, na vã esperança de que vai ganhá-la.

Eu acuso, e continuarei acusando, sem medo de ir preso, ou de ser processado, pois, quando se tem leis injustas e juízes torpes, só resta ao povo se levantar contra esses juízes e contra essas leis. Eu acuso…. faço a minha parte, e deixo como alerta a esses onze togados que usurparam o poder no Brasil: lembrem-se do 14 de julho. Jamais esqueçam o 14 de julho.

21 pensou em “J’ACCUSE

    • Ah, meu caro Maurício.

      Bota lista extensa nisso…. o que vemos, sabemos e ouvimos, é apenas a ponta de um iceberg sujo e fedorento.

    • Erro não ……..!!!

      Eles não sabem ler

      OU

      é pura má fé e proteção a criminosos, alguns já julgados e condenados ………

      OU

      O ódio pelos brasileiros terem votado em Bolsonaro está cegando-os completamente, torrando seus dois neurônios.

      É um tanto de absurdo que nem vale a pena comentar mais …….

      Aguardar o COVID ficar relativamente sob controle e ir às ruas com ENDEREÇO certo ……

      14 de julho está aí …. poderia ser novamente uma data histórica ………

  1. Caramba, Roque!

    Eu pensei umas dez vezes escrever um artigo utilizando como mote o libelo de Zola.

    Graças a Deus eu não escrevi.

    Seu texto está simplesmente MAGNÍFICO. Deverá se tornar tão icônico quanto o irmão gêmeo francês.

    Grande abraço, parabéns e muito obrigado por compartilhar conosco o seu brilhantismo e indignação.

    • 13 de janeiro de 1898. L’Aurore, um jornal lançado recentemente em Paris – havia sido inaugurado quatro meses antes, em setembro de 1897 −, estampa em sua primeira página um artigo que entraria para a história. A simples leitura do título, “Eu Acuso…!” (“J’accuse…!”), já era indicativa da imensa polêmica que o texto provocaria. E era exatamente esta a intenção do autor, o já célebre escritor Émile Zola.

      30 de junho de 2020. Jornal da Besta Fubana, um jornal lançado por Berto – havia sido inaugurado quando Judas perdeu as botas -, estampa em sua primeira página um artigo que entraria para a história. A simples leitura do título, “Eu Acuso…!” (“J’accuse…!”), já era indicativa da imensa polêmica que o texto provocaria. E era exatamente esta a intenção do autor, o já célebre escritor fubânico Roque Nunes.

      Se invejosos forem, estarão neste exato instante, morrendo de inveja outro Nunes, o Augusto e seus amigos de textos grandiosos, gente da categoria de JRGuzzo, Percival Puggina. Guilherme Fiúza e Rodrigo Constantino.

      Tá faltando texto de Constantino e Fiúza neste gazeta, señor Berto. Pode providenciar a contratação que os caras são bons de escrita. É só diminuir o salário do Goiano que ainda dá para, além de contratar os ciados, aumentar o salário do pobre Sancho.

      ¿Qué nos enseña esta historia? Muchas cosas, de las que me quedo con dos:
      1.”El tiempo va colocando a cada uno en su lugar”;
      2. O Roque é phodda!!!!

      A inveja é uma merda, mas comentário de Sancho é muito mais, é um penico transbordando…

  2. E pena que o articulista tenha esquecido de incluir o Ministro Saulo Ramos na lista dos notáveis cuja memória está sendo aviltada de forma tão rasteira pelo atual supremo, pois este, tomando por modelo esse velho gagá que marcha em acelerado para o esquecimento da história, bem traçou o perfil de quantos ali militam nos dias de hoje.
    Não há dúvidas de que a carapuça com que o jurista Saulo Ramos ornou o celsinho cabe na cabeça de todos os demais!!!

    • Meu caro Arael.

      Às vezes a memória falha e a gente esquece de luminares que orgulham a todos os brasileiros, mas vai aqui minha correção ao GRANDE SAULO RAMOS e sua oceânica sabença jurídica no antigo STF.

  3. Texto primoroso Roque Nunes, você falou tudo o nós brasileiros pensamos sobre o atual momento deste stf. Estamos com você. Assinado. POVO BRASILEIRO DO BEM! Sim, por incrível que possa parecer, “eles” tem defensores!

  4. Bom dia,
    No meu entender são duas as tarefas que o STF se propôs e tem que ser concluídas antes do fim do ano.A primeira é não deixar o Bolsonaro indicar o novo ministro em novembro. Isto mudaria muito a corrente atual. A segunda é não deixar Bolsonaro entrar no segundo ano de mandato porque tirando ele depois deste prazo entra Mourão. E isto está longe de satisfazer lhes os planos.

  5. Um dos melhores , se não for o melhor texto que li. Deveria estar em toda a imprensa decente. Assino em baixo . Tudo o que queremos é um país justo trabalhador e ordeiro.

  6. Meu caro professor Roque Nunes,Deus lhe deu a capacidade de transformar em belíssimo texto, o cálice de fel que a nação brasileira está sendo obrigada sorver. Homens sem votos, se dão o desplante assumir o timão do barco,usando o método do medo e da censura.. Por participar de sua “emputiferada” zanga, peço sua permissão para compartilhar com a patota do face .

    • Caro Paulo.

      Seguindo a máxima do Papa Berto, primeiro e único, a nossa missão é abestalhar esta nação, então, sirva-se à vontade, sempre lembrando de deixar os créditos para esta nossa gazeta escrota. Chupicleide, Polodoro e Xolinha precisam desse apoio para conseguirem saldar as contas mensais.

  7. No Tribunal de Nuremberg adonisiano, esse texto deveria compor a leitura de sentença dos onze urubus que se acham mitológicos grifos.

    Inclusive, não sei se é coincidência, mas no texto foram dez acusações (enquanto temos onze “insolências”).

    A “ônzima” acusação fica a critério de quem? Do povo?

  8. Nikolai….

    Eu deixei a ônzima para que todos nós, nos lembremos do 14 de julho…. jamais nos esqueçamos do 14 de julho de …1789….é obrigação do povo se revoltar e se levantar contra leis injustas e juízes poltrões, ditatoriais e com ares de reis… só se for de Traques

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