A PALAVRA DO EDITOR

Corria o dia 7 de agosto de 1946.

Que caiu numa quarta-feira.

Ontem completaram-se 76 anos.

Às 10 horas da manhã daquele dia, Quiterinha, que tinha então 17 anos de idade, me deu à luz e eu atravessei a porteira do mundo pelas mãos da parteira Dona Marta, a mais competente de Palmares naquele tempo.

A casa onde nasci era colada, parede-meia, com a bodega de Seu Luiz, meu pai.

Estive lá ontem só pra tirar um retrato em frente à casa onde fui parido.

Tanto a casa quanto a bodega de papai não são mais as mesmas. Os dois imóveis foram reconstruídos pelos atuais proprietários. Tá tudo diferente.

Na esquina, no local local onde funcionava a bodega, continua existindo um comércio, uma loja que tem uma placa onde está escrito “Vidros, Alumínio e Persianas”.

Bem diferente dos tempos em que era O Armazém São Luiz e tinha sempre um cachacista tomando uma lapada de cana no balcão.

A venda de papai, onde mamãe trabalhava ao lado dele, era o supermercado dos dias de hoje.

Lá se comprava comprimidos de Melhoral (comprimido naquele tempo se chamava “cachete”), confeito pras crianças, brincos, batom, ruge, bacalhau de barrica, farinha, bolacha, salame, queijo de coalho, comprimido Tetrex – que papai vendia pra quem pegava gonorreia na zona -, sabonete Eucalol, fígado de boi escaldado, carne de sol, cueca, calcinha, perfume, desodorante pro suvaco, gilete Azul, chupeta, biscoito, suco em envelope marca Ki Suco, suco de uva em garrafa, feijão, açúcar, manteiga, querosene,  pasta de dente Kolynos e… e mais um monte de diferentes mercadorias.

Tinha de tudo que se procurasse e mais alguma coisa!

Foto dos anos 60: Quiterinha fazendo pose na parte de fora do balcão da bodega

Lá no balcão papai também passava bicho (era assim a expressão da época). O famoso jogo do bicho. Ele mesmo anotava as apostas num talão.

Papai era afiliado à rede do grande bicheiro da região, Zeca Pé-de-Gato, o cabra mais rico daquela beirada de rio. E todo final de tarde vinha um portador pegar o talão de apostas e o dinheiro do apurado. Já ficava descontado o percentual que cabia a papai.

São muitas coisas, muitas lembranças. Depois contarei mais em outra postagem.

Ontem saí cedinho do Recife, passei a manhã em Palmares e voltei pra almoçar em casa. Fomos eu e Aline.

Uma excelente viagem.

Dei um gostoso passeio pela cidade que é palco de toda a minha obra literária.

O recanto às margens do Rio Una onde fui imensamente feliz e onde passei a minha infância e adolescência.

Tirei retratos e matei muitas saudades.

Foi ótimo!

11 pensou em “FOI AQUI QUE ATRAVESSEI A PORTEIRA DO MUNDO

  1. VIDA LONGA E SAUDÁVEL, CARO EDITOR!

    Desejo longa vida
    Pra você e família
    Primeiro muita saúde
    Depois que tenham alegria
    Na mente bons pensamentos
    Na vida só belos momentos
    Repletos de paz e harmonia!

    Saudações fraternas,

    Aristeu

    • Que coisa boa que vc saiu de sua preguiça e foi a Palmares. A gente volta renovado quando retorna á infância. Parabéns. E mais uma vez parabéns por Dona Quietinha, muito bonita viu? Com o devido respeito . Eu não tive a sorte de ter uma venda na família. Venda era mais bonitas animada que shopping de hoje. Visse? Meu sogro também tinha uma e meus filhos tiveram o prazer de se esbaldar nas coisas de lá. Tareco. Confeito. Biscoito. Guaraná. QSuco. E na frente de casa que também era Frende da venda assim com a sua tinha a feira nas quartas, que em Pesqueira era a principal. Vixe era uma animação. Isso lá nos idos de 69/70. Parabéns meu amigo. Que Deus lhe cabeça e pena pra continuar escrevinhando coisas gostosas. Um cheiro

  2. Postagem belíssima, querido Luiz Berto! Adorei.

    A bodega do seu saudoso pai, onde Dona Quiterinha está na foto,, lembra muito a do meu pai, em Nova-Cruz. Você tem as feições idênticas às da sua querida mãe..

    O texto me emocionou. Parabéns!…

  3. O menino de Palmares veio, viu e venceu…
    Palmares tornou-se a Macondo de Berto. Onde pariu o romance da Besta Fubana e tantos outros contos e romances.

    O aniversário é dele…o presente é nosso.

    Congratulações pela data festiva, compadre!

  4. Sinto uma inveja danada das sua infância.

    De vez em quanto eu releio s suas aventuras em Palmares e fico matutando,
    será que aquilo ,lá não é o paraiso ?

    Não sei não, mas quem teve uma infância como a sua, naquele lugar
    paraisólico, teve uma aventura sem par.

    Agora não dá mais, mas quando eu ficar mais leve e sair voando para outras
    paragens mais elevadas, certamente vou dar uma espiada em Palmares, isto
    é, quem sabe, posso me confundir, encontrar São Benedito, o santo pretim e pensar que por acaso cheguei no céu.

    Parabéns, amigo, um abraço e um queijo.

  5. Por São Gabo,

    Palmares, a Macondo de Berto, nas palavras cavalcantianas (valeu, Marcão!!!!)… Corria o dia 7 de agosto de 1946, uma 4ª. Ontem completou 76 anos. Faltando 24 para 100, se não estiver a me trair “as matemágicas”; tem gente que não gosta do número 24… Deseja Sancho que daqui a exatos 24 anos estejamos reunidos nesta mesma gazeta dizendo que ontem foi dia de comemorar centenário de um cabra importante por demais na vida de cada um de nós…

  6. Parabéns Berto por suas lembranças, eu estou perdendo as minhas, uma pena.

    Hoje tenho minhas netinhas para me alegrar, além dos filhos, noras e da véinha, que são partes da minha vida. De papai e mamãe jamais esquecerei, pois moram em meu coração.

    Abraço

  7. Que relato emocionante, nobre amigo.
    Sempre me emociono com suas palavras e seus relatos históricos.
    Vida longa amigo.
    E que Deus continue abençoando sua vida e sua família.

  8. Passado os anos, já nos fins e, idos dos anos 70, essa venda caro amigo Berto, virou uma pensão que não recordo-me do nome.
    Mais a sua história e seu saudosismo é contagiante.
    👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

  9. O mês de agosto é repleto de datas importantes. O dia 7 é uma delas. Daqui a pouco vem o 17, quando se celebra a Baralha de Casa Forte e outros eventos.
    Receba aí meu abraço em celebração à sua travessia para este lado da existência.

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