JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

SÓ UM PÔQUIM DE CHUVA

Acauã ave agourenta

A calçada alta com as bordas feitas de tijolos brancos desgastados com o subir e descer da gente. Arestas abauladas pelo sentar e pelo tempo, naquele momento se tornava confortável e parceira na tristeza normal do fim de dia e chegada da lugubridade da noite. João cuidava em preparar os candeeiros para amainar a noite.

“Vem-vem!……..”

Sem que ninguém estivesse para chegar, o vem-vem cantava em tiriça, entristecendo mais ainda aquele fim de dia, que ficava mais triste ainda com a chegada das mariposas perseguidas pelas andorinhas.

Uma ode poética num verso que nada dizia além da desesperança. Sim, por quê, longe dali, na grande capoeira duas, três, quatro e agora cinco vacas haviam morrido de sede, virando carniça e fazendo o banquete dos urubus. A natureza se fazia perversa, ainda que de forma passageira.

Mais escuro que claro, o silêncio do vem-vem parecia uma autorização para os sussurros lúgubres da coruja que sobrevoavam a área. Aquele “cantar”, diziam alguns, era o prenúncio da chegada da morte para alguém. Era, pelo assim dizer sertanejo, um “agôuro”!

João concluíra a tarefa da preparação dos candeeiros. Agora, segurando na mão firme e envelhecida de Raimunda – os dois – dobrava os joelhos e rezava o que mais parecia uma cantiga que oração:

“Pai celestial de todos nós. Minhas vaquinhas estão morrendo de sede. Onte morreu uma, onteonte morrer duas e mais uma novilha, e hoje perdemos ôtra”. Ajude nós, Sinhô de todos. Nem temos mais o que cumê, faiz três dias.”

Acauã – Gravação de Luiz Gonzaga e letra de Zé Dantas

“Acauã, acauã vive cantando
Durante o tempo do verão
No silêncio das tardes agourando
Chamando a seca pro sertão
Chamando a seca pro sertão
Acauã,
Acauã,
Teu canto é penoso e faz medo
Te cala acauã,
Que é pra chuva voltar cedo
Que é pra chuva voltar cedo
Toda noite no sertão
Canta o João Corta-Pau
A coruja, mãe da lua
A peitica e o bacurau
Na alegria do inverno
Canta sapo, gia e rã
Mas na tristeza da seca
Só se ouve acauã
Só se ouve acauã
Acauã, Acauã…”

Muito mais que o sono, o cansaço e a ansiedade pela chegada da chuva, adormeceram João minutos após a oração conjunta com Raimunda. Candeeiros acesos. Cessado o canto da coruja. Mariposas que conseguiram se salvar da gula das andorinhas, fugiram e se aquietaram. Com o fato seguinte, concluo mesmo que se esconderam ou se abrigaram.

A noite quente que traz aquele calor conhecido na roça, agora começava a se transformar. Uma neblina e em seguida uma chuva mais forte e cada vez mais forte fazendo barulho nas telhas, acordou João.

– Chuva meu Deus! “Aubrigado” por atender minha oraçãozinha mais cheia de Fé que de conhecimento”!

Agora mais intensa, a chuva continuava caindo. A forte ventania começou a preocupar João que, longe dali, escutava os chocalhos das vacas em movimento procurando abrigo. A ressequida sombra do juazeiro não protegeria todas.

A claridade do dia seguinte chegou. João levantou, tomou café acompanhado de farinha seca e foi pastorear as vacas, na esperança que elas tivessem se protegido durante a chuva. Algumas sobreviveram, outras tantas se afogaram nos lagos formados pelo excesso de chuvas nas capoeiras. Mas, havia a alegria do futuro garantido pela chuva.

Contrito e agora só, João mais uma vez dobrava os joelhos em oração. Não era oração. Era uma cantiga do vasto cancioneiro sertanejo:

“Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso o sol arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração”

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A METAMORFOSE DA LIBERDADE

Seis etapas da metamorfose do início ao fim

Na noite anterior o noticiário divulgado por alguns veículos garantia que, a previsão pluviométrica para o dia seguinte era: tempo bom, sem chuvas, temperatura moderada variando entre 22 e 25 graus.

Entretanto, com o privilégio de sentir a Natureza e seus itens, alguns insetos sabiam com antecedência o que seria o dia seguinte: propício para completar a metamorfose e alçar voos em passeios de plena liberdade. Liberdade de completar o ciclo da transformação e, mais ainda, de exercer a liberdade determinada pela Natureza.

O vento moderado estava favorável. Não havia risco de interrupção ou enfrentamento de tempestade, logo no primeiro dia de vida e de liberdade em voos. A sombra das árvores ajudaria para que tudo se completasse em favor da beleza propiciada pela transformação.

Uma lagarta multicolorida. Na sequência, um casulo com todas condições biológicas dos primeiros dias. Quantos dias?

Os biólogos continuam céleres nas pesquisas para encontrar a resposta. O foco e a resiliência, com certeza encontrarão uma resposta convincente.

Na terceira fase a lagarta multicolorida de antes transmuda e recebe carapaça protetora produzindo asas ainda inibidas que não garantiriam o voo.

As fases seguintes, sem experimentos, consumarão a formação do necessário, parecendo versos que formarão a “poesia da metamorfose e da liberdade” – asas para que te quero.

Voe!

Viva a liberdade divina da transformação.

Coragem!

Tudo vai dar certo – a Natureza garante!

As lagartas em voos sem regressão

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A DEVASTAÇÃO – ACABANDO O QUE ERA DOCE

A insanidade dos que destroem o próprio lar

Afinal, o que querem as ONGs?

