A PALAVRA DO EDITOR

Quando se fala em crise, o mundo estremece. O medo apavora a humanidade, os investidores ficam de cabelo em pé, os empresários tremem nas bases, as pessoas pisam no chão, cabreiras, temendo ser engolindo por crateras. Preocupados, os especialistas receiam não encontrar fórmula capaz de impedir o baque econômico. No rabo da crise, viaja o rebuliço, o tumulto e os distúrbios generalizados.

O que não falta no planeta são crises. Algumas contornáveis, outras, no entanto, rabugentas. Cheias de tentáculos perniciosos, como o coronavírus. Afoito que só a bexiga lixa, esta pandemia não deixa ninguém à vontade para se livrar dela. Aí, quem dormir no ponto, for descuidado, dança. Vai pro buraco escuro, debaixo de sete palmos. Lamentavelmente, milhares de vítimas, desprevenidas, vieram a óbito. O tuim é que as mortes não param. Aumentam diariamente no Brasil.

De 1929 pra cá, a atenção mundial tem se concentrado na busca de soluções para vencer as crises. Fato que vem se repetindo a cada período, não importa o endereço. Então, esporadicamente, o Grupo dos 20 se reúne em algum lugar para tentar solucionar perturbações econômicos/financeiras.

A competência do Grupo dos 20, agrupamento constituído pelas 19 maiores economias do globo terrestre, mais a participação da União Europeia, é enorme. Os ministros de finanças e chefias dos bancos centrais dos países membros, se reúnem para ordenar e empreender políticas voltadas para a arrumação das encrencas que estejam perturbando a ordem do mercado mundial.

Crise é o que não falta na história mundial. Tem de todo tamanho. Para batizar a entrada da década 90, estouraram crises no México, na Rússia e nos Tigres Asiáticos. O início da crise surgiu depois da fuga do capital estrangeiro. Como gera o sintoma do efeito dominó, foram pro espaço, o desaparecimento do crédito, a queda da produção, do consumo e consequentemente do comércio. Estes foram os primeiros sinais negativos da globalização.

No final de 1994, o México, que detinha o chavão de ser uma referência dentro do sistema financeiro internacional, de repente, foi abalado pelos efeitos da crise política e dos desequilíbrios econômicos. Uma das causas foi a adoção das reformas neoliberais. No campo político, o assassinato do candidato presidencial Luis Coloslo mexeu nas bases. No lado econômico, o descontrole na balança de pagamentos, a especulação financeira e a fuga de capitais foi o estopim para o estouro da bolha mexicana.

O impacto da crise mexicana foi tão violento que arrastou para a quebradeira um porrilhão de indústrias, desvalorizou o peso mexicano, forçou o governo a emitir títulos públicos com valor engatado ao dólar, que provocou sérios abalos nas reservas cambiais. O caso foi tão grave que a crise ficou conhecida como o Efeito Tequila.

A saída foi recorrer aos préstimos dos Estado Unidos e do Fundo Monetário Internacional (FMI) que emprestou de imediato US$ 50 bilhões. A dor de cabeça para o México foi liquidar esta alta dívida externa.

Em 2008, a crise financeira internacional desclassificou o modelo de política econômica internacional. A repercussão passou dos limites dos Estados Unidos e baixou na União Europeia. O impacto foi tão brado que afetou a Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha.

Em 2019, estava desenhado o mapa de nova crise global. Na reunião de Davos, na Suíça, onde foi realizado o Fórum Econômico Mundial, o FMI alertou sobre a possibilidade da taxa de crescimento global cair de 3,7% para 3,5% e de 3,7% para 3,6% em 2020.

A previsão desagradou a liderança política presente ao Fórum. A possiblidade de explodir nova recessão global é viável, diante da mudança de comportamento da economia mundial.

Na visão do FMI, depois de dois anos de expansão, a economia mundial reduziu a taxa de crescimento, que agora anda devagar. Então, pode não ser segredo o ataque de novos riscos emborcar o avanço global.

Pelo menos, uma coisa é certa. O desequilíbrio econômico ocorre isoladamente em alguns setores. Todavia, o grau de intensidade, depende da flutuação de expansão ou de contração, que move a atividade econômica.

O exemplo da Grande Depressão que rolou no ano de 1929 ainda não caiu no esquecimento. Os efeitos foram doloridos. A Grande Depressão deu uma enorme chicotada no capitalismo internacional. A superprodução e a especulação financeira derrubaram o liberalismo econômico. A quebra da Bolsa de Nova Iorque apagou a falsa prosperidade da economia americana, cujo reflexo imediato foi o estouro da taxa de desemprego e queda de consumo.

No Brasil, as consequências da quarentena serão assustadoras. A paralização da atividade econômica tem profundos reflexos. É cruel, tanto para empresários, como para empregados. As novidades são consequentes. Fechamento de unidades produtivas, aumento do desemprego, queda do PIB, da arrecadação de impostos e da renda. Majoração de preços, prejuízos, desespero social e mais violência. Para o poder público, monstruosa elevação de gastos na saúde. A insatisfação é geral.

17 pensou em “INSTABILIDADES

  1. Contribuição valiosa para o entendimento dessas conjunturas que vivenciamos nesses períodos citados em seu primoroso artigo. Uma excelente análise, histórica, culminando na incógnita desse cenário pandêmico que por ora combatemos. Parabéns Berto.

  2. Caro Luis Carlos consciente ponto de vista sobre a conjuntura brasileira. Belo pronunciamento. Colaborou com o meu texto. Obrigado.

