FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Recebi em abril último, de amigo fraterno, uma nota que me deixou a gargalhar por bons minutos. Publicada na revista da Associação dos Engenheiros do ITA e com o título Sinistro em Cascais, a matéria mostra o relato de um operário luso acidentado, enviada pelo próprio a uma Companhia Seguradora, explicando o acontecido. Eis o relato do operário vitimado:

“Ao Tribunal de Justiça da Comarca de Cascais: No quesito número 3, da participação de sinistro, mencionei: TENTANDO FAZER O TRABALHO SOZINHO como causa do meu acidente. Disseram na vossa carta que deveria dar uma explicação mais pormenorizada, pelo que espero que os detalhes abaixo sejam suficientes. Sou assentador de tijolos. No dia do acidente, estava a trabalhar sozinho no telhado dum edifício novo de 6 (seis ) andares. Quando acabei meu trabalho, verifiquei que havia sobrado 250 quilos de tijolos. Em vez de os levar a mão para baixo, decidi colocá-los dentro dum barril e baixá-los com a ajuda de uma roldana que, felizmente, já estava fixada na altura do telhado, num dos lados do edifício, no sexto andar. Decidi e verifiquei o estado da corda que já estava atada ao barril. Atei a ponta livre da corda, que já descia da roldana na máquina, pesadíssima, usada para misturar a massa. Fui para o telhado e, a duras pena, puxei o barril vazio para cima e coloquei os tijolos dentro. Empurrei o barril para a ponta do telhado, desci até o solo e, bem devagar, encareci a um companheiro que tinha chegado que empurrasse o mencionado barril até que ele ficasse totalmente pendurado na corda. Imaginei segurar a corda com bastante força, de modo a que os 250 quilos de tijolos descessem devagarzinho, embora seja de notar que no quesito 11 indiquei que meu peso era de 80 quilos. Devido a minha surpresa, por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença d’espírito e esqueci de largar a corda. É necessário dizer que fui içado do chão para o telhado a grande velocidade. Lá pelo terceiro andar bati no barril que vinha a descer. Isto explica a fratura do crânio e da clavícula partida. Continuei a subir a uma velocidade não menor, não tendo parado até que os meus dois dedos das mãos estivessem entalados na roldana. Finalmente, a esta altura, já tinha recuperado a minha presença d’espírito e consegui, apesar das dores, continuar agarrado à corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos chegou ao chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos o barril pesava aproximadamente 25 quilos (refiro-me novamente ao meu peso indicado no quesito 11). Como podem imaginar, comecei a descer rapidamente. Próximo ao terceiro andar, novamente, encontro o barril vazio que vinha a subir. Isto justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações das pernas, bem como as das partes inferiores do corpo. O encontro com o barril, dessa vez, diminuiu minha velocidade de descida o suficiente para minimizar meus sofrimentos quando cai por cima dos tijolos e, felizmente, só fraturei 3 vértebras. Lamento, no entanto, informar que, enquanto me encontrava caído sobre os tijolos, com muitas dores, incapacitado de levantar-me e vendo o barril acima de mim, perdi novamente a presença d’espírito e larguei a corda. O barril, que pesava mais que a corda, desceu em cima de mim, partindo-me, dessa vez, as duas pernas”.

O operário Manuel Quedinha se encontra em plena recuperação, feliz da vida por ter heroicamente sobrevivido, para alegria de todos os seus familiares.

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