Há anos, Josivaldo, profissão CD (come e dorme) e “filhinho do papai”, estacionou o carro em local proibido. Um Guarda de Trânsito aproximou-se de prancheta na mão e lhe exigiu a apresentação da Carteira de Habilitação e os documentos do carro.
Visivelmente alcoolizado, Josivaldo negou-se a atender ao pedido, mostrando-se ofendido e dizendo ser filho de gente muito importante. Proferiu impropérios contra a autoridade de trânsito, chamando a atenção de quem por ali passava.
Ao sentir-se apoiado pela plateia que se formara, o infrator se encheu mais ainda de razão. Aumentou o tom da voz e também os insultos contra o guarda, chegando a dizer:
– “Otoridade de apito na boca, vai te “rear”!!!
O Guarda, então, chamou uma viatura policial e conduziu o infrator à Delegacia Distrital.
O Comissário de plantão, mal humorado, quis saber o que tinha havido. Relatando a ocorrência, o guarda ressaltou que aquele homem havia estacionado seu veículo em local proibido, e se negara a apresentar os documentos de praxe. Além disso, o desacatara, xingando-o e mandando que fosse “se rear.”
O Comissário encarou o infrator, que logo também o desacatou:
– Estaciono meu carro onde eu quiser… A rua é pública. Se estiver achando ruim, vá se “rear” também!!!
A vontade do Comissário foi aplicar ao malandro um corretivo, trancafiando-o no xadrez.
Com o Livro de Ocorrências na mão, perguntou ao infrator seu nome completo. A resposta foi:
– MARCOLINO SARNEY!…
O superior do Comissário, ao ouvir o sobrenome do infrator, “Sarney”, gritou:
– Liberem o homem, imediatamente!
A ordem foi cumprida e o infrator foi levado à sala do superior, que, muito nervoso, desculpou-se:
– O senhor está coberto de razão, por ter se chateado com o guarda de trânsito. Ele errou, ao tratar o senhor tão mal, por causa de uma infração tão leve… Ele vai ser punido, por “abuso de autoridade!”… O senhor é um homem fino e é da família do Presidente!!! Queira desculpar!!!
Nesse ínterim, o Guarda de Trânsito, cabisbaixo, já ia se afastar, quando o Comissário perguntou:
– Pra onde o senhor está indo?
Humilhado, o Guarda respondeu:
– Estou indo “me rear”, obedecendo às ordens do infrator importante, antes que a coisa complique pro meu lado… Ele mandou que eu fosse “me rear” e é o que vou fazer, sim, senhor.
“Manda quem pode, obedece quem tem juízo.”
Violante: parabéns! Eu nunca vou entender o “por que” de tantos usarem palavras de idiomas estrangeiros para se comunicar neste nosso Brasil tão rico no dizer e mais ainda no falar. Mas, que diabos significa mesmo “rear”? Bom dia querida!
Obrigada pelo comentário gentil, prezado Escritor José Ramos.
Rear, parece, mas não é “estrangeirismo.”… É um “desaforo”, originário do “matutês” nordestino, muito usado no “País” do Rio Grande do Norte. kkkk
” Vai te rear” é o mesmo que “vai te f….” ou ” vai te danar”, de acordo com o Dicionário Informal do Google.
Um abraço, querido amigo!
Ok. Entendi. Parece que “rear” não é coisa tão ruim! Kkkkkkkkkkk
Isso mesmo, querido amigo José Ramos! kkkkkkk
Violante,
Uma crônica atualíssima no nosso país. Tive oportunidade de conhecer a gíria vai te “rear” – xingamento profundo quando se quer realmente afugentar alguém que já atingiu sua cota de enchimento com você até o momento.
Compartilho um cordel sobre o assunto do sanfoneiro, cantor, compositor e poeta Amazan com a prezada amiga:
O FILHO DA EXCELÊNCIA
Hoje a nossa polícia
Está muito fiscalizada
Por isso é que cabra ruim
Deixou de levar mãozada
É, porque antigamente
Cabra metido a valente
Quando um soldado pegava
Ficasse com foi num foi
Era cada tapa ôi
Que o mocotó entrançava.
