CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Apaixonei-me pelo radio-amadorismo quando eu contava uns 10 anos de idade, depois de conversas com meu tio Pericles Pacífico Galvão dos Santos, irmão de papai, nascido do primeiro matrimônio de meu avô, João Pacífico Ferreira dos Santos e Anna Alexandrina Galvão dos Santos.

Sempre que mamãe ia ao centro da cidade do Recife, a fim de comprar aviamentos para suas costuras, eu a acompanhava. E nessas andanças ela me levava. “A Nova Magnólia”, às “Casas José Araújo” e ao armazém de Fortunato Russo Sobrinho, eram as lojas que visitávamos com mais frequência.

De sua programação de visita às lojas, havia costumeiramente uma passadinha pela Farmácia Fernandes, na Rua Nova, de propriedade de meu saudoso tio. Ele nos recebia em sua escrivaninha e a prosa versava sobre assuntos de família.

Rádio-amador, prefixo PY 7- BN, dono de um automóvel Nash muito bonito, comerciante titular da firma Pericles Santos & Cia. Ltda., dona do Laboratório Labortecne Ltda. e da Farmácia e Drogaria Fernandes, “Tio Lique”, tal qual seu apelido, me falava sobre a atividade de se comunicar com as pessoas, via rádio, o que já me fascinava.

Recordo a atenção que ele me dispensava, respondendo perguntas e ensinando-me como tecnicamente as coisas funcionavam nos radiotransmissores e receptores. Reabrindo as gavetas da memória, recordo o que me disse sobre as Ondas Hertzianas.

Ouvi que fora o físico alemão Heinrich Rudolf Hertz quem construiu o primeiro transmissor de ondas. E depois – mais recentemente – graças a noções que recebi de meu filho Gustavo Jorge, atualizei as informações.

Em sua série de experimentos, o Prof. Hertz determinou a frequência e o tempo de propagação das ondas eletromagnéticas, concluindo-se que elas se propagavam através do éter, na mesma velocidade da luz. Isso permitiu a transmissão de voz através de rádios transmissores e receptores.

O físico alemão Heinrich Rudolf Hertz

Em 1888 Hertz publicou suas experiências. Contava apenas 31 anos. Faleceu em 1º de janeiro de 1894, aos 37 anos de idade, vítima de septicemia. Em sua memória passaram a ter seu nome as ondas eletromagnéticas, conhecidas como: Ondas de Hertz.

Isso me despertou a admiração por aquela atividade, através da qual ele mantinha muitos amigos residentes em várias cidades do Brasil. Meu fascínio pela transmissão de informações em geral começou através das conversas com “Tio Lique.”, o radioamador.

Aprendi, então, a “operar” como “Esparadrapo” (aquele que vive colado ao aparelho de rádio-receptor), através das Ondas-curtas, onde se ouvia as transmissões de um grupo de apreciadores que trocava entre si serviços de informações, em sua maioria ajudando as pessoas em suas dificuldades, geralmente durante as madrugadas, quando era melhor a propagação das Ondas Hertzianas.

Falar sobre radioamadorismo levaria muitas laudas e não é, agora, o caso. Já fiquei muitas horas da madrugada com o ouvido “colado no radiozinho “Philco”, aainda funcionando a válvulas, quando recém-casado, instalei uma antena externa potente para melhor captar as transmissões, mesmo dificultado pela estática, que naquele tempo era terrível.

Rádio-receptor dos anos 50

Fascinava-me ouvir as chamadas dos aficionados, do Recife para Porto Alegre e vice-versa. Já amanheci o dia saindo de casa para dar um recado urgente à família de uma pessoa que estava desaparecida e fora encontrada em distante rincão gaúcho. Sentia-me um radioamador “adotivo” e seguia seus métodos. Na verdade um Agente e Notícias.

Adulto, a partir dos 15 anos, fascinado pelo jornalismo compreendi que meu destino estava ligado às informações entre as pessoas. E isso pratiquei durante mais de 50 anos nas atividades em jornais.

Agora idoso, tenho o privilégio de me tornar um receptor e transmissor de notícias, graças ao Satélite, que me permite mandar e receber informações, transportar imagens e até filmes, não apenas para o Brasil, mas para todo o mundo, sem sair de minha escrivaninha. Considero-me um radioamador sem registro, porém com atividade diária, iniciando ainda de madrugada.

E nesse embalo adotei um estilo de correspondência por correio eletrônico, a partir de meu “bunk”, em Olinda, engordando minha cartela de amigos, que chegou a contar com mais de 50 comunicantes via e-mail.

Ao aprender o manuseio do aplicativo Whats App, multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones, que além de mensagens de texto atendem às remessas de vídeos e documentários em PDF, dei um pulo em meu sonho de me tornar um Agente de Notícias Internacional.

Não que eu deseje tanto nem vise ganhos pecuniários, mas resolvi me tornar o que sempre desejei: um jornalista independente internacional, operando para restrito número de 72 amigos, com quem frequentemente me atualizo no que acontece em todos os quadrantes do mundo.

