FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Andando com o João Silvino da Conceição, companheiro inseparável de caminhada matinal na Jaqueira antes da pandemia, dele sempre ouvi comentários favoráveis aos shoppings da RMR, pelas gentilezas demonstradas pelo pessoal de recepção-venda. Um “bem-vindo ao nosso shopping” e outro “Volte sempre” que agradam de montão.

Sabedor das inúmeras leituras do Silvino, um semi-alfabetizado e de recursos financeiros muito incompatíveis com sua voracidade por leituras bem calibradas, fiz-lhe certa feita uma proposta engasgatória, dessas que logo identificam um QD (Quociente Desabestalhante): – Cite quatro notas memoráveis desse seu caderninho de frases famosas.

Valendo-se de um E apois, minino!, convite aceito de bate-pronto, o João não se faz de rogado e logo chamou outro amigo seu de jaqueirismo (exercitar-se no Parque da Jaqueira), o Lucas Neto, para testemunhar sua resposta. E declamou as quatro observações, que muito sensibilizaram os circunstantes. O extraído abaixo é fruto de um gravador safadoso de bolso e pilha, a concordância gramatical sendo devidamente ajustada, para bem distanciar-se das redações recentes dos vestibulares pebas das arapucas do atual ensino superior.

Revela o João: “A frase do Mahatma Gandhi ‘Acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto’, para mim é considerada meu carro-chefe. Acredito que a hipocrisia é o maior pecado do homem contemporâneo. No Brasil de hoje, a hipocrisia dos candidatos a cargos eletivos está na razão direta da ausência de um caráter consistente, que deveria impossibilitar a ascensão de debilóides, hipócritas e sacripantas de patriotismo fingido.”

E foi adiante, o João: “Tenho um profundo respeito pelo pensamento de Anne Frank, a jovem judia de diário notável, vítima da sanha de um extremismo de direita assassino que teima em ressurgir, graças às fragilidades mentais de uma parte da esquerda, sempre contempladora do próprio umbigo, autofágica por derradeiro. Eis o que ela escreveu: ‘Para nós, jovens, é duas vezes mais difícil manter nossas opiniões numa época em que os ideais são estilhaçados e destruídos, quando o pior da natureza humana predomina, quando todo mundo duvida da verdade, da justiça e de Deus’. Que a juventude brasileira, sem moralismos nem puritanismos vexaminosos, saiba separar o joio do trigo, menosprezando o chulo, rejeitando a mediocridade travestida de evento cultural, percebendo-se construtora legítima dos amanhãs nacionais soberanamente estruturadores para todos.”

E disse mais: “Quando li Hamlet, de William Shakespeare, memorizei uma frase da Cena 2, no Ato II, que considero excelente biruta (baliza de vento de aeroporto) para aqueles que enxergam partes ruins em tudo, mentalidades fofoquistas que descobrem arqueiros em olho de chinês a metros de distância, pouco se lixando para a trave que traspassa seus olhos, ouvidos e gargantas: ‘As coisas em si mesmas não são nem boas nem más, é o pensamento que as torna desse ou daquele jeito’. O querido ex-arcebispo metropolitano Dom Hélder Câmara, de Olinda e Recife, dizia que tem gente que faz de lagartixa jacaré, se ferrando todo quando se depara com um jacaré de mesmo pela frente.”

E continuou gravando: “Um latinoamericano me faz cada vez mais ser uma pessoa que busca saber bem o significado do que seja ser Filho de Deus. O Jorge Luís Borges, numa frase só, nos desafia para enfrentar os amanhãs que exigirão criticidade, competência, criatividade e compromisso social: ‘O tempo é um rio que me assola, mas eu sou o rio; é um tigre que me destrói, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo’.”

Com a caminhada matinal se findando, o convite do João Silvino para uma cervejinha sem álcool foi aceito de bate-pronto por todos, sem pestanejos, o colasterol que se danasse pelo menos até a próxima reunião jaqueirista, arretada como de costume, sem academicismos, porque integralmente isenta dos autoelogios bundões que nunca sabem estabelecer a diferença entre a seriedade e o ridículo, sabedoria e vomitância.

Para todos aqueles que ainda continuam acreditando seriamente em um Brasil desenvolvido, apesar das cretinices da nossa classe política, efeito também de um eleitorado imaturo civicamente, um caminhar 2022 pra lá de porreta, todos se percebendo uma metamorfose ambulante, em continuado aprimoramento analítico, profissional, familiar e comunitário, numa crescente cidadanização militante em prol de uma humanidade onde todos possuam renda, trabalho, liberdade e direitos plenos voltados para a Luz Infinita, numa jprnada cada vez mais recheada de Fé, Esperança, Caridade e Solidarieade. Todos com a certeza plena de que não são donos domundo, mas seguros que são são filho do Dono!

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