O concriz, ou corrupião do Nordeste, é um pássaro que imita o canto de todos os outros pássaros e, às vezes, aprende a falar como o papagaio.
Décadas atrás, morava no sertão da Paraíba um poderoso e prepotente chefe político, “coronel” Matias, casado com Dona Elsa. O casal tinha quatro filhos.
Nas férias escolares, Ritinha, 17 anos, a filha mais velha, que estudava na capital, chegava, para alegria dos pais e irmãos. Muito bonita e mimada, a moça gostava de passear pela fazenda e se encantava com as plantações.
Num certo período de férias, Ritinha se tomou de amores por um concriz amestrado, ou corrupião, que pertencia a Joca, um antigo carpinteiro da cidade. O pássaro tinha o canto belíssimo e a todos encantava.
A moça pediu ao carpinteiro que lhe vendesse o concriz, mas recebeu um não. O homem lhe disse que o seu concriz não estava à venda, e que era um pássaro de estimação. Para ele, era como se fosse um filho.
O concriz imitava canários, patativas, assobiava, pousava no ombro do carpinteiro e coçava sua orelha com o bico.
Durante dias seguidos, Ritinha insistiu com Joca para que lhe vendesse o pássaro, e a resposta era a mesma. O carpinteiro não aguentava mais a presença da jovem e a sua insistência. Muito mimada, a moça estava acostumada a ter todos os seus desejos satisfeitos. E assim, terminou tirando a paciência do carpinteiro, que cortou a conversa e levou a gaiola com o pássaro para dentro da oficina, demonstrando sua irritação.
No dia seguinte, logo cedo, Ritinha veio novamente à carpintaria, com jeito dengoso e a mesma insistência para comprar o concriz. Diante das repetidas recusas do carpinteiro, ela reagiu, dizendo que seu pai, lhe autorizara a insistir, pois o concriz seria tratado bem melhor na casa dele, que era um homem muito rico.
Humilhado, Joca sentiu que o “coronel” Matias estava querendo usar seu autoritarismo, para forçá-lo a vender o seu concriz de estimação, e assim satisfazer o capricho de uma jovem mimada e caprichosa.
Sentindo que o concriz, objeto de sua ternura, estava lhe fugindo das mãos, o carpinteiro, com o coração partido, resolveu tomar uma atitude drástica. Abriu a porta da gaiola e retirou de lá o pássaro encantador, que, nesse instante, aproveitou para lhe fazer um carinho com o bico. Num gesto delicado e de despedida, o carpinteiro beijou a cabecinha do concriz, e diante do olhar estupefato da jovem, deixou que ele batesse suas asinhas e voasse.
Nunca me esqueci da primeira vez em que vi um.
Senti um amor platônico por esse bichinho. As cores vivas, muito vivas… Achei-o até engraçado pela combinação delas lembrando um pote de mostarda com um terno preto.
É lindo demais.
Obrigada pela presença, prezado Nikolai Hel! Realmente, o concriz é um pássaro lindo, combinando suas cores vivas com um canto maravilhoso! Viva a natureza!
Muita Saúde e Paz!
Já fui enganado certa feita por um desses. Fiquei ouvindo o canto e notei que ele mudava constantemente o canto. Belíssimo pássaro e Violane conduz Sancho, neste frio acordar em São Bernardo (êita manhã gelada), ao calor do canto do mais nordestino dos pássaros.
Belíssimo fim de semana, belíssima escritora.
Beijo no coração!!!!
Obrigada pelas palavras gentis, prezado Sancho Pança! O concriz é mesmo o “mais nordestino dos pássaros”. Seu belíssimo canto é variado, pois ele imita o canto de todos os pássaros. E também fala como o papagaio. Coisas de Deus!.
Belíssimo fim de semana e beijo no coração para você também, fidalgo amigo!
Mas que maaaaaravilha, Professora! A ave e o cântico emoldurando o texto. Tudo perfeito. Parece que estou vendo e revendo minha Avó, com um pauzinho, dando papa de leite para o corrupiãozinho dela, ao mesmo tempo que dizia: “canta meu fiinho, canta”!
Obrigada pelo generoso comentário, querido escritor José Ramos! Imagino o carinho da sua avó, alimentando esse pássaro tão lindo, ainda novinho.
O corrupião é considerado um dos pássaros mais bonitos da natureza, por suas cores vivas e seu canto variado, já que imita todos os pássaros.
Coisas de Deus, que criou o Céu e a Terra! Somente Ele é Supremo!
Muita Saúde e Paz, querido amigo!
Violante Pimentel
Violante,
Parabéns pela crônica poética escrita com a delicadeza do canto de um pássaro que imita o canto de todos os outros pássaros. O seu texto é um presente nessa sexta-feira interrompendo o tédio dessa pandemia que provoca uma calmaria em nossas emoções. Compartilho um poema de Carlos Drummond de Andrade com a prezada amiga
SONETO DO PÁSSARO
Amar um passarinho é coisa louca.
Gira livre na longa azul gaiola
que o peito me constringe, enquanto a pouca
liberdade de amar logo se evola.
É amor meação? pecúlio? esmola?
Uma necessidade urgente e rouca
de no amor nos amarmos se desola
em cada beijo que não sai da boca.
O passarinho baixa a nosso alcance,
e na queda submissa um voo segue,
e prossegue sem asas, pura ausência,
outro romance ocluso no romance.
Por mais que amor transite ou que se negue,
é canto (não é ave) sua essência.
Saudações fraternas,
Aristeu
Obrigada pela gentileza do comentário, prezado Aristeu Bezerra! Neste tempo de Pandemia, tensão e medo, para relaxar, nada melhor do que nos fixarmos nas belezas da natureza, presentes de Deus, o único ser Supremo. Ouvir o canto dos pássaros é uma verdadeira terapia.
Obrigada por compartilhar comigo o belíssimo “SONETO DO PÁSSARO”, do grande poeta Carlos Drummond de Andrade! Adorei!,
Muita Saúde e Paz!
Violante Pimentel