A PALAVRA DO EDITOR

Ser cidadão é cumprir deveres perante a nação e a sociedade. Usufruir de direitos garantidos pela legislação. Ser consciente dos atos praticados. Não exercer atividades com negligência. Evitar deslizes. Não enganar e nem prejudicar os outros.

Por isso é obrigação do cidadão escolher pelo voto os seus parlamentares e governos que sejam capazes de trabalhar com honestidade. Viver dentro da lei, respeitar o próximo e a natureza, passar adiante os conhecimentos. Zelar pelo patrimônio público é o mínimo que a sociedade espera das autoridades.

Independente de posição ou cargo, é dever do cidadão cumprir as obrigações determinadas por lei. No entanto, o que mais as autoridades cometem é o descumprimento de seus deveres.

No Brasil, país da impunidade, as regras do direito e das obrigações são constantemente desrespeitadas. Tanto pela sociedade, quanto pelos gestores. Por sinal, os gestores são os primeiros a descumprir as suas obrigações. Justamente por causa da omissão dos governantes, o país toma na jaca e fica por isso mesmo. Ninguém é responsabilizado pelo desleixo, descaso e incompetência. Teve gestor incompetente que passou oito anos no cargo, mas, usando de estratégia política, acabou eleito na última eleição.

Para constatar a realidade, basta dar uma voltinha por aí para encontrar 14 mil obras paradas. O custo da paralização das promessas é monstruoso. Soma mais de R$ 10 bilhões aos cofres da União, jogados no lixo, conforme levantamento de 2018.

O Tribunal de Contas da União (TCU) passou a régua e anotou em recente verificação verdadeiras anomalias. De 39 mil obras iniciadas, da competência de governos, federal, estadual e municipal, 14.403 encontram-se paradas ou inacabadas. Causando enormes prejuízos ao país.

Dentre as obras prometidas e deixadas de lado, existem escolas, creches, postos de saúde, edifícios administrativos, instalações esportivas, rodovias, ferrovias, portos e usinas. A Usina Termonuclear de Angra 3, que já consumiu mais de R$ 6 bilhões da Nação, parou no tempo e no espaço, desde 2015.

Na lista de paralização consta também o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que desde 2015, desperdiçou mais de R$ 12 bilhões. A ampliação do quebra-mar do Porto de Salvador, na Bahia, que, apesar de ter gasto R$ 3 milhões, foi abandonado em 2017 e ninguém sabe o motivo do abandono. Até trechos das ferrovias Norte-Sul e de Integração Leste-Oeste foram esquecidos. O esquecimento vigora desde 2017 e 2018. Apesar de ter custado bom dinheiro do povo.

Boa parte das obras deixadas ao relento, fazem parte do PAC-Programa de Aceleração de Crescimento, instituído no ano de 2007. O PAC tinha boas intensões. Pretendia investir cerca de R$ 503 bilhões em infraestrutura, em áreas de habitação, saneamento, transporte urbano, aeroportos, energia e em recursos hídricos, num espaço de quatro anos.

Além disso, o PAC procurava estimular o investimento privado, forçar o investimento público e aprimorar a política fiscal. Todavia, por falta de acompanhamento e responsabilidade política, o PAC melou. Com razão.

Das dez maiores obras do PAC, somente duas foram concluídas, após nove anos de atividade. Do resto, algumas foram canceladas, outras permaneceram inacabadas e posteriormente abandonadas no meio da estrada. Durante esse tempo todo, se deterioram, peças enferrujam, trechos de barro desaparecem automaticamente. Por falta de compromisso social com o país.

A Refinaria Premium 1, no Maranhão, é outro exemplo. Com projetos de investimentos de R$ 41 bilhões, por ter sido abandonada na metade da construção, causou um baita prejuízo à Petrobrás, no valor de R$ 2,1 bilhões.

No Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, somente metade das moradias prometidas foram concluídas e entregues à população. Por causa dos constantes tiroteios na famosa favela, até o periférico deixa de funcionar, vez por outra. Por medida de segurança.

Está claro que dois temas são de fato de real interesse da sociedade brasileira. Democracia e cidadania. A Democracia é o regime ordenado pelo povo. Segundo a Constituição, ao pé da letra, a democracia representa a liberdade de direitos e a igualdade social. No entanto, a contaminação política tem violado os direitos constitucionais brasileiros.

O mal do país é esquecer que a autoridade, em qualquer cargo ou posição, tem de prestar contas ao povo de seus atos. É dever constitucional. Todavia, como não é cobrada, as anomalias se avolumam. Os prejuízos crescem. A insatisfação aumenta. O irresponsável que iniciou a obra não é punido, se não presta conta e o povo, abestado, aceita a irresponsabilidade.

Um fato é claro. O que está em jogo no ato de governar, no Brasil, é somente a armação de palanque eleitoral. O engodo. Gravar na memória do indivíduo o nome do político como verdadeiro líder para garantir votos no futuro. Qualidade que muitos gestores não possuem.

Por conta disso, o Brasil está infestado de políticos sacanas que não fazem outra coisa, senão exigir respeito, enquanto, descaradamente, desrespeita a ética e a sinceridade do cidadão que um dia acreditou na hombridade do falso político.

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