Mais conversas em livro que estou escrevendo (título da coluna).
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General ADEODATTO MONTALVERNE, da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco. Convidou, para uma conversa, os 15 estudantes universitários que iriam ao Congresso da UNE em Salvador – preparatório do de Ibiúna (em São Paulo, 1968, onde alguns milhares acabaram presos). A sala reservada para esse encontro começava por mesa com quatro cadeiras e, ao fim, pequeno auditório. Todos entraram e foram para esse auditório. Fui o último. O general estava sentado, à mesa. E considerei deselegante ficasse sozinho. Ou ele poderia pensar que estávamos com medo. Então sentei numa cadeira, à sua frente. E ele, olhando para mim,
– Chamei porque estou precisando da opinião de vocês.
– Com todo prazer, general.
– É o seguinte. Como estão indo para o Congresso, não sei se prendo todos antes ou depois.
– Aceita sugestão?, general.
– Com prazer.
– Prenda só depois.
– Então está combinado. Vai ser na volta.
Procurou minha ficha, entre as que estavam na sua frente, e completou
– Vejo que volta dia tal, hora tal, num voo da Varig (disse o número). O senhor eu prendo no aeroporto, certo?
– Combinado, general. E muito obrigado pela deferência.
O engraçado, nessa história, é que ninguém foi preso. Era só uma brincadeira. Nos anos de chumbo, os generais gostavam de se divertir.
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PADRE EDWALDO, da paróquia de Casa Forte. Fez bela homilia sobre a Virgem Maria. Pouco depois, mandei para ele esse bilhete
– Meu caro amigo pastor
Este pobre pecador
Vem lhe pedir um favor
Pra quem vive andando ao léu
O de falar com Maria
Para ver se ela podia
Num gesto de cortesia
Me fazer entrar no céu.
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LUIS FERNANDO VERISSIMO, escritor. Entrando no Beijupirá, em Porto de Galinhas. Grupo grande, com gente de fora, Millôr e outros. Um famoso político do interior pernambucano, então presidente da Câmara dos Deputados, gritou no fim do restaurante
– Luiz Fernando Verissimo, amigo velho, o que há de novo?
Silêncio absoluto. Todas as mesas pararam suas conversas, na espera da resposta. Dava para ouvir as moscas. E ele, que não gosta de falar, respondeu apenas
– O que há de novo, deputado, é essa nossa amizade.
O restaurante bateu palmas.
Este congresso da UNE em Ibiúna – SP ficou famoso. Foi organizado pelo Zé Dirceu, notório líder “revolucionário” da época.
Em 2018 Zé lançou um livro sobre suas “aventuras revolucionárias” e Augusto Nunes, então na Veja fez o comentário sobre este congresso, que eu coloco uma parte:
“Em 1968, quando era presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, José Dirceu resolveu que o congresso clandestino da UNE, com mais de mil participantes, seria realizado em Ibiúna, com menos de 10.000 moradores. Até os cegos do lugarejo estranharam o tamanho da procissão de forasteiros. No primeiro dia, Dirceu mandou encomendar 1.200 pães por manhã ao padeiro que nunca passara dos 300 por dia. O comerciante procurou o delegado, o doutor ligou para seus chefes e a turma toda acabou na cadeia.”
A sorte do Brasil é que os “revolucionários” da época eram tão incompetentes e burros a ponto de nem o Gen. Montalverne os levar a sério.
O final desta “guerra contra a ditadura”, nome que a esquerda deu à tentativa de implantar o comunismo no Brasil, foram cerca de 300 mortos e desaparecidos pelo regime ou justiçados pelos comunas, fora os inocentes que morreram em atentados terroristas.
O que houve aqui no Brasil em termos de repressão não foi nada em comparação às execuções ocorridas em Cuba depois da implantação do comunismo e, apesar de algumas injustiças, o preço foi barato para preservar nossa liberdade. A guerra não é bonita, quem começou perdeu a batalha no campo, mas ganhou infelizmente a guerra cultural.
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Mestre José Paulo já disse que irá publicar estas deliciosas historietas de 1/2 minuto. Será um dos bestsellers do ano. Não vejo a hora de tê-lo na vista. Mas não precisa ser prá logo. Aguardemos mais muitas conversas
Geniais conversas de 1/2 minuto. A de Veríssimo é impagável. E a forma de contar, também é de uma maestria a ressaltar. Viva a coluna, o autor, viva tudo!
Amigos queridos. A situação é essa. Dona Lectícia lança, este ano, dois livros. A edição em inglês de Sabores Pernambucanos. E A Mesa de Deus, no Brasil e na Europa toda. E, eu, a edição revisada da Biografia do Pessoa. Ficou muito bem, penso. Por tudo, então, decidi deixar as Conversas para o próximo ano. Só para lembrar, já está do, 500 páginas. Deus me proteja. Abraços, José Paulo.
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Sabores pernambucanos sairá, também, em pernambuquês?
Quanto mais páginas, melhor. rsrsrs