MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

Vossuncê conhece algum índio bem grosso e sem muitos cuidados com o que faz com as mãos?

Nos meus anos de trabalho para a G.M. em São José dos Campos conheci o protótipo desse cidadão. Chamava-se Juan M., espanhol de nascimento, mas brasileiro de coração e passaporte. Era o Supervisor da estação de tratamento de efluentes da fábrica, e por isso era também conhecido como “Don Juan, El Rey de la Mierda”.

Três características eram bem intrínsecas ao nosso Rei: quatro bufas fedorentas a cada turno de trabalho, não mais que duas horas sem dar uma levantada na perna e proporcionar uma coçadinha reconfortante no orifício rugoso e, quando passava muito tempo sentado, tinha o refinado costume de enfiar aquela mão cheia de dedos pela parte frontal da calça e reorganizar a posição geométrica do receptáculo dos ovos. Muitas vezes, após essa piedosa atividade, levava a mão ao nariz para, através do apurado olfato, assegurar-se que estava manuseando o seu próprio saco e não o de outrem. Tenho a impressão de que essas delicadas atividades já faziam parte do DNA del Rey Don Juan.

O que se assucedeu bem assucedido é que um belo dia Juan foi convocado pela Justiça do Trabalho para, juntamente com um Advogado, representar a G.M. em um processo trabalhista no qual um seu ex-funcionário, demitido por incompetência e safadezas profissionais, estava processando a empresa para ver se descolava alguma grana – comportamento absolutamente normal no Brasil, onde as Leis Trabalhistas são apropriadas para proteger essa raça de gente – ou, pelo menos, era assim no meu tempo tupiniquense.

E eis que senão quando ali estava o desassombrado Juan sentado na primeira fila da sala de audiências, até então só ouvindo os argumentos do ex-funcionário e dos dois Advogados. A Juiza do caso, uma senhora de cabelos já grisalhos, dirigiu-se ao Juan, pedindo que se levantasse e se dispusesse a responder algumas perguntas, já que era o Supervisor que havia demitido o tal ex-funcionário.

Deu merda!

Juan levantou-se e a primeira coisa que fez foi meter a mãozorra por dentro da calça e providenciar a redistribuição física de suas partes pudendas no exíguo espaço dentro da cueca, bem na frente da Doutora Juiza. A Juiza, totalmente emputiferada, mandou que ele fosse retirado imediatamente da sala de audiência por desrespeito, encerrou o processo e sentenciou a G.M. a pagar a quantia estipulada pelo ex-funcionário.

Os agentes da Lei presentes à audiência cumpriram imediatamente a decisão judicial, mal disfarçando uma risadinha sem-vergonha.

Não sei se a Empresa recorreu da decisão, pois mudei de emprego logo depois.

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