MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

Se tem uma coisa que o brasileiro odeia, é a afirmação “todos são iguais perante a lei”. Ver esta idéia ser colocada em prática, então, traz um sofrimento só comparável a ver seu time perder com um gol impedido aos quarenta e sete do segundo tempo.

Para o brasileiro, a sociedade tem que ser organizada em camadas, como um bolo. Lá em cima, os ricos e famosos. Lá embaixo, pobres e putas. A grande maioria fica no meio, e está sempre tentando um jeitinho para chegar perto do andar de cima e se afastar do andar de baixo.

Todos sabem que os políticos ganham apartamento de graça, auxílio-moradia, auxílio-paletó, auxílio-escola-pros-filhos, auxílio-passagem-de-avião, auxílio-gasolina para os carros que ele também ganha de graça, com motorista incluído, e mais um monte de penduricalhos. Muitos funcionários do governo também.

Alguém acredita que se nossa sociedade fosse, DE VERDADE, contra isso, já não teria acabado? Mas quem é louco de querer que acabe, e sepultar a esperança de um dia conseguir uma boquinha dessas para si mesmo ou para um parente? Quantos brasileiros seriam contra, de verdade, se seu filho anunciasse que arranjou um emprego de assessor para ganhar muito sem fazer nada?

Uma coisa em que nós somos bons, é achar culpados. São os outros, sempre. Sempre tem um grupo que serve de bode expiatório. Um grupo que tem que pagar os pecados dos outros. E se alguém ousar sugerir que o restante de nós talvez tenha uma parcela de culpa, apanha.

Poderia continuar; poderia falar de quem acha que placa de “proibido estacionar” só vale para os outros; de quem acha que a calçada das outras casas é via pública mas a sua é garagem particular; de quem diz que a justiça é horrível mas não se constrange em empurrar seu processo à custa de recursos fajutos; de quem reclama de jeitinhos mas tem sempre à mão o telefone daquele amigo que trabalha no gabinete do deputado.

Nossa sociedade é hierárquica, não acredita na igualdade, valoriza o status e o privilégio. Isso é uma questão cultural, de raízes profundas, e coisas assim não se modificam em pouco tempo (exceto, às vezes, em situações extremas, como uma guerra). E qualquer tentativa de “mudar o país” sem levar em conta esta realidade, estará condenada ao fracasso.

9 pensou em “IGUALDADE

  1. Caro Marcelo, ao expor estas narrativas preconceituosas sobre o povo brasileiro, v. dá voz à uma ala ideológica que não deseja que as coisas mudem, que o pais permaneça no atraso.

    O Brasil tem uma formação multicultural e isso é bom em muitos aspectos da nossa formação.

    É um país acolhedor, recebeu e ainda recebe refugiados da Europa, Ásia, África, ou seja, de todos os cantos do mundo.

    O brasileiro faz amizade mais facilmente que os demais.

    Brasileiro é empreendedor e sempre encontra uma forma de sair de situações difíceis (o jeitinho brasileiro visto da forma positiva).

    Nós não temos preconceitos. Aqui no país nunca houve segregação racial do modo como houve nos EUA. Existe preconceito? Sim, porém, ao contrário do que nos querem fazer crer, não é estrutural. Mesmo na época da escravidão, havia negros de destacada posição social.

    O principal preconceito, de que somos individualistas morre quando vemos atualmente um povo patriota, solidário, que luta para o bem comum e que quer sair da escravidão cultural que tentam nos impor.

    Não aceito generalizações negativas preconceituosas que fazem parte de uma agenda globalista para nos subjugar.

    • João, você começa errando ao me acusar de preconceito. Preconceito (ou pré-conceito como alguns gostam de enfatizar) é formar uma opinião “a priori”, antes de conhecer os fatos e a realidade. Eu vivo aqui há quase sessenta anos, e minhas opiniões são baseadas nesta experiência. Não há nada de “pré-conceito” nelas.

      No restante, você exprime algumas opiniões pessoais, da mesma forma que eu fiz. Suas opiniões não contradizem as minhas nem as minhas contradizem as suas. São apenas visões diferentes, que até se complementam.

      Mas faço uma observação: vc me acusa de “não desejar que as coisas mudem” e querer “que o país permaneça no atraso”. Na minha concepção, apontar os erros a serem corrigidos, como eu fiz, é a melhor maneira de mudar as coisas e “tirar o país do atraso”. Já a sua postura, de negar defeitos e achar que se deve apenas enaltecer as virtudes implica em dizer que não há o que corrigir, e esse sim é o caminho para não mudar as coisas e permanecer no atraso.

      Por último, devo dizer que não me surpreendi com a última frase. Venho dizendo há muito tempo que cada vez mais brasileiros estão enxergando o país (e o mundo) como uma partida de futebol, onde a realidade é substituída pela torcida e a opinião amparada em fatos é substituída pelo fanatismo. Existem os que torcem pelo time do político X e odeiam o time do político Y e os que torcem pelo time do político Y e odeiam o time do político X. Tirando essa diferença, os dois lados estão cada vez mais parecidos e uma das características comuns a ambos é a facilidade de dizer que “não aceitam” opiniões diferentes.

      Felizmente, este jornal é um espaço plural e sem censura, e minha opinião está aí e vale tanto quanto qualquer outra, nem mais e nem menos. Se você “não aceita”, aí é um problema seu.

  2. – Se tem uma coisa que o brasileiro odeia, é a afirmação “todos são iguais perante a lei”.

