CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Nesta casa a cena se passou há 80 anos

Chupar ou não chupar, eis a questão, diria o filósofo. Porém, não chupar é impedir um desejo que aflora logo nos primeiros anos da infância do ser masculino, a começar pelo seio materno e depois pela chupeta.

Após o meu nascimento, que ocorreu na casa de tia Nana e seu marido, o jornalista Xavier Maranhão, ainda permanecemos no Espinheiro cerca de três meses, até que papai trocou a casa onde residia por u’a melhor, mais ampla.

Fomos residir na Rua Conde Irajá, que me lembro bem, a casa tinha um quintal com muitas árvores frutíferas, sobretudo mangueiras. Recordo aqui de um fato interessante. Uma grave estripulia.

Já habitávamos o lugar há cerca de quatro anos, tendo meus pais conquistado boa vizinhança. Mamãe costumava fazer a feira semanal aos sábados, relativamente perto de onde morávamos, mas, desejando ir numa sexta-feira, estava difícil, porque papai estava trabalhando e não poderia ficar tomando conta do filho. Levar um cerelepe como eu seria complicado.

Era preciso ir ao “Bacurau” – apelido do Mercado da Madalena – e comentou o fato com D. Marluce, a vizinha. No final da conversa houve uma oferta para sua filha Marilene ficar com a criança. Mamãe aceitou, preferindo que a moça fosse lá para a nossa casa. E adiantou:

– Meu homenzinho tomará conta dela!…

Antes de sair adiantou à “cuidadora” que havia mangas disponíveis numa bacia de rosto, que estava na mesa da cozinha, todas lavadas. E Marilene poderia aproveitar para fazer um lanche, à vontade, já que em seu quintal não havia mangueiras.

Logo que mamãe saiu sugeri que fossemos para o quintal porque havia muitas mangas também pelo chão. Eu estava louco para chupá-las sem limite. Uma trela, naturalmente.

Por cautela mamãe não deixava que eu saboreasse mais do que uma por dia, para evitar desarranjo intestinal. E citava que “A gulodice era um pecado!”

Mas, diante de sua ausência, eu me esqueci propositadamente do pecado e ocultei da moça a recomendação materna.

A vizinha apanhou várias mangas, lavou-as com cuidado, sentamos num canteiro que havia no quintal e “mandamos ver”.

Só me recordo é que a moça levantou o vestido com a maior naturalidade, para evitar os pingos, sentou-se e abriu as pernas em atitude infantil. Perdemos a conta de quantas mangas chupamos.

Ao chegar, mamãe constatou que estava tudo em ordem. Estávamos na mesa de jantar fazendo desenhos com lápis de cor. Marilene, prestando contas, disse-lhe que da bacia só havia provado uma única manga, sem se referir àquelas tantas que chupara comigo, apanhadas do quintal, na maior folia.

No dia seguinte fui acometido de séria infecção intestinal, ao ponto de ser levado ao médico. No dia seguinte, à noite, ao conversar com a mãe de Marilene, pelo muro, mamãe citou o fato de eu havia sido atacado por uma infernal diarreia, daquelas de “chicotinho”.

Ouviu, então, que sua filha também estava do mesmo jeito. E nos primeiros ataques até obrara na cama.

– Que coincidência! – Exclamou mamãe, na maior inocência.

Na manhã seguinte, a vizinha foi lá em casa pedir desculpas pela traquinagem de sua filha, atribuindo a temporária doença intestinal, à quantidade de mangas que ambos haviam chupado. Dois traquinos!

Após a visita da vizinha, mamãe pegou-me pelo braço e com o dedo em riste lembrou a recomendação:

– Eu não lhe disse que chupar muitas era pecado?!…

16 pensou em “CHUPAR MUITAS É PECADO!

    • Caro Maurício.

      Naquela época eu ainda não tinha nem libido. Mas a cena ficou latente quando a mimosa, sentou-se e em estilo interiorano, arreganhou as pernas, puxou a saia pelo meio e deixou que o caldo da manga escorresse, tirando um fino arretado na ainda, certamente, virgem boceta.

      Mas…ah se fosse hoje!…

      Mesmo com meus vividos 84 anos ainda a respeitaria a idade.

      Mas, certamente, deixaria no ar o desejo de dar uma cheiradinha na pelugem priquital.

      Você resistiria a uma cheiradinha?

  1. Meu caro Carlos, chupar manga é tudo de bom. A melhor fruta do mundo. Já fiz muita estripolia, quando garoto, por causa de mangas.

    • Caro Beni,

      Ainda hoje não posso passar por perto de u’a mangueira e ver u’a manga espada. Babo até a alma.

