MARCOS MAIRTON - CONTOS, CRÔNICAS E CORDEIS

Foi difícil reconhecer, mas ultimamente tenho tido dificuldade para escrever.

Não que me tenham escasseado as ideias. Ou que eu tenha perdido a capacidade de expressá-las. Não é isso, tenho certeza.

Também não posso dizer que me falta tempo livre. Porque tempo livre é algo que há muito tempo não tenho. Sempre me encontro tratando de alguma questão relacionada ao trabalho ou à minha vida pessoal. Isso nunca me impediu de escrever meus contos, crônicas e cordéis. Nem de compor e gravar minhas canções. As madrugadas existem também para essa finalidade.

Na verdade, por doloroso que me seja admitir, o que me tem freado a capacidade de escrever é o receio de falar o que não devo.

Porque tem muita coisa acontecendo em nosso país – dessas que dá uma vontade danada de comentar – e a vontade de escrever vem todo dia. Mas sempre vem junto aquele receio de entrar em polêmica. E ser chamado de fascista, de comunista, de bolsonarista, de lulista, de incompetente, de burro e outras coisas que não quero citar aqui.

Outro dia, lancei uma pergunta aos meus seguidores no Twitter: “Será que, se eu disser que achei a visita do Elon Musk positiva, estarei declarando automaticamente apoio ao governo?”.

Várias pessoas responderam que sim. Só uma respondeu que não.

De certa forma, foi uma pergunta retórica. Eu mesmo já sabia, de antemão, que avaliar positivamente a vinda de Elon Musk ao Brasil significaria ser visto por muitos frequentadores das redes sociais como bolsonarista.

Porque é assim que temos vivido no Brasil.

Se você é a favor do direito de o cidadão ter a posse de uma arma de fogo, você é fascista; se é contra é comunista. Se é contra a obrigatoriedade de vacinas contra a COVID, é negacionista; se é a favor, é globalista. Se diz que confia nas urnas eletrônicas, é golpista; se não confia, também.

É como se as pessoas não pudessem mais ter opinião própria. Todo mundo está seguindo uma manada. Ou um rebanho. A questão é apenas definir: qual? qual das manadas essa pessoa segue?

Tudo isso me faz lembrar a canção do saudoso Belchior: “Saia do meu caminho. Eu prefiro andar sozinho. Deixe que eu decida minha vida”.

Eu também prefiro andar sozinho. E, se for para errar, prefiro errar sozinho. Mas isso não tem sido fácil ultimamente.

De todo modo, espero que, admitindo publicamente a razão da dificuldade que tenho tido para escrever, eu consiga superar esse bloqueio.

Claro que continuarei atento aos impedimentos legais aos quais estou submetido, mas espero me incomodar menos com eventuais enquadramentos nas caixinhas ideológicas disponíveis.

A propósito, gostei muito da visita do Elon Musk ao Brasil. Esse cidadão parece ser mais que o homem mais rico do mundo no momento. Parece estar interessado em algo grande, revolucionário, que o faça entrar para a história.

Imagino que muitas pessoas vejam isso como egocentrismo, e talvez seja mesmo. Mas os ucranianos que estão utilizando a internet em plena guerra, com a ajuda do StarLink, certamente não estão preocupados com isso.

Aqui, em nosso país, espero que a conjunção de esforços de empresas de Elon Musk com empresas ou entidades governamentais brasileiras possam gerar bons frutos para o nosso povo.

Parece-me evidente que essa seja uma expectativa legítima, independentemente de quem seja o presidente da República. Mas também me parece claro que pouca gente está interessada nisso. Pelo menos nos dias atuais.

Hoje, para alguém se posicionar sobre algo, geralmente é necessário levar em consideração fatores político-ideológicos, digamos, mais complexos.

E segue o jogo!

19 pensou em “DIFICULDADE PARA ESCREVER

  1. Caro Marcos, este seu receio de escrever tem um nome: autocensura.

    Infelizmente em tempos de cancelamentos e perseguições a quem emite opiniões, este medo, que já não existia desde o fim da década de 70, voltou com tudo.

