MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

Imagine que você mostre a alguém o desenho de um triângulo, com as medidas anotadas, e pergunte se é um triângulo retângulo ou equilátero. Agora imagine a pessoa murmurando “éééé, veja bem, considerando os aspectos dialéticos dos ângulos e as relações entre os lados…” Absurdo, não é? Qualquer um com o mínimo conhecimento de matemática sabe a definição de um triângulo retângulo e de um triângulo equilátero.

Agora, a quantidade de tempo, de palavras e de bytes gastos nos últimos tempos para discutir se nazismo é de direita ou de esquerda é simplesmente absurda, e pior, sem chegar a nenhuma conclusão.

Minha opinião? Se temos um fato histórico conhecido, ocorrido não há milênios mas poucas décadas atrás, com farta documentação e bibliografia, e se ninguém consegue encaixar estes fatos na definição de esquerda ou na definição de direita, é porque estas definições não existem, ou existem e não prestam para nada.

Explicando: direita e esquerda hoje são auto-elogios (de um lado) e xingamentos (do outro). Quem diz ser “de esquerda” na verdade quer dizer que é bacana, legal, inteligente, gente boa, a favor da paz e da justiça e do amor e das criancinhas. Quem diz ser “de direita” quer dizer a mesma coisa. Naturalmente, quem é “de esquerda” acha óbvio que tudo que é ruim no mundo é de direita, incluíndo os pernilongos, os terremotos e o vírus da gripe; quem é “de direita” acha exatamente o mesmo da esquerda.

Como filho feio não tem pai, é óbvio que todos empurram o nazismo (e o fascismo) para “o outro lado”, mesmo sem o mínimo conhecimento sobre o assunto.

Mas falando no que interessa, o que pensa a “direita” e a “esquerda” hoje? Quais suas propostas? Infelizmente, poucas, e muitas vezes similares. É como diferenciar um corintiano de um palmeirense: eles usam camisas diferentes, tem idolos diferentes e odeiam uns aos outros, sem que isso implique que pensem de maneira diferente sobre qualquer outro assunto. “esquerdistas” e “direitistas”, em sua maioria, são fãs fanáticos de certas personalidades, repetem cegamente clichês (igual a um torcedor fanático explicando que seu time é o campeão do Torneio Balas Juquinha de 1931 e isso é equivalente a ser campeão mundial), odeiam e xingam qualquer um que não concorde com ele, e sua única proposta política é “mais estado e mais controle do estado sobre tudo”.

Naturalmente, uns e outros dão como pressuposto que o controle do estado se dará com base nas suas idéias, que são as certas, e jamais sob as regras “dos outros”, que são totalmente erradas.

Existe uma terceira posição, e esta sequer tem nome certo. Afinal, o termo “liberal” é considerado direita na Inglaterra, esquerda nos EUA, e odiado por direita e esquerda no Brasil. Mas, independente do nome, é o lado que quer menos governo, e menos controle do estado sobre o indivíduo.

E para não deixar um assunto pendente, vou ajudar você que lê a tirar suas próprias conclusões: Um partido com estas idéias é de esquerda ou de direita?

“Nós exigimos a nacionalização de todos os grupos investidores.”

“Nós exigimos participação nos lucros em grandes indústrias.”

“Nós exigimos […] a imediata socialização de grandes depósitos que serão vendidos a baixo custo para pequenos varejistas […]”

“Nós exigimos uma reforma agrária de acordo com nossas necessidades nacionais, e a oficialização de uma lei para expropriar os proprietários sem compensação de quaisquer terras necessárias para propósito comum; a abolição de arrendamentos de terra, e a proibição de toda especulação na terra.”

“A fim de executar este programa, nós exigimos: a criação de uma autoridade central forte no Estado.”

* * *

Histórias reais

O rei Carlos III descansava com sua família após o jantar quando seu filho, então um adolescente, lhe disse:

“Papai, nós os reis somos mais afortunados que os demais homens.”

“Por quê, meu filho?”

“Porque nossas mulheres jamais encontrarão homens que sejam superiores a nós, e por isso não ficarão tentadas a nos trair.”

Carlos III balançou levemente a cabeça e murmurou:

“Como você é tolo, meu filho. Rainhas também podem ser putas!”

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