Por que, de um momento para outro, resolveram lutar pela existência e estabilidade (além de muito dinheiro que conseguem dos governantes) no solo brasileiro, preferencialmente da região amazônica?

Por que essas ONGs não “tentam salvar” o Saara ou o Atacama?

Essas ONGs são todas compostas por “estrangeiros”?

Estudei Ciências Naturais no Curso Primário. Ao chegar no Curso Ginasial, ainda que fosse o mesmo assunto, Ciências Naturais recebia o nome de Botânica. Conheci, ali, ainda que superficialmente, itens da fauna e da flora. Pela primeira vez ouvi falar na Papua Guiné, onde, dizem, teria começado tudo. Ou, começado a terminar quase tudo.

Nos dias atuais, esquecemos as referências passadas e, além do tal “carbono” dominar todos os assuntos, falamos mais de biomas, etc., etc.

Por que isso?

Alguém que ler este reles texto, terá liberdade para dizer que, “Zé, o mundo mudou, e, com ele, os valores que se assomaram às descobertas”. Mas, não terá o meu “de acordo”.

Continuarei insistindo que o mundo não mudou. As pessoas, sim. E isso, para mim, jamais será a mesma coisa. Num passado nem tão distante, mundo à fora, sem excluir o Brasil, a quantidade de idiotas e imbecis era menos da décima porcentagem. Nelson Rodrigues tinha razão quando vaticinou: “o mundo será dominado pelos idiotas”.

Qual o mal que uma abelha faz para a humanidade?

Nos dias atuais, vira e mexe, conseguimos ver nas poucas árvores do perímetro urbano parasitas que nasceram a partir das sementes mal digeridas pelos pássaros que, literalmente expulsos pela devastação das florestas, procuram e acham abrigos para crescer e se multiplicar. As fezes, com a umidade, nascem, formando um visual nada agradável.

Também vemos, vez por outra, casas-ninhos de João-de-Barro construídos em engenharia magnífica em postes de iluminação elétrica ou em outros locais onde eles (os pássaros) se adequem.

E, por que isso?

Por enquanto, apenas pequenas aves tentam conseguir viver fora da floresta devastada. Mas, o que acontecerá, quando tivermos que dividir nossos espaços domésticos com jacarés, cobras, javalis e outros integrantes da fauna, considerados ferozes?

Em resumo: por enquanto estamos apenas sob ameaças. Mas, quase que diariamente, ao tomar o café matinal, tenho recebido a visita de abelhas – provavelmente por conta do cheiro que o açúcar orgânico (é o que uso, mais caro, mas o valor adicional me poupará de gastar mais com medicamentos) – ainda sem ferrão.

Isso significa para mim, que, em breve, além da “jandaíra”, espécie mais conhecida desde o meu sertão, poderemos ter a visita da “arapuá”, uma espécie difícil de ser domesticada para produção de mel. É violenta e a picada incomoda tanto quanto a picada do marimbondo.

E o mel que consumimos para fins medicinais, quem produzirá?

Mel de abelha tem importante percentual positivo na economia

EM TEMPO: Desejo aos amigos leitores e seguidores neste JBF, o mais venturoso Rèveillon, que 2024 traga saúde, Paz, prosperidade e entendimento, principalmente entre os familiares.

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

É NATAL

 Natal de luz – que ilumine nossas mentes

“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé

Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz

Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna

Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna”

Nesta penúltima coluna do ano, em contrição, dobro mais uma vez os joelhos, junto as mãos, e me dirijo ao meu único Senhor, para pedir a graça da Paz, da saúde, da humildade e do arrependimento de todos que, ainda que distantes materialmente, fizeram e fazem parte da minha existência, e do meu crescimento como ser humano.

Senhor,

Concedei-lhes um Feliz Natal, que vá além da mesa farta transbordante, que seja repleta de humildade e agradecimento pelos dias de vida concedidos.

Que reine a Paz,

Que reine a iniciativa do perdão,

Que todos tenham oportunidades para o cumprimento das missões.

Que nada consiga separar as famílias – quaisquer que sejam os objetivos ideológicos.

Que o pão esteja sempre disponível à divisão e multiplicação.

Que a saúde seja tão farta quanto a ceia natalina que hoje está servida.

Que seja feita, Senhor, a tua vontade!

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

ZÉ – O MENINO QUE FAZIA SACOS

“A saudade mata a gente – João de Barro

Fiz meu rancho na beira do rio
Meu amor foi comigo morar
E na rede nas noites de frio
Meu bem me abraçava pra me agasalhar
Mas agora, meu bem, vou me embora
Vou me embora e nem sei se vou voltar
A saudade nas noites de frio
Em meu peito vazio virá se aninhar

A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente”

Os dias correm ligeiros. Provavelmente açoitados pelos ventos produzidos pelos moinhos que Don Quixote tanto procurou. Passam rápidos. Tão rápidos que, às vezes, nem percebemos. Mas sabemos que estão passando.

Pois, pelos idos e levados pelos ventos, dias dos anos 50 e 60 passaram tão rápido que, hoje, tendo vivido pela graça de Deus e, quase sendo levado por ventos mais fortes, minhas raízes, tão profundas quanto as raízes dos ipês, resistiram às ventanias. Quase ciclones.

Zé é o meu nome. Zé, filho de um homem e de uma mulher, nascido de parto normal, “aparado” por parteira sem nenhum preparo (minha Avó), que mereceu o privilégio divino de ainda estar vivo.

Zé nunca foi diferente dos meninos daqueles anos. Entretanto, muito diferente dos meninos dos