    Mas até outubro deste ano teremos que nos posicionar sobre o que queremos para nosso país. São duas alternativas, não há uma 3ª via, nunca houve.

    Um lado fala em liberdade de opinião, de expressão, da família, de religião, da defesa da vida em todas as suas etapas, da propriedade privada. O outro lado fala em defesa da democracia, porém quer regular a imprensa, a internet, calar vozes, relativizar a defesa da vida, da propriedade, dentre outros controles.

    Eu acho que nunca foi tão fácil escolher o caminho. Gostaria de saber sua opinião. Veja que eu não disse o nome de ninguém aqui para não me comprometer. rsrsrs

    • Prezado João, concordo 100% com seu diagnóstico de autocensura.
      Quanto à segunda parte do seu comentário, o que eu tenho evitado é exatamente me posicionar quanto a qualquer alternativa eleitoral.
      Espero que o povo brasileiro faça a melhor opção, mas prefiro não revelar a minha, uma vez que, sendo proibido de me manifestar de forma político-partidária, poso atrair reprimendas.
      Abraço!

  2. Meu caro amigo, irmão conterrâneo MMM, eu poderia colocar aqui o meu entendimento sobre sua postagem mas, lendo o comentário do João Francisco, me chamou atenção, logo, o terceiro parágrafo: “Mas até outubro deste ano teremos que nos posicionar sobre o que queremos para nosso país. São duas alternativas, não há uma terceira via, nunca houve.” Desde 1958, quando tinha 15 anos de idade e entrei para o Liceu do Ceará para cursar a primeira série do ginasial, consegui aguçar (meus familiares mais próximos garantem que eu “apenas” melhorei) meu senso de observador. E, acredite, tenho observado muito e me ajudado a formar meus próprios conceitos disso ou daquilo, independentemente de serem verdadeiros e legais ou não. O João, sem ser diferente de nós, “garante”, que, “são apenas duas alternativas”! São? Eu não vejo assim. E, se um alto percentual da sociedade que vai decidir em outubro vê assim, com todo respeito que todos merecem, “nós tamos fu….. e mal pagos”! Nós que decidimos que são apenas duas, ou algum tipo de conveniência nos leva a fazer isso? E aí o próprio João me perguntaria: “e Zé, qual seria uma terceira, quarta ou quinta via”? Não sei. Mas sei que precisamos sair dessa bolha de aceitar tudo. Virar bitola para linha férrea, entendo, não é legal. Estamos no caminho da aceitação e de tirar de nós a culpa e a responsabilidade de muita coisa que, na prática, depende exclusivamente de nós. Ora, pode parecer que nada tem com o assunto postado, mas tem com o que estou comentando: “por que aceitamos que é feio ser “preconceituoso” e isso constitui crime, e é “lindo” ser homossexual? Dirão: ser homossexual é uma escolha pessoal. Ué, e ser preconceituoso não é? No fundo, MMM, concordo com o João, quando ele diz que a sua preocupação é uma autocensura. Mas, entendo que, no fundo, é também um respeito à sua profissão e às determinações funcionais. Bom dia.

    • Caro Ramos, o nosso querido Aristeu Bezerra colocou ontem uma frase anônima que eu considero muito e cabe aqui no que eu vou colocar:

      “Lembre-se de que só existe um tempo importante e este tempo é agora. O presente é o único tempo sobre o qual temos domínio.”

      Portanto o que vai acontecer em outubro eu não posso garantir, pois está fora do meu domínio. Posso falar por hoje, e não vejo nenhuma possibilidade agora da candidatura da 3ª via. Ainda assim, as que se colocam como postulantes, são todas ligadas ao Sistema que demoniza os conservadores.

      Reparou que de uns tempos para cá muitos influenciadores estão a chamar o PR e quem o apoia de simpatizantes do Nazismo? Isso não é à toa, tem método. Contra um líder de cunho nazista e seus seguidores, vale qualquer coisa, inclusive não seguir a Lei.

      V. nunca pensou na possibilidade de um dia ter voltado no tempo e eliminado Hitler antes dele ascender ao poder? Imagina quantas vidas seriam salvas? Pois é, hoje estão implantando na cabeça das pessoas que eliminando JB aconteceria o mesmo. O “ódio do bem” existe e está a toda, acredite.