    Isso não é uma opinião, é uma afirmação muito preconceituosa à respeito da índole do povo brasileiro. Afirmação sem embasamento algum. Eu não aceito ouvir isso sem me manifestar contra, mas acho que qualquer um tem o direito de dizê-lo, pois sou um conservador e prezo pela liberdade de expressão.

    Sim, eu o acusei de, ao colocar que o brasileiro gosta de levar vantagens indevidas, dar voz a uma corrente ideológica que gostaria de manter uma situação de privilégios.

    O Brasil, seu povo, sua cultura não tem defeitos? Tem sim, e muitos, porém a maioria que sempre se manteve silenciosa e paga pelos abusos dos criminosos está se levantando, e nisso eu acredito.

    No mais, não enxergar que há no mundo hoje um embate entre os que querem manter privilégios através da censura de opiniões e os que querem prezar pelo direito mais básico que é a liberdade individual, é fazer parte de um lado desta história.

  3. Caralho! Tô vendo que essa democracia desse espaço é relativa. O cara escreve uma coisa, o outra crítica e a resposta foi quase um VTNC. O negócio é que traz uns leros estranhos mesmo. “Para o brasileiro a sociedade tem que ser….” A expressão correta é “No Brasil a sociedade está hierarquizada” não acho que brasileiro que isso, não. Eu não quero.
    “Alguém acredita que se a sociedade fosse contra isso..” parte da sociedade é contra, mas tem gente que vende voto e bota no congresso caras que não tem interesse em mudar isso. Quem chega lá é engolido pelo sistema.
    E pra João, aí, esse negócio de de todos são iguais… não é opinião, é receita de bolo da constituição

    • Eu li, reli, treli o comentário acima e cheguei à conclusão que meu nível de entendimento da última Flor do Lácio, a inculta e bela, não está à altura do Paredão de barragem (quem me lê neste espaço sabe quanto eu “adoro” estes pseudônimos).

      Eu ó posso dizer uma coisa; se eu frequento e comento no JBF há mais de 10 anos de forma ininterrupta, é porque aqui não se pratica a democracia relativa.

      Acho que é só que eu posso falar diante de tão elevado comentário.

  4. João, eu fui assinante da Veja e Reinaldo Azevedo era colunista. Um dia fiz um comentário sobre o texto e ele publicou no blog dele. Depois, fiz duras críticas ao texto e não foram mais publicadas. Ele colocava lá apenas aquilo que era consoante ao que ele escrevia. Em suma, o cara não abria espaço para o debate. Eu mandei um e-mail para a Veja reclamando. Disse que como assinante, eu tinha o direito de expor minhas ideias e nenhum colunista poderia se eximir de publicar. Poderia não concordar, mas não vetar minha opinião. Avisei que não ia mais renovar a assinatura. Tempos depois, quando chegou o período de renovação eu não paguei os boletos. Mandaram de novo, não paguei, até que me ligaram. A jovem perguntou se eu tinha recebido a proposta de renovação, que a revista não gostaria de perder um cliente que era assinante a 18 anos, etc. Eu disse da minha opinião sobre a falta de isenção da revista, que não concordava com aquilo, que a revista estava se colocando com um instrumento doutrinação esquerdista porque não denunciava mais as sacanagens da esquerda e vai por ai. Cancelei mesmo e não me arrependo.
    Essa conversa toda, serve para fazer um comparativo: eu lia Reinaldo Azevedo, Kennedy não sei das quantas, e toda vez que eu fazia um comentário, fica lá para avaliação. O que era contrário ou combatia os pensamentos imbecis dessa gente, não era publicado. No JBF não tem isso. Você escreve o que quer e manda. Pronto. Eu diria que o JBF tem, exatamente, o que nós tantos queremos: liberdade de expressão.

    Eu já recebi críticas pesadas sobre meus textos e sobre os textos de outros colunistas. As vezes pega a gente num dia ruim e a vontade é mandar o cara se lascar mesmo. De resto, continue criticando quem que seja.

    • Caro Assuero, nunca fui assinante da Veja, mas tinha por hábito ler, dentro outras, a coluna do R.A., de forma assídua. Assim como aqui, mandava comentários a coluna.

      Lá tinha moderação (demorava algumas horas), o que no começo entendia como uma forma de despoluir dos “petralhas”, que realmente deixavam o ambiente quase insuportável, pois era só para atazanar mesmo, zero debate.

      Depois vi que certas críticas não passavam, como uma que eu questionei o fato do então governador de SP Alckmin ter deixado passar impune ao PT o crime do Celso Daniel, que se bem investigado acabaria com o partido.

      Este tipo de comentário nunca passou e daí quem passou foi eu. Nesta época eu descobri o JBF e deste então estou aqui, não sei quanto tempo faz isso, mas é mais de 15 anos.

      Aqui é plural, dá espaço a esquerdistas e isentões, mas deixa o debate acontecer.

      Abraço

  5. Marcelo,
    Só o fato de TERMOS um debate já é prova de que valeu e muito o TRABALHÃO que dá colocar uma crônica no ar.

    Aqui é plural, dá espaço a esquerdistas, isentões e até sanchões, mas deixa o debate acontecer. E aqui se encontram uns cabras de alto gabarito e saber, que, florete em mãos “esgrimem” pontos de vista.
    Se boteco fosse, em mesa repleta de bebida de todo tipo, estariam sentados Maurício Assuero, Berto, Marcelo Bertoluci, Paredão de barragem (quem?), João Francisco. Escondido no banheiro certamente o atual petista R.Azevedo. Xavecando a moça do caixa, o Sancho
    Da Veja também foi assinante e depois apenas leitor, até que o RA bloqueou meus pitacos nas muitas críticas que fiz ao tucanato…

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