A PALAVRA DO EDITOR

O Velho Oeste americano foi um lugar diferente de tudo que estamos acostumados hoje em dia. Lá, os xerifes cuidavam das cidades, os bandidos roubavam caravanas e duelos eram feitos para decidir os mais diversos problemas. A importância dessas disputas com armas era tanta, que acabaram moldando a cultura do Velho Oeste e criando suas histórias mais famosas. Portanto, película de faroeste que se preza tem que ter um bom duelo para emocionar o espectador. Alguns embates foram eletrizantes e ajudaram a tornar o filme inesquecível. Há inúmeros duelos arrebatadores como o de Charles Bronson e Henry Fonda naquele duelo antológico de ERA UMA VEZ NO OESTE, do cineasta italiano Sergio Leone. Um desafio por excelência, trilha sonora magnífica, vilões inescrupulosos e dois atores no auge das suas excepcionais carreiras na modalidade faroeste. O enfrentamento dos dois, nos mostra uma cena enigmática, mística, com estupenda precisão em seus 8 minutos de suspense avassalador que faz prender a respiração de quem está assistindo na telona de exibição.

O duelo que encerra o filme Era uma Vez no Oeste é simplesmente excepcional, espetacular!!! Pela história, tema musical, o elenco de artistas primorosos, cada um com um papel relevante e inesquecível. Todos os temas primordiais dessa película cinematográfica ao gênero estão nessa projeção. Pioneirismo, ambição, coragem, vingança, roteiro, direção, elenco, tudo é impecável. No tocante ao duelo que tem 8 minutos de duração, talvez seja o mais longo da cinematografia dos foras da lei. É cena para ver, rever, e sempre descobrir detalhes sequenciais antológicos daquele duelo que encerra o filme. A melhor vingança da história do cinema!!! Foi preciso um italiano para resgatar Fonda de seus habituais papéis de bom moço no cinema americano, para que este criasse o que foi denominado como um dos mais frios vilões da história do cinema. Bronson tem aqui o começo de sua longa carreira em papéis de justiceiros de poucas palavras. Impossível imaginar o filme sem a MÚSICA de Morricone. Com tão poucos diálogos e tantos longos silêncios antecedendo o embate. Ela é a alma da fita… Uma cena final que fica melhor a cada vez que se vê e a cada dia mais clássica ao nosso olhar. Repito: É a melhor e a mais clássica vingança da história do cinema!!!

Já os maldosos, cruéis e malfazejos foras da lei, interpretados pelos assombrosos e portentosos atores, Eli Wallach, Lee Van Cleef e Clint Eastwood, que são três homens barbudos, sujos, bigodudos, relativamente mal trajados e castigados por anos de exposição a procura de um tesouro estão encarando uns aos outros em um cemitério. Eles trocam olhares suspeitos, mas permanecem quase que estaticamente parados, sem dizer uma só palavra. Veem-se as pálpebras nervosas e aqueles olhares irrequietos movendo-se lado a lado numa demonstração que expressam inquietações e contemplando as faces enrugadas de cada um. Toda essa bem bolada trama durou uma eternidade de quase três minutos. Esta é uma das mais celebradas sequências cinematográficas de todos os tempos em películas de faroestes. Trata-se do duelo que encerra o excelente filme, o último da trilogia do cineasta italiano Sergio Leone, o exuberante filme que no Brasil ficou com o título de Três Homens em Conflito.

Hoje, fica evidente que, Três Homens em Conflito traz muito do que em tempos modernos chamamos de clichês, mas que para a época (1966), era uma ferramenta dramática excepcional. a tradução consegue expor bem qual é a trama do filme: são três homens que, no meio da Guerra Civil Americana, entram em uma caçada acirrada para ficar com 200 mil dólares roubados. É nesse filme também que temos uma das cenas espetaculares que se distingue ou simboliza uma época, como também uma cultura no mundo do cinema, onde o feio, o mau e o bom finalmente se encontram para um duelo. A trilha musical, mais uma vez composta por Ennio Morricone, é um espetáculo à parte. E, logo nos primeiros minutos do filme, você já reconhece uma das melodias que tem os acordes mais famosas do cinema da modalidade Western spaghetti.

Por outro lado, há quem diga que a fama e fortuna conquistadas por Kirk Douglas(que morreu recentemente aos 103 anos de idade) deveu-se às custas de muitos duelos dos quais participou e mais um deles foi com seu amigo, o mexicano Anthony Quinn na película DUELO DE TITÃS do ano de 1959, dirigido pelo excelente diretor John Sturges que fez um filmaço sem chegar a ser um clássico. A proposta desse filme foi irrecusável para Douglas: 300 mil dólares(muito dinheiro pra época), além de toda essa grana Kirk teria sua produtora Bryna como associada na produção, o que aumentaria ainda mais o lucro do ator-produtor que precisava de muito dinheiro para seu projeto chamado “Spartacus”.