Hoje a polícia não pode
Mais dar cacete em ninguém
Cinegrafista amador
Em toda janela tem.
Mas antes tinha uns soldado
Daquele mal encarado
Na rota da bacurau
Que andava cum farnezim
Procurando cabra ruim
Pra dar um samba de pau.
Até que um certo dia
Às duas da madrugada
O quartel passou um rádio
A bacurau foi chamada Pra ir prender um rapaz
Que andava tirando a paz
E o sono do pessoal
Com o som do carro ligado
Passando em sinal fechado
E dando cavalo-de-pau.
A bacurau fez fiapo
Para o local indicado
Não demorou encontrar
O rapaz embriagado
Tinha descido do carro
Tava comprando cigarro
Mas quando espiou de lado
Viu o camburão parando
E o soldado pulando
Já com o braço levantado.
Foi pulando e foi dizendo
– Teja preso, seu safado
Mas antes eu vou lhe dar
Um murro tão condenado
Que tu vai rolar no chão.
Aí o boy disse: _Meu irmão
Tenha calma, tu tá quente
Bater em mim ninguém vai
Senão eu conto a meu pai
O juiz Manoel Vicente.
O soldado deu um freio
Que o coturno cantou
Uma travada no braço
Que o cotovelo estalou.
Aí o cabo disse: -Junim,
Rapaz, tu aqui sozim
Essa hora biritando
Vamo pra casa, danado
Teu pai tá preocupado
E a gente lhe procurando!
Aí levaram Junim pra casa
Bateram numa janela
Manoel Vicente saiu
Com os ói chei de remela.
Aí o cabo disse: -Doutor
Esse filho do senhor
Estava um pouco alterado
Não podíamos prendê-lo
Achamos melhor trazê-lo
Em casa ele está guardado.
E nisso Manoel Vicente
Nem sabia o que fazer
Olhando para a polícia
Começou a agradecer:
Ô, que polícia educada
– Muito bem rapaziada
Gostei da iniciativa
Quando de mim precisar
Basta só me procurar
Lá na Liga Desportiva.
O soldado franziu a testa
E virou como um girassol
Você está me dizendo
Que é juiz de futebol?!
Pobre de Manoel Vicente
Respondeu todo contente:
– Sim, o melhor do estado!
Aí não disse mais nada
Levou uma burduada
Que caiu de cu trancado.
Deram um cacete em Junim
Que o mijo espirrou no chão
Jogaram os dois pelo fundo
Das calças no camburão
Pobre de Manoel Vicente
Preso inocentemente
Sem ter feito nada errado
Junim sem uma pestana
E os dois passaram a semana
Vendo o sol nascer quadrado.
Um excelente final de semana com paz, saúde e alegria
Aristeu
Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Aristeu!
Fiquei feliz por você conhecer a gíria desaforada “vai te rear”, muito usada em brigas de meio de rua, no nordeste brasileiro.
Adorei o cordel “O FILHO DA EXCELÊNCIA”, do sanfoneiro, cantor, compositor e poeta Amazan, muito pertinente ao meu texto e sempre atual.
Bom demais!kkkkkkkkkkkkk…
Muita Saúde e Paz!
Um feliz fim de semana!
Violante
Realmente, querida Violante, em banânia e, principalmente, nas repúblicas do Maranhão, isto é “pau que rola”.
Se fosse em outro estado e na época atual, quando o Josivaldo perguntasse: sabe com quem está falando? O guarda de trânsito responderia: isto é uma verificação legal de transito e não um exame de DNA (paternidade).
E então o Josevaldo iria, literalmente, se REAR = expressão nordestina para “vai te foder”.
Grande abraço.
Obrigada pelo gratificante comentário, querido colunista Marcos André!
É corriqueira essa submissão psicológica de certos servidores públicos aos políticos “importantes”,
Quem mexe com político, ou parente de político, até a 5ª geração, é quem “paga o pato”. O feitiço vira por cima do feiticeiro. kkkkkk
Grande abraço!