Responda rápido: você faz um serviço para seu vizinho. Você prefere que o vizinho lhe pague em pepitas de ouro ou em cacos de vidro? Imagino que você prefira, como eu, receber em ouro. O bom senso diz que é sempre melhor receber algo valioso do que algo sem valor.
Mas o governo, a escola e a imprensa repetem o tempo todo que nossa moeda deve ser fraca e o dólar deve subir. Em outras palavras, é melhor ser pago em cacos de vidro.
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João vive comprando coisas: comida, bebida, livros, roupas, um monte de coisas. Para isso, ele não precisa vender o que já tem. Ele paga as compras com seu trabalho. Já o José, vive vendendo: para comprar pneus novos para seu fusca, José vendeu a TV. Depois José vendeu o sofá da sala para comprar outra TV. Quem é mais rico? Parece ser o João, não é? Sim, e com os países também é assim: os países que todo mundo considera “ricos” compram mais do que vendem, e os países “pobres” vendem mais do que compram.
Mas o governo, a escola e a imprensa repetem o tempo todo que o certo é exportar muito e importar pouco. Ou seja, devemos seguir o exemplo da Venezuela (exportações são 300% das importações) ou do Gabão (exportações são 200% das importações) e não dos EUA ou Reino Unido (exportações são aproximadamente 2/3 das importações para ambos).
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Todo brasileiro tem dois sonhos: poder pagar um plano de saúde e uma escola particular para seus filhos. Ele sabe que depender do SUS não é uma boa, e colocar seus filhos no ensino público também não.
Mas o governo, a escola e a imprensa repetem o tempo todo que todos devem pagar cada vez mais impostos para os políticos “investirem” em saúde e educação, as mesmas que todo mundo sabe que não funcionam.
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A cidade de Caixa-prego do Norte só tem um padeiro. Todos os moradores compram dele, ou ficam sem pão. Não importa que o pão seja bom ou ruim, caro ou barato. Aliás, as pessoas nem sabem direito se o pão é bom ou não, nem se é barato, porque não tem como comparar. É que lá para ser padeiro precisa uma licença da prefeitura, e o padeiro sabe que o prefeito, que é seu tio, não vai dar licença para mais ninguém. Por isso, ele cobra quanto quer e não faz questão de caprichar muito quando faz o pão.
Já em Caixa-prego do Sul existem várias panificadoras. Cada morador pode comprar de quem quiser; se achar caro ou se não gostar do pão, muda. Têm até uma panificadora da cidade vizinha que enche de pão uma kombi e leva para vender lá.
A segunda cidade parece melhor? Mas o governo, a escola e a imprensa repetem o tempo todo que é melhor para todos se o mercado é fechado e as pessoas só podem comprar pão onde o governo mandar.
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Uma escola tem duas turmas no segundo ano. O professor da primeira turma foi contratado faz pouco tempo em regime temporário, e quer muito ser efetivado. O professor da segunda é primo do diretor da escola e tem um contrato vitalício com aumento de salário garantido a cada três anos. Em qual das turmas os alunos vão aprender mais?
Mas o governo, a escola e a imprensa repetem o tempo todo que os serviços prestados à população serão melhores se forem feitos por funcionários públicos com estabilidade garantida e nenhuma avaliação de desempenho, e não por pessoas cujo sucesso dependa de bons resultados.
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Paulo tem três filhos. Ele trabalha duro para pagar uma boa escola para os três. Ele também os estimula a ler muito, experimentar coisas novas e ser criativos. Paulo não tem idéia da carreira que cada filho irá seguir.
Pedro também tem três filhos, que estudam na mesma boa escola dos filhos de Paulo. Pedro decidiu que o primeiro será médico, o segundo será advogado e o terceiro será engenheiro. Desde crianças, tanto os livros quanto os brinquedos que recebem são separados de acordo com a profissão escolhida.
Parece absurdo? Mas o governo, a escola e a imprensa repetem o tempo todo que as pessoas não devem escolher o que fazer em suas vidas; devem deixar as escolhas nas mãos de alguém mais sábio (no caso, os políticos, os funcionários do governo e os “intelectuais” e “acadêmicos”).
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Que tal aproveitar o ano novo e a década nova para rever alguns conceitos? Afinal, geralmente o simples bom senso nos mostra o caminho de forma melhor que os supostos sábios do governo, das escolas e da imprensa. Tente !
Carlo Marcelo, sábia aula. Parabéns pela brilhante capacidade de ensinar