Diz o ditado popular que “as aparências enganam.
Décadas atrás, Gasparino, um cidadão bonito e falante, funcionário público aposentado, conquistador barato e puxa-saco de políticos, parecia honesto, mas não era.
Astucioso e calculista, para adquirir a confiança das pessoas, fazia questão de devolver pontualmente tudo o que pedisse emprestado a alguém. Por isso, sem dificuldade, encontrava sempre quem lhe emprestasse dinheiro, mediante juros baixíssimos.
Do dia para a noite, Gasparino se apaixonou por Lisiane, a jovem e bela esposa de Osmar, um rico comerciante e um dos maiores “emprestadores de dinheiro” da cidade.
Julgando que a formosa dama ficaria ancha, por lhe despertar tamanha paixão, não hesitou em lhe enviar um bilhete, declarando os seus sentimentos e lhe propondo um encontro.
Depois de refletir sobre a monotonia do seu casamento e a indiferença com que o marido a tratava, a jovem esposa, após muita hesitação, resolveu aceitar os galanteios de Gasparino. Concordou em se encontrar com ele e entregar-se aos seus desejos, sob a condição de que ele guardasse segredo inviolável e de que lhe arranjasse 200 mil cruzeiros, de que ela naquele momento necessitava.
Gasparino ficou decepcionado com essa exigência, uma vez que a jovem senhora era casada com um homem muito rico. Pouco faltou para que a violenta paixão se transformasse em “fogo de palha” e se diluísse no tempo e no espaço.
Como o homem, pela própria natureza, é caçador, Gasparino não desistiu da investida sobre a bonita senhora e resolveu enfrentá-la, procurando um jeito de ludibriá-la, com uma ideia que lhe viera à cabeça. Mandou dizer-lhe que estava disposto a acatar o seu pedido e lamentava não ser mais rico, para oferecer-lhe uma quantia maior. Bastaria que ela lhe indicasse o dia, a hora e o local em que pudessem se encontrar, que ele lá estaria. Antes disso, lhe entregaria a importância solicitada.
Procurou o costumeiro “agiota”, que sempre quebrava seus galhos, pedindo-lhe um empréstimo de 200 mil cruzeiros, com os juros baixos de sempre. Com prazer, o agiota atendeu-lhe o pedido e Gasparino guardou o dinheiro para dar à sua amada.
A “bela dona” o avisou de que o marido iria viajar brevemente, a negócios, e que demoraria alguns dias para retornar. No mesmo dia ela o receberia em casa.
Alguns dias mais tarde, partiu o comerciante para a viagem a negócios, e a mulher logo mandou um recado ao seu novo apaixonado, dizendo que já poderiam se encontrar, e que ele fosse logo lhe entregar o dinheiro.
Logo pela manhã, Gasparino dirigiu-se à residência da amada, para entregar-lhe o dinheiro combinado. Levou consigo um dos seus amigos e na presença dele falou:
– Aqui estão, minha senhora, 200 mil cruzeiros bem contados, que lhe peço entregar ao seu marido, quando ele voltar da viagem.
Ela os recebeu, sem deslumbrar nas palavras de Gasparino qualquer malícia, senão a de querer evitar que o amigo suspeitasse de alguma coisa comprometedora. Jamais o amigo poderia saber que aquele dinheiro fosse o preço exigido pela bela mulher em troca dos seus favores. E assim, ela respondeu que cumpriria aquela incumbência, no mesmo instante da chegada do seu marido. Conferiu o dinheiro e disse baixinho a Gasparino, que ele voltasse ao cair da tarde, pois estaria sozinha.
No final da tarde, então, estava Gasparino adentrando aos aposentos da bela senhora, por ela conduzido. Passaram a noite juntos e ele não se contentou apenas com esse encontro. Soube convencer a amante de compartilhar com ele o leito, outras vezes, enquanto o marido estivesse viajando.