      Fique com Deus!

    • Querido amigo-irmão José Ramos!
      Fico feliz com suas palavras, porque elas são sinal de sua compreensão com a situação e apoio às minhas reflexões.
      Eu não tenho nada contra as pessoas escolherem um lado para si. O que me incomoda é escolherem um lado para mim.
      Mas vejo que cada vez que faço uma opção, um lado me empurra para o outro. E vice-versa.
      Muito grato pelo apoio! Abraço!

      • MMM, exatamente por conta disso (de alguém escolher um lado para você), que me referi ao comentário do João, “escolhendo” que temos apenas duas vias. Se a terceira é fraca ou a quarta nem dá pra saída, isso não nos interessa. O que importa é que não permitamos, jamais, que nos imponham “apenas duas”. Claro que eu sei que mais vias não dependem de nós, eleitores.

  3. E o contrassenso é ainda maior quando se tem que a patrulha que impõe o silêncio (no caso de opiniões divergentes das desses seres moralmente superiores, defensores do belo e do justo) diz defender justamente a democracia que asfixiam.

    • Grato pelo comentário, Sampaio!
      Toco dia vejo gente defendendo a democracia, mas ainda não está claro para mim quem a está atacando (até está, mas não digo).
      É um jogo de empurra danado.

  4. Gostei, gostei muito, Marcos. É aquele tipo de texto que faz a gente pensar “eu queria ter dito isso”.

    Sua defesa do “direito de ter opinião própria” faz um interessante contraponto ao Rodrigo Constantino, que analisa um texto de Fersen Lambranho (também achei muito bom) e cai exatamente naquilo que você diz: o Rodrigo se queixa que o texto fale da humanidade como uma só, e acha que o Fersen deveria ter dividido a humanidade em dois pedaços: o certo e o errado. O que eu acho interessante é que todo mundo que faz isso tem a certeza inabalável de que o lado certo é o seu.

    Daí para decretar que não há diálogo possível e que o “outro lado” é um inimigo a ser destruído, é só um passo. Em seguida vem a guerra, como estamos vendo na Ucrânia, morrem milhares ou milhões, e mesmo depois de todas essas mortes ainda há um monte de gente que diz ter a consciência tranquila porque “estava do lado certo” e só matou quem “merecia morrer”.

    Que venham mais “contos, crônicas e cordéis” como esse. De novo, parabéns.

    • É isso mesmo, Marcelo.
      Não conheço esses textos do Rodrigo Constantino e do Fersen Lambranho, mas vou procurar pra ler.
      O fato é que gostei de expor esse sentimento de autocensura que me incomoda.
      É bom sentir o apoio de vocês aqui.
      Abraço!

  5. Caro Marcos, voltei para falar da visita ao BR de Elon Musk. Não é só o fato de ser “o homem mais rico do mundo” que o destaca. Realmente é uma pessoa diferenciada que quer melhorias para a sociedade.

    Bezos e Gates também são muito ricos, porém a visão do mundo que eles têm não os destaca como benfeitores da humanidade..

    Se quase todos os seus seguidores do Twitter consideraram que achar boa a visita de Musk no BR é ser considerado bolsonarista; isso diz muito à respeito deles, pois estão do lado da bolha que quer o pior para o país.

    Sendo sincero, apoio o atual governo, porém nem tudo que o mesmo faz tem o meu total aceite. Vou citar apenas uma quase ação que teve minha total desaprovação. Foi quando em 2019 o PR quis nomear seu filho 03 para embaixador nos EUA. Que bom que isso não prosperou e a intenção não trouxe prejuízos maiores.

    Voltando ao Musk, é evidente que ele não veio aqui para dar dinheiro de graça. Porém eu vi com bons olhos a intenção de monitorar mais de perto e o tempo todo nossa Amazônia.

    Quanto à proposta que lhe fiz no último parágrafo do 1º comentário foi uma brincadeira, pois sei de seu impedimento legal de fazer posicionamentos políticos.