      Na fase em que as mangueiras estão brotando, aqui em nossa casa sempre tem algumas, a fim de que eu possa exercitar minha chupadinha, recordando a juventude.

      Na base das minhas senvergonhicess desejei induzir os leitores à tendência da esculhambação; que iria sair putaria, mas citei um fato de minha biografia.

      E foi fato de fato.

      Grato por sua leitura. Seu comentário me alegrou. Bom domingo!

  2. Dudu,
    que Sancho te ama não é novidade, mas você deixou seu fã de carteira lambendo os beiços…

    Eu estava louco para chupá-las sem limite… Chupar ou não chupar, eis a questão, diria o filósofo.

    Ainda bem que a “mamacita” de Sancho nunca disse que chupar muitas era pecado… E lá vai Sancho, ainda na ativa na nobre arte da chupança por esse mundo de meu Deus.
    (que fique bem explicado que Sancho não chupa fruta que tem caroço).

    Conjuguemos saboroso verbo:
    Pretérito Perfeito :
    (tu) chupache
    Pretérito Imperfeito :
    (vós) chupávais
    Pretérito mais-que-perfeito :
    (vós) chupárais
    Condicional :
    (vós) chuparíais
    Imperativo :
    (vós) chupade

    • Caro Sanchito mio.

      Meu velho costumava dizer que “Não há mulher feia: tendo o buraco e a catinga, tá valendo!”

      Já o poetinha Vinícios disse ao seu biógrafo (pág. 243 do livro: VINÍCIOS, O POETA DA PAIXÃO) que o diabetes não o impediria de casar-se pela 7a. vez, porque, “enquanto tivesse língua e dedo mulher nenhuma lhe faria medo”.

      Portanto, um “negócio” bem lavadinho e pronto para uso, não há quem resista.

      A idade, porém, vai nos atacando e os cuidados com o uso de certos “produtos” exige critérios.

      Portanto,sou obrigado a ficar na ilusão de outros tempos, porque hoje o “negócio” já não tem a mesma rigidez de outrora (perdoe a confissão!).

      E assim, as amígdalas se tornam os culhões da atualidade.

      Deu pra entender?!…

    • Veja, senhores, a criatividade fubânica ao auto intitular-se: Mundino Fulô (Do Bico Doce).
      Essa GENTE maravilhosa que frequenta este espaço é ou não é de outro mundo?

      Inclusive Bico Doce, não sei se estamos tratando da mesma pessoa, foi amigo de infância de Sancho lá na minha Desengano. Saudade imensa de Caetano (não o famoso), Francisco Damião e Bico Doce. Vi com esse trio os jogos da Argentina no Mundial de 78 (os jogos da Albiceleste eram noturnos).

    • Caro Mundino,

      Primariamente grato por sua leitura.

      Sua precisa realidade filosófica me leva a comentar que a chupada assim acanalhada, dita por mera putaria, difere bastante de uma lambida em lábios inferiores de cidadã educada e bem lavada.

      Será uma chupada de classe.

      Segundo papai: “Meu filho não há mulher inchupável nem feia; tendo o buraco e a catinga ninguém resiste.”

      Há ilustres e famosos que deixaram na história suas afirmativas como inveterados chupantes.

      Trago-lhe um exemplo que se tornou público e poucos sabem.

      Vinícios de Morais, por exemplo, disse ao seu biografo, (na página 243 do livro: VINÍCIUS DE MORAIS – O POETA DA ILUSÃO), que o diabetes não evitaria que ele não se casasse pela sétima vez, porque poderia até perder a tesão; isto porque, “enquanto tivesse língua e dedo, mulher nenhuma lhe faria medo.”

      Portanto, mesmo não sendo famoso nem gostar de declarar o fato, não posso me ver diante de uma priquita que a língua logo não endureça.

      Há quem resista àqueles lábios inferiores, no entanto superiores na satisfação dos nossos desejos?

      • Meu prezado, já vi que, aos 84 anos, ainda tenho muito a aprender. Obrigado pelos ensinamentos, vindos de um verdadeiro doutor em chupologia.

  3. Prezado Sancho, lamento muitíssimo não pertencer a esse famoso trio. Meu nome Bico Doce vem mesmo pelo fato de eu gostar por demais de chupar…manga!

    • Chupemos as mangas, então, caríssimo amigo. Em homenagem ao amigo de outrora, o chamarei de Bico Doce. Que o JBF nos faça tão amigos quanto o foram os citados por Sancho. Até sempre!!!

  4. Quinca,

    Você como sempre hábil no malabarismo vernacular. Dá entender duas interpretações. O leitor que saiba definir.

    Um abração.

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