Quando Osmar, o marido cornudo, retornou da viagem, Gasparino aproveitou o momento em que o comerciante estava em casa com a esposa, para ir visitá-lo. Fez isso na companhia do mesmo amigo que testemunhara a entrega do dinheiro à amante. Depois dos cumprimentos, disse-lhe:
– Amigo, os 200 mil cruzeiros que te pedi emprestados antes da tua viagem, de nada me serviram e por isso, no dia em que viajaste, os devolvi à sua esposa. Dona Lisiane os contou na minha frente e deste amigo aqui presente. Por isso, peço-lhe que dê baixa em seus livros.
Virando-se para a mulher, Osmar perguntou se ela recebera esse dinheiro. Como a avarenta se via diante da testemunha ocular da entrega do dinheiro, nada pôde negar e pediu desculpas ao marido, por ainda não lhe haver entregue.
– Fica sossegado – afirmou o comerciante a Gasparino – hoje mesmo, sem tardar, cancelarei o débito em meu livro.
Ouvindo isto, o golpista se retirou muito contente, por ter assim punido a amante de sua avareza, e por ter tão habilmente gozado seus favores por vários dias, sem ter gasto um “vintém.”
É fácil de imaginar a revolta de Lisiane, diante do golpe sofrido pelo picareta Gasparino, coisa que jamais o marido poderia saber.
E morreu aí a carreira de “chifreira” da avarenta Lisiane.
Pronto!
Pelo menos serviu para baixar o fogo da avarenta.
Outro excelente causo, Violante.
Obrigada pela honrosa presença, prezado poeta Jesus de Ritinha de Miúdo!
O fogo da avarenta morreu aí…rsrs
Grande abraço.
Violante,
Parabéns pela bem-humorada crônica contribuindo pela alegria da sexta-feira. O causo demonstra a sabedoria e astúcia de Gasparino, que se apaixonou por Lisiane, a jovem e bela esposa de Osmar, um rico comerciante e um dos maiores “emprestadores de dinheiro” da cidade, segundo nossa prezada cronista. Entretanto, Lisiane era ingênua É muito fácil de imaginar a revolta de Lisiane, diante do golpe desferido contra ela pelo picareta Gasparino, coisa que jamais o marido poderia ter condições de ter conhecimento.Aproveito para fazer um pequeno comentário sobre o adultério.
A noção de adultério foi sendo modificada ao longo do tempo, mas é importante ressaltar que, como fruto de sociedades patriarcais, na qual o homem é o principal sujeito, o adultério se refere, quase sempre, ao ato praticado pela mulher.
Enquanto a infidelidade masculina era, na maioria das vezes, perdoada e considerada algo normal, a feminina era considerada gravíssima, e vista como pecado. Esse modo de encarar o adultério continua, de certa forma, em vigor nos dias de hoje.
Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria
Aristeu
Obrigada pelo generoso comentário, prezado Aristeu!
A sociedade machista em que vivemos sempre encarou o adultério masculino como um fato normal, quase sempre perdoado pela mulher.
Enquanto isso, a mulher que trai uma única vez é rotulada como adúltera para o resto da vida. Jamais esse rótulo será tirado. E é muito difícil o marido perdoar.
“Adúltera hoje, adúltera sempre”.. É o conceito que se tem da mulher que traiu o marido, ao menos uma vez..
E o marido é rotulado de corno para o resto da vida.
Desejo a você também, um final de semana pleno de paz, saúde e alegria!
Quebrou a cara… ou a bolacha.
A Lisiane, metida a esperta, se achava a ultima bolacha do pacote. Aprendeu a lição de que a última bolacha do pacote, na maioria das vezes, vem quebrada..
Verdade, Marcos André..
Obrigada pelo comentário gentil !.
Lisiane “quebrou a cara”, ao querer tirar vantagem de um trapaceiro, que a usou, abusou e lhe fez de besta… .
O vexame por que passou ainda foi pequeno ….kkkk.
Grande abraço!