  3. Peço- lhes desculpas pelo mal entendido. Ative-me apenas ao: por Luís Berto. Mais uma vez rogo perdão a cada um dos senhores pelo meu engano. Tenham um excelente Domingo.

  4. Senhor Carlos Ivan. Um pedido de desculpas dessa vez direcionado diretamente ao senhor. Tenho certeza que entendeu minha confusão. Sinto-me honrado e privilegiado de ter seu retorno sobre o pequeno comentário que fiz. Muito obrigado. Meus sinceros cumprimentos.

  5. Carlos, cuidado para não cair no conto dos estatistas. A repetição de frases feitas é tão grande que a gente nem percebe e quando vê está acreditando nelas.

    Quem acabou com o liberalismo econômico em 1929 foi o governo. Crise de superprodução não existe, é só um chavão socialista para assustar criancinha, igual a bicho-papão.

    Para esta turma, tudo que acontece de errado no mundo é culpa da “falta de regulamentação”. O que eles querem mesmo é mandar em todo mundo.

  6. Quem nunca teve medo do bicho-papão? Sou de uma geração onde os “mais velhos” de minha “provinciana” Desengano (ser provinciano não é um problema de origem, é uma forma de ver o mundo. ), afirmavam com total convicção que comunista comia criancinha. De onde tiraram tal convicção?… O tempo cumprindo sua missão, passou sem se importar com a “fome” de ninguém… E lá vai nosso mundinho, sempre dançando funk à borda do abismo, repleto de chavões socialistas (repetidos às exaustão em certos cursos universitários), assustando até gente bem crescidinha, pior que bicho-papão. Será que os atuais “mais velhos” de minha saudosa Desengano ainda fantasiam sobre os vermelhos?

    • Sancho, segundo alguns, no Holomodor ucraniano pessoas comeram criancinhas para não morrer de fome como elas. Mas os ucranianos não eram adeptas do comunismo, e sim vítimas dele.

      • Ainda sobre o assunto:

        Em 1968, um membro da Guarda Vermelha de Mao, de 18 anos, chamado Wei Jingsheng, encontrou refúgio em uma família de um vilarejo em Anhui, e ali ele viveu para escrever o que ele viu:

        Caminhávamos juntos ao longo do vilarejo. . . Diante de meus olhos, entre as ervas daninhas, surgiu uma das cenas que já haviam me contado: um dos banquetes no qual as famílias trocam suas crianças para poder comê-las. Eu podia vislumbrar claramente a angústia nos rostos das famílias enquanto elas mastigavam a carne dos filhos dos amigos. As crianças que estavam caçando borboletas em um campo próximo pareciam ser a reencarnação das crianças devoradas por seus pais. O que fez com que aquelas pessoas tivessem de engolir aquela carne humana, entre lágrimas e aflições — carne essa que elas jamais se imaginaram provando, mesmo em seus piores pesadelos?

        O autor dessa passagem foi preso como traidor, mas seu status o protegeu da morte, e ele foi finalmente solto em 1997.

        Fonte: mises.org.br

        • Caros Marcelo e Sancho Pança confesso que gostei dessa troca de ideias sobre o bicho papão. O debate revela que a dupla gosta de ler e ter suas próprias conclusões sobre os mais variados temas. Isso é bom, engrandece o JBF. Obrigadão procês. Felicidades.

  7. O setor público como sempre atrapalhando o setor privado. O setor privado tenta de todas as formas retornar a produzir e prestar serviços de todos os tipos, pois somente assim, recolherá os IMPOSTOS que sustentarão e farão sobreviver o setor público. Mas, o que parece é que o setor público não se sente incomodado. E pior, estamos vendo que mesmo depois do Mensalão, Petrolão e da Lava Jato, começam a aparecer superfaturamentos nos investimentos na saúde, por conta da pandemia. Até quando o setor privado aguentará sustentar o setor público?

    • Caro DECO, boa pergunta. Acho que, enquanto o poder público permanecer agigantado, quer mandar nas coisas, mesmo sabendo que não entende muito dos assuntos que é de competência exclusiva do setor privado. Isto é produto do egoismo e da vaidade política que só fazem atrapalhar o bom andamento de bons projetos construtores.

      • Só para lembrar, os EUA têm 4 mil funcionários em cargos de confiança, o Reino Unido tem 300 e a Alemanha 500. No brasil são cerca de 22,5 mil, sendo que no final do ano de 2017 o Banco Mundial divulgou um detalhado relatório sobre o setor público brasileiro. Eis alguns detalhes:
        Dos 53 países pesquisados, o Brasil, tem a maior diferença entre o salário de um funcionário público federal e de um da iniciativa privada
        Os servidores públicos federais ganham no Brasil 67% a mais do que um empregado no setor privado em função semelhante, com a mesma formação e experiência profissional.
        No resto do mundo, o setor público paga em média “apenas” 16% a mais que o setor privado. Os servidores públicos são comparativamente ricos no Brasil: 54% encontram-se no grupo dos 20% mais ricos, e 77% estão entre os 40% mais ricos.

  8. Caro DECO vc disse tudo o que o brasileiro não se toca, embora os exemplos estejam bem no meio da cara de todos nós. O Brasil é um país feito pelo avesso. Anda sempre ao contrario de todos, numa vergonhosa contra mão. A comparação no quadro de funcionários públicos é vergonhosa..Pena que o nosso cidadão não quer saber da verdade e nem exigir providências pra ver se este país dá, pelo menos, um passo certo na vida. Permaneça nos brindando com as verdades. Precisamos delas, sim.

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