A PALAVRA DO EDITOR

Vez por outra o meu nível irritacional se situa acima da normalidade. Alguns fatores tornaram-se provocadores por derradeiro. Um deles, o blá-blá-blá melosamente academicista de políticos em algumas falas à Nação Brasileira, como se todos nós fôssemos uns ouvintes atoleimados, crentes na existência de Papai Noel, Perna Cabeluda e Comadre Fulosinha.

Outro eficaz estopim é a “inocência” que algumas personalidades nordestinas transmitem em seus pronunciamentos, posando de eternas desligadas, desconhecendo causas e efeitos, desmoralizando até os seus próprios neurônios, numerosos, embora cínicos. Com a maior cara-de-pau, aqueles “nenéns políticos” continuam imaginando que a culpa das nossas desditas socioeconômicas e culturais é da seca, da mistura das raças, da vontade do Criador, da pouca assistência que nos é dada pelo empresariado e mil outras desculpas babaquaras. A falta de roxidão colhuda, um fator sempre olvidado, inclusive na COVID-19.

Diante das últimas sandices, multiplicadas às vésperas das manifestações eleitorais, recordo-me de um chamamento feito, há muitos anos, pelo Souza Barros, ex-Secretário Geral da ASCOFAM – Associação Mundial de Luta Contra a Fome, pernambucano, sociólogo e economista: “O Norte e o Nordeste não poderão continuar numa situação de completo alheamento dos seus problemas, pois essa atitude corresponde, politicamente, a uma espécie de menoridade. Não basta, porém, que se coloque o problema do ponto de vista de uma ação lamento, de um constante clamor contras as causas climatéricas, as causas físicas”.

A irritação também se avulta quando constatamos, Brasil afora, um festival de eventos on line técnico-tabacudos, a arregimentar lesos, semi-lesos, idiotas e amalucados, abilolados todos. Um deles, vez por outra anunciados como a quinta-maravilha do Cosmos, foi devidamente denunciado pelo médico Nelson Spritzer, MSc em cardiologia e PhD em nefrologia, detentor da máxima graduação em PNL-Programação Neurolinguística (Trainer): “Infelizmente, a PNL, como toda a tecnologia poderosa, tem atraído ‘aventureiros’ que, após cursos de um fim de semana se julgam aptos a transformarem-se nos mais novos arautos das boas vindas”. O Dr. Nelson Spritzer, inclusive, ratifica denúncia do insuspeito Dr. Richard Bandler, um dos criadores da PNL: “Uma das coisas mais sórdidas que fizeram com a PNL foi mistificá-la e complicá-la a tal ponto que só iniciados ou privilegiados intelectuais possam praticá-la corretamente”.

Acredito que uma das vacinas mais utilizadas no combate às inocências dinossáuricas é a compreensão sólida da reflexão do saudoso economista Celso Furtado, um dos nossos cientistas sociais mais lúcidos: “Não podemos fugir à evidência de que a sobrevivência humana depende do rumo de nossa civilização, primeira a dotar-se dos meios de autodestruição. Que possamos encarar esse desafio, sem nos cegarmos, é indicação de que ainda não fomos privados dos meios de sobrevivência. Mas não podemos desconhecer que é imensa a responsabilidade dos homens chamados a tomar certas decisões políticas no futuro. E somente a cidadania consciente da universalidade dos valores que unem os homens livres pode garantir a justeza das decisões políticas”.

Que nunca tenhamos vergonha de Pernambuco, berço da nacionalidade brasileira, posto que de Guararapes agigantou-se a vontade de nunca se dobrar, apesar dos homens da força. E dos tecnocratas do Planalto.

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