CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

As tardes de domingo na Rádio Jornal do Commercio, durante o “Programa Ernani Seve”, para mim eram a atração maior dos tempos de juventude. Inesquecíveis, e acredito, para todos aqueles que viveram a década de 1950.

Como eu já praticava o jornalismo profissional naquela rede de Comunicação, (Caderno de Domingo do Jornal do Commercio) era-me permitido transitar pelos corredores da Rádio com certa facilidade.

Um dos momentos mais agradáveis era o “Programa Ernani Seve”. Não que tivesse ele a voz de um Luiz Jatobá, mas havia em sua pessoa uma encantadora educação que se observava, no trato com os artistas e nas brincadeiras com o auditório. Era u’a uma pessoa muito atraente.

Uma de suas peculiaridades era manter os apelidos que corriam nos bastidores e acabavam se tornando marcas-registradas de alguns:

– E agora vamos apresentar: “Mimi Castilho”, nossa querida Almira do Amorim Castilho!…”

O modelo deu tão certo que ele se referia aos mais conhecidos até no palco, não pelos nomes dos registros, mas sim pela identidade artística.

Às vezes se fazia de distraído – mesmo com Dr. Pessoa de Queiroz no auditório – e soltava os apelidos: Mimi Castilho, Jackson do Pandeiro, Camarão, Chocolate, Gordurinha.

Mas certa tarde se atrapalhou quando foi anunciar uma cantora que estava em experiência:

– Ouçamos agora, com o Regional de Luperce Miranda, uma cantora que estamos lançando e deverá ser um sucesso: Maria Daidece. Na verdade o nome da pobre moça era Maria da Daidescena, um nome meio estrambólico, mas ele se atrapalhou com o papelzinho que lhe passaram de última hora, e na pressa, pronunciou: “Maria Dá e Desce”.

Foi um “buruçu” dos infernos pelos corredores, pois sabia-se que a candidata, sendo “ratazana de auditório,” vivia em busca da fama. Por isso, “facilitava alguns amassos” com os “influentes” da emissora, segundo noticiava a “Rádio Peão”.

Mas, como seu nome não ajudava o Produtor do programa, – malandro todo – resolveu dar-lhe um “empurrão” rumo ao estrelato, mesmo correndo o risco de avacalhar a situação do Apresentador.

Fez a “adaptação”, numa tarde em que Dr. Pessoa não comparecera. Chegada a hora, tendo um cantor faltado ao programa, quase empurrou a jovem. E a pobre ganhou o apelido de “Maria dá e desce”. Uma alcunha que remete ao velho ditado: “Ou dá ou desce!”. O episódio ficou na história do Rádio.

Certa feita Ernani Seve meteu-se em outra, registrando para sempre alcunha, que se tornou nome artístico. De tanto assim proceder, animou-se, e no palco, anunciou, pelo apelido, o maestro da orquestra, legitimando seu nome mais conhecido, que ultrapassou o espaço radiofônico, tornando-se carinhosamente conhecido entre a família e os amigos.

Foi assim:

– E agora, na enternecedora voz de Antônio Laborda ouviremos a canção “Maria Betânia”, de Capiba, acompanhado pela Jazz Paraguary, sob o comando do Maestro Timoschenko.

A inquietação foi de tal ordem que Dr. Pessoa lhe indagou, dias depois, no gabinete da diretoria, se ele sabia de onde vinha aquele apelido. E naturalmente não sabia, mesmo porque não foi ele quem “batizou” Lula com o nome do general russo Semion Timoschenko, herói da II Guerra Mundial.

Luiz Caetano, competente maestro pernambucano, de fato, era muito parecido com o general. Os rostos, quase iguais. Assim, Timoschenko tornou-se emblema. Nome de General e hoje desfruta tranquilo sua aposentadoria dedilhando seu sax no terraço de casa.

Maestro Luiz Caetano, o “Timoschenko” do Recife

2 pensou em “GENERAL TIMOSCHENKO

  1. Duas coisas boas no texto. Primeiro podemos ressaltar e registrar que o locutor e apresentador de auditório Ernane Seve foi o precursor dos diversos sites, hoje, existentes na internet, que criam apelidos para o seu nome próprio. É só digitar o seu nome e lá vem o seu apelido.
    Segundo recordar a voz privilegiada de Luiz Jatobá. Quem ouviu como eu, nunca esquecerá.
    Uma voz perfeita numa época em que não existia a tecnologia fonográfica de hoje.

    Luiz Jatobá, (Maceió, 5 de janeiro de 1915 — Nova Iorque, 9 de dezembro de 1982) foi um médico, locutor e jornalista brasileiro. Possuidor de voz privilegiada para locuções radiofônicas e cinematográficas, em 1940, Jatobá foi convidado para ser locutor da CBS (Columbia Broadcasting System), em Nova Iorque (EUA), onde se tornou o brasileiro que dava as notícias sobre a Segunda Guerra Mundial e apresentava trailers cinematográficos para a companhia Metro Goldwin Mayer.
    Jatobá trabalhou na TV Globo quando Mauro Salles era o diretor de jornalismo da emissora. Nessa época, foi para o Jornal da Globo, ao lado de Hilton Gomes e Nathalia Timberg. Comandou a primeira edição do Jornal Hoje, ao lado de Léo Batista. No governo militar, Jatobá sofreu perseguição política por parte do governo brasileiro. Pela segunda vez, emigrou para os EUA, onde retomou a gravação de trailers de cinema, depois de ter percebido que era melhor afastar-se do País.
    Sua voz grave e cavernosa era associada à narração dos trailers exibidos, durante décadas, nos cinemas brasileiros, com a mesma intensidade com que a voz misteriosa e sensual de Íris Lettieri passou a ser associada à locução de horários de voos no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro de tal forma que ir ao cinema, não importa a fita que estivesse em cartaz, na época em que Jatobá apresentava os trailers – quase sempre de filmes de Hollywood -, correspondia a ouvir a voz profunda desse médico ortopedista e locutor, como também significava assistir, ouvindo sua música característica, às cenas recentes e cruciais dos principais jogos do desporto brasileiro, especialmente do futebol carioca (parte última do Cinejornal Canal 100, produzido por Carlos Niemeyer, com a canção “Na Cadência do Samba”, de Luís Bandeira, na versão instrumental sob a orquestração de Waldir Calmon, que muitos, não sabendo o nome da música, diziam a primeira frase da letra: “Que bonito é…”).
    Fonte Wikipédia
    Jatobá no You Tube

  2. Deco amigo.

    Pessoas sensíveis e que viveram aqueles tempos se tocam com a importância do registro que fiz com a minha crônica.

    Grato pela aula sobre Ernani Seve e Luiz Jatobá, dois grandes personagens do Radio brasileiro.

    Grato por sua manifestação de cultura.

    Carlos Eduardo

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