    Abraço

    • ” Vou citar apenas uma quase ação que teve minha total desaprovação. Foi quando em 2019 o PR quis nomear seu filho 03 para embaixador nos EUA. Que bom que isso não prosperou e a intenção não trouxe prejuízos maiores.”

      Não prosperou e ele sabia que não prosperaria só que gastou muito tempo e energia que poderia ter dedicado a outras questões importantes ao seu governo .

      • Caro Airton, realmente se há algo que tem sentido é que tempo é dinheiro.

        Mas quanto tempo foi gasto nesta especulação da nomeação do 03 para a embaixada dos EUA? Votações no congresso ficaram paradas? Medidas governamentais deixaram de ser feitas? Dá para medir o prejuízo material desta quase nomeação?

        Na verdade é que tal vontade do PR e de seu filho geraram um desgaste para o governo, que estava ainda em seu início. Houve outros erros também, que não citei, ,as geraram até mais desgastes. Só que ninguém é perfeito, muito menos Bolsonaro.

        O que eu levo em consideração é que, do que ele propôs fazer, em sua essência está indo no caminho certo. Dados o que os seus inimigos vêm fazendo nestes 3 anos e meio para lhe dificultar a vida, tá excelente o trabalho feito até agora.

  6. Mairton, compartilho com você esse sentimento. Sou rotulado por minhas posições e tudo que eu quero é o direito de me expressar. Em sala de aula, já me chamaram de bolsominion porque expliquei o efeito que a redução do compulsório, feita por Guedes, na economia.

  7. Pingback: COLUNISTA FUBÂNICO ROTULADO | JORNAL DA BESTA FUBANA

  8. Bom dia!
    Concordo que, atualmente, a situação anda polarizada.
    Vejo como um fato positivo pois mas não existe nada mais saudável do que o contraditório.
    Sob argumento de defesa de uma “democracia de viés único”, certo tribunal de um país banânico, vem estuprando a carta que deveria defender, praticando a censura de forma escandalosa, prendendo parlamentar por parlar, exilando jornalista banânico enfim, calando qualquer voz discordante do viés que almeja dominante ou que venha a lhe fazer críticas.
    Em verdade, naquele país banânico, o Estado Democrático de Direito não existe mais.
    Democracia é a convivência da divergência, o resto é ditadura.
    O eufemismo do silêncio e da conivência das várias vertentes da sociedade daquele país banânico não converte Estado Juristocrático em Estado Democrático de Direito!
    Como vivemos num país em que fake news (agora reconhecida como fofoca) não é crime, a gente pode falar e discordar à vontade.
    Ou não (by Caetano).

    • Também sou a favor do debate, e até da discórdia, Nonato.
      E penso que a polarização pode acontecer em vários aspectos da vida, com amplas maiorias em cada polo. Às vezes há até polarizações aparentes, com uma grande maioria de um lado e uma minoria barulhenta do outro. Se a minoria barulhenta tiver apoio de detentores de grandes meios de comunicação, a polarização fica parecendo maior do que realmente é.
      Por isso minhas considerações nesta coluna foram muito pessoais, relatando a minha autocensura (palavra que peguei emprestada no comentário do João Francisco), por receio de ser identificado com um ou outro grupo, quando, na verdade, não tenho interesse de me filiar a nenhum.
      Por exemplo: sou a favor que todo cidadão com as faculdades mentais em ordem, e sem antecedentes criminais, tenha direito a ter em sua residência uma arma, para a defesa de si e da sua família. Ao defender esse ponto de vista, sempre aparece alguém introduzindo o atual Presidente da República na conversa. Acontece que penso dessa maneira desde muito antes de saber que existia uma pessoa chamada Jair Bolsonaro. Eis a razão do meu incômodo.
      Mas isso há de passar. A reação dos leitores aqui no JBF tem me ajudado.
      Grande abraço!

      • Sem dúvidas, é deveras complicado para ocupantes de cargos de natureza singular certos pronunciamentos e louvo a autocontenção confessada
        Conseguir manter-se no fim do ponto de contenção, diria até que enxergar esse ponto de contenção, torna-se ainda mais espinhoso na medida em que a perspectiva de cada um ou de cada lado vai esticar ou encurtar conforme a conveniência.
        Grande abraço e parabéns!

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