Estas duas últimas semanas estive no estaleiro curtindo, “dengosamente” a picada do mosquito, apesar disso, os noticiários só falaram no coronavírus, que eu chamo de mocorongavírus, mesmo no meu bairro haver mais de mil e setecentos casos de infecção por dengue. Mas, deixa isso para lá. Dengue é doença da preguiça e da falta de higiene, o “mocorongavírus”, é de safadeza mesmo. E, nesses dias curtindo a dor no corpo, a febre e a dor “no bago dos olhos”, como dizia meu tio Vicente, peguei-me refletindo sobre uma palavra em moda, tanto na boca dos canhotinhas, quanto nos pseudoliberais de beira de praia.
Refiro-me ao “fascismo” e seu adjetivo, “fascista”, sendo que a maioria dos que usam essa palavra não sabe o que ela significa. A palavra é de origem latina fascio, ou feixe, era uma alegoria da sociedade romana cujo significado original é unidade, confluência de valores, mas que no século XX assumiu um caráter ideológico de brutalidade e violência. PS: o fascismo moderno é irmão bastardo do socialismo científico. E, nesse pensar, voltei meus olhos para a “Carta Magna”, a dita “Constituição Cidadã” e seu rol de direitos.
Se formos levar em conta que o fascismo ideológico pregava: tudo pelo Estado, no Estado, com o estado e nada fora do Estado, é possível dizer com segurança que nossa Carta é mais fascista que a constituição de Mussolini. Lendo e contando os direitos da Carta, pode-se dividi-los em categorias: Direitos Individuais, Garantias Fundamentais e Direitos Coletivos. São cinquenta e sete direitos individuais, trinta e sete direitos trabalhistas, dezenove garantias individuais e vinte e seis direitos coletivos, no barato, porque me cansei de contá-los. Se alguém tiver os números exatos, por favor, me corrijam-me sem piedade.
E, incrível, todos esses direitos e garantias têm como origem e destino o Estado. Isso mesmo. Todo esse “cambambau” – aqui no Glorioso Mato Grosso do Sul cambambau significa uma quantidade absurda e burra – de direitos só existem se estiverem reconhecidos no e pelo Estado, ou seja, nenhum deles faz referência a uma situação em que o Estado não tenha que enfiar a sua colher de pau na panela, ou no caldeirão.
Ora, voltando ao postulado primeiro sobre o significado moderno de fascismo, quando analisamos a constituição brasileira vemos que a sua essência é fascista, haja vista a essência dessa ideologia é afunilar o individuo e a sociedade para as grandes asas estatais e sufocar o indivíduo e o coletivo, colocando em prática o que George Orwell chamou de Big Brother. Não, não estou falando desse programa xexelento que passa em uma rede de televisão brasileira, em que se coloca um bando de desocupados, com cabecinhas de fossa e vocabulário de uma criança de três anos para arrancar dinheiro de otários. O big brother de Orwell está no livro 1984, uma excelente distopia do que seria um mundo dominado pelo comunismo.
Se formos analisar com mais cuidados, com esse caminhão de direitos que o cidadão possui, ainda que, se for procurar por eles é melhor desistir, em contrapartida só existem sete deveres arrolados – palavrinha que eu tenho uma pinimba…. parece que arrolado, foi alguém que levou rola, nos países baixos – em todo o texto constitucional. Ora, não dá para se falar em cidadania em equilíbrio em um país em que se precisa arranjar um comboio de trem para carregar os direitos e apenas um envelope pequeno para os deveres. É em função desse desequilíbrio, dessa distorção que a dita “Constituição Cidadã”, nunca chegou, de fato, a atender o cidadão. A menos que você tenha os contatos certos nas três esferas de poder.
Essa dinâmica fascista que a nossa constituição impõe aos brasileiros torna a pátria uma madrasta perversa para a maioria das pessoas e uma mãe gentil para poucos, pouquíssimos privilegiados que conseguem fazer os chamados “embargos auriculares” nas autoridades dos três poderes republicanos.
Buscar uma constituição cidadã que se circunscreva – ô palavra atronchada – apenas aos fundamentos da sociedade requer, no caso brasileiro, não uma reforma profunda. Sai mais barato para a sociedade pegar essa constituição – assim mesmo, em letras minúsculas – rasgá-la, jogar o papel na latrina e escrever outra, mais enxuta, mais direta e o menos fascista possível. Dizer que uma carta de princípio não terá nenhum viés fascista, só se voltarmos a nos balangar pela cauda nas árvores, mas redigir uma que mantenha o Estado o mais longe possível da vida e do bolso do cidadão é um sonho que alimento desde que comecei a compreender a dinâmica política de nossa nação.
O problema de rasgar está é que , por aqueles que tem influência junto ao povão , serão eleitos alguém pior que Luis Inácio da Silva e se fará uma constituição bolivariana.
Meu caro Airton. Essa é um verdade e um riso que corremos. Mas, como povo precisamos tentar. É questão de sobrevivência do homem e da cidadania em oposição ao Estado. Não dá para ser assaltado à luz do dia e acharmos que esse ente balofo, pesado e cínico existe a nosso favor.
Roque,meu conterrâneo:- “OMEDETÔ” (Parabéns em “japa”) pelo artigo supimpa. Aliás, todas as suas publicações são sempre excelentes e pertinentes, Um baita abraço.
Meu caro conterrâneo… forte abraço e grato pela força dada…
Ótimo artigo! Sem “arrolamento”, nem enrolação, porém, sem deixar de ser conciso e fundamentado. Parabéns ao articulista, provavelmente gaúcho ou descendente, como sói de ser boa parte dos sul-mato grossenses.
Grande José Paulo. Grato pela consideração e mais enternecido pela lembrança do querido Rio Grande, terra de homens gentis de alma e bravo de coração, mas sou do mato Grosso do Sul mesmo, descendente de índios potiguaras do Pernambuco, outra terra de homens valentes, e de índios Aimarás da Bolívia, cruzado com sangue português dos Açores, ou seja, uma bagunça mesmo. Mas um abraço a todos os irmãos gaúchos da terra de Anita Garibaldi e Bento Gonçalves, brasileiros que orgulham toda a nossa nação.
Artigo simplesmente
BRILHANTE !!!!! GENIAL !!!!! SOBERBO !!!!
Fiquei com uma inveja da gota serena desse cabra. Era eu que deveria ter escrito esse bicho mas minha competência não chegou a tanto.
Agora, o que resta é enfiar essas ideias de goela abaixo de tudo que é imbecil que nos apareça pela frente nos chamando de fascista.
Depois, vamos brigar para ter uma CONSTITUINTE JÁ !!!! E aprovando artigo por artigo através de plebiscitos.
Meu caro Adônis.
Inveja tenho eu de ti e de seus escritos soberbos. Isso que escrevinhei foi só para mandar ao diabo a dor no corpo, por causa da dengue, e sai essas bobagens, que se for lida por alguém mais ilustrado, com certeza vai querer me pendurar pelos bagos na primeira árvore que encontrar. Um grande abraço.