Douglas e Quinn já tinham trabalhado duas vezes tanto em Ulysses(1954) como em Sede de Viver(1956) em que Quinn ganhou o Oscar como ator coadjuvante. No terceiro encontro desses monstros sagrados, os dois grandes atores fazem Duelo de Titãs valer ainda muito mais por suas impecáveis atuações. O especialista em faroeste Darci Fonseca faz uma análise bem ponderada quando nos conta que, “Duelo de Titãs é um primoroso estudo sobre o poder, sobre como ele é implacavelmente exercido e sobre como homens acovardados se submetem a esse poder. Craig Belden(Anthony Quinn) manda na cidade e é temido e obedecido por todos que o cercam, intimidados pelo seu poder do qual de alguma maneira se beneficiam inescrupulosamente. Situação não muito diferente da encontrada em tantos outros rincões do Velho Oeste”. Enredo, roteiro, música, tudo nota 10. Filme para guardar em arquivo, e, assisti-lo sempre que sentir saudades das matinês espetaculares dos saudosos domingo à tarde.

Pois bem, para aqueles cinéfilos que têm idade para haver consumido o gênero de filmes Western, há 7 ou 8 anos, a revista “Super Interessante” veiculou uma matéria que rezava sobre “O verdadeiro Velho Oeste”, a matéria contrapõe o mito criado pelo cinema ao verídico e bem diferente modo de vida no Oeste americano do século XIX. Baseados em livros de historiadores que estudaram a fundo o assunto, os autores da matéria, Andreas Müller e Ricardo Lacerda afirmam que os famosos duelos na rua principal da cidade, onde, sob olhares ansiosos, vencia o pistoleiro que fosse mais rápido no gatilho, NUNCA ACONTECERAM. A verdade é que no Velho Oeste havia muito menos violência do que a dos filmes. havia lá muito mais lei, ordem e civilidade do que se pensa. Os grandes diretores de Hollywood, como John Ford, Howard Hawks, Raoul Walsh, Anthony Mann, Delmer Daves, John Sturges, investiram no mito e… O resto da estória vocês conhecem. Mas, a propósito, entre um embate John Ford versus Sergio Leone, em que você apostaria?!?!?! Eu fico com o último, até por causa das sacadas irônicas do diretor italiano.

A encenação que o leitor vai assistir a respeito do filme Duelo de Titãs se passou na fazenda do cinéfilo Darci Fonseca na cidade de Piratininga(SP). Assista aos três duelos:

5 pensou em “CLÁSSICAS CENAS DE CLÁSSICOS DUELOS NOS FILMES FAROESTES

  1. Este texto é um presente oferecido ao aprimorado e curioso cinéfilo de bang bang, Cícero Tavares, que vai embelezar o livro, NO ESCURINHO DO CINEMA, dando um toque final no seu bem elaborado epílogo(aliás, ficou um colosso!!!). Outra ótima prerrogativa do TAVARES de Carpina(PE) é que ele é um tremendo radical e assumido opositor, o que está corretíssimo, da pirotecnia ou essa fuleiragem chamada efeito especial dos tempos modernos no cinema mundial. SALVE, TAVARES!!!

  2. Caro Altamir. Nunca é demais falar ou escrever sobre este maravilhoso
    filme “Era uma vez no oeste “. Quanto mais assisto esse filme, mais vejo
    predicados que enaltecem e o colocam como um dos maiores clássicos
    do cinema mundial, não só do gênero Western , mas também no geral.

    Concordo com você na escolha de Sergio Leone como o melhor diretor
    de westerns , sem nenhum menosprezo pela obra do grande John Ford,
    mas sim reconhecendo que a filmografia de S.Leone é toda baseada no
    gênero Western , quanto a J.Ford é muito variada, pois o seu talento
    transcendia ao gênero Western , no qual ele também sempre foi um
    mestre. Mas sua obra sempre foi muito versátil ele fez comédias , romances,
    e outros gêneros, todos com excelentes resultados, não podendo
    ser julgado somente pelos seus excelentes filmes do gênero Westerns.

    Concordo também quando afirma que o nosso cronista Cicero
    Tavares é um cinéfilo de qualidade que conhece muitíssimo do
    gênero e que certamente o seu epílogo para o seu livro
    No Escurinho do Cinema, deve estar realmente sensacional, se
    esperamos e temos certeza teremos algo da mesma qualidade dos
    seus geniais artigos.

    Estou muito ansioso para poder ler nó só o seu epílogo, mas também
    todo o livro completo, o mais esperado dos leitores da Besta Fubana.

  3. Tens razão, Pinheiro
    Nos velhos tempos, digo no Velho Oeste, um bom duelo resolvia qualquer questão.
    Os que foram apresentados são antológicos

  4. Essa coluna de Altamir vicia feito o JBF…. engraçado é que acabei de ver por uns dólares a mais. Esse “truelo” de Três homens em conflito é fabuloso. Muito bom. Não me canso de ver.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *