CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

De tempos em tempos é importante abrir as gavetas dos arquivos, contendo minhas lembranças impressas, sem que isto se destine à procura específica de determinado fato.

Nessas remexidas vou desencavando o que guardei para utilizar quando ficasse velho.

E agora, que o tempo previsto está chegando, me surpreendo com certas atitudes e hábitos do passado, ao examinar quanto os hábitos da vida social mudaram.

Nas épocas de dezembro, a exemplo, eu me dedicava a entrar em ação, verificando minha lista de quase 100 amigos, para lhes cumprimentar com um cartão especialmente preparado para a época, os quais eram remetidos assinados.

Com boa antecedência mandava imprimir cartões com o texto:

Com os melhores desejos de Feliz Natal e um Ano Novo cheio de felicidades, Carlos Eduardo Carvalho dos Santos e Família.

Depois de subscritar os envelopes, levava-os ao antigo Departamento dos Correios e Telégrafos, para serem postados. Comprava os selos e ainda tinha um trabalhão para ser desenvolvido em casa, a fim de colar nos envelopes.

Mesmo assim procedíamos, todos, com uma satisfação incomum. Era como se presenteássemos cada uma das famílias daqueles amigos com u’a mensagem escrita.

Não possuindo máquina de escrever, eu chegava uma hora antes, ao Banco, para datilografar tudo, com o maior esmero. A tarefa se prolongava por muitos dias. E que satisfação me envolvia tal trabalho!

O curioso da iniciativa era que cretinamente a maior quantidade de colegas da tal lista eram meus colegas de trabalho diário no Banco do Brasil.

Mas, mesmo nos vendo quase diariamente, eu achava que o cartão representava algo mais do que uma simples renovação de amizade: era uma prova de profundo respeito e afeto.

Os tempos mudaram tanto que de tais atitudes só restou a remessa, obedecendo a mesma lista – agora muito reduzida porque grande parte dos amigos já se foi, e ainda mais, essas mensagens, sendo por via eletrônica, não provocam a emoção que um envelope fechado conseguia despertar.

Felizmente, nos dias atuais, há algo mais belo: as mensagens são ilustradas e coloridas, o que ao meu entender, jamais terão a mesma força para a exprimir meu profundo afeto e a demonstração de sentimentos embevecedores.

Hoje, olhei para a lista, datilografada em ordem alfabética e fiquei saudoso daquela fase em que eu tinha tantos amigos.

Aproveito este momento para fazer uma oração, e tendo à mão a velha lista de amigos que receberam meus cartões, em 1960, elevo a Deus meu pensamento desejando momentos felizes para os que se foram e os poucos que ainda estão por perto.

É uma forma espiritual de chegar a todos. Por isso se costuma dizer que tudo se renova incontrolavelmente, de tempos em tempos.

Um comentário em “DE TEMPOS EM TEMPOS

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