Inicialmente criei um grupo pequeno onde consegui chegar aos Estados Unidos para falar com minha nora Eliane, meus netos e bisnetos, depois fui varando o Brasil inaugurando bons amigos como Dr. Pedro Salviano Filho, no Paraná, Brito e Zanetti em São Paulo e até gente do Amazonas.

Fora do âmbito familiar organizei um grupo de colegas jornalistas e passei a prospectar artigos e reportagens que julgava de importância geral e assim compartilhar notícias “quentes”. Através de sugestão do médico e jornalista, Luiz Guimarães, titulei a “instituição”: “CE – Comunicado Expresso”.

Depois de adotar o “zap” a iniciativa tomou vulto e renomeei a iniciativa, que passou a ser: “Correspondentes Unidos”. Jamais provei brinquedo tão atraente.

6 pensou em “CORRESPONDENTES UNIDOS

  1. Como sempre suas histórias remetem as minhas próprias. É mesmo impressionante. No começo dos anos 70, eu e meu irmão vivíamos grudados no antigo rádio lá de casa, encantados com as transmissões de lugares distantes, dos pipipi e da barulheira que tudo aquilo fazia. O tal QRM. Compramos um radinho PX 23 canais, só AM. E mudou nossa vida. Todo tipo de antena caseira habitou o telhado de nossa casa, e com o tempo, fomos nos aperfeiçoando. Hoje fabricamos antenas para Rádio Amador, de todas as bandas e praticamente de todos os modelos, e vendemos para todo o Brasil e boa parte do mundo tem pelo menos uma antena Diex.
    Obrigado mais uma vez pelo inspirador texto.

    • Ah, meu caro Sérgio!

      V. nem pode imaginar quão é gratificante para um cronista saber que ajudou um leitor atento a comparar seus tempos.

      Aos sete anos vi meu primo, ainda seminarista, curioso em
      mecânica, José Maria Cordeiro de França, montar seus “rádios de galena” e me explicava a função de cada uma daquelas pequenas peças que ele mandava, comprar nem sei onde, só sei que vinham através de sugestões contidas na revista Mecânica Popular.

      Ele chegou a assinar aulas de um tal de “Monitor…” e do Instituto Universal Brasileiro, que ensinava um bocado de matérias técnicas por correspondência.

      No casarão onde passávamos temporadas eu e ele, na Rua aRosário da Boa Vista, 136, no Recife, juntamente com nosso tio Sebastião, conseguiram instalar uma antena de dois mastros, lá no alto da casa e depois daquela geringonça armada, se ouvia a BBC de Londres e outras que não me lembro.

      Daqueles momentos inolvidáveis surgiu meu interesse pela notícia. Pelo vai-e-vem das informações que se podia transmitir.

      Viria logo mais o impulso para escrever, publicar e com o tempo passando, eu me fui desenvolvendo e a idade crescendo, atéa maturidade quando descobri a tendência para a historiografia dessas lembranças.

      Muito grato por sua leitura e comentário.

      Receba.meu entusiasmado abraço.

      Carlos Eduardo.

  2. A vida tem muitos caminhos, que às vezes até nem nos damos com sua existência.
    Veja agora, caro amigo.
    Abrimos um canal de comunicação, nos termos, modesto e com o prosseguir dos nossos contatos descobrimos traços comuns dessa vida, que nem imaginávamos.
    Somos jornalistas “jurássicos”, ligados ao Banco do Brasil – por laços diferentes, mas com certo sentimento, e agora nos juntamos, ainda mais, através do radioamadorismo, que já pratiquei com certo entusiasmo, até sua substituição pelo WhatSapp.
    Nesses passos, terminamos servindo de base para o que dizia Marshall McLuhan – integrantes da aldeia global – PR7AMC (hoje fora de operação)

  3. Arael,

    Suas palavras robustecem ainda mais nossa comunicação e sempre que possível estarei aproveitando as Ondas do Prof. Hertz para nos favorecer mutuamente.

    Há pouco mais de um ano biografei Romildo Gláurio da Rocha Leão, que era rdioamador, e lhe falarei sobre disso por e-mail, porque preciso tomar umas providências a respeito de uma saida que darei amanhã, ainda como parte da “Programação Comemorativa dos meus 85 anos”, quando Jeanine, a filha única vem me buscar para a gente badernar pela casa de seus netos, etc.

    Até mais e com um abraço, o

    Carlos Eduardo.

  4. Quando o grande cantor pernambucano, Claudionor Germano, meu querido amigo, fez 80 anos, o médico, compositor, jornalista, escritor e não sei o que mais, Reinaldo de Oliveira, filho do saudoso médico, professor, jornalista e teatrólogo Valdemar de Oliveira, lhe disse que ele não tinha mais 80 anos e sim 81 porque os 80 já se haviam ido.

    Minha contagem é assim. Falo, respondendo a algumas pessoas, mais ou menos desta forma:

    Quantos anos o senhor tem?

    – Tive 85, agora estou “dentro” dos 86.

    Pelo visto, você vai custar um bocado a me pegar…

    Um abração,

    Carlos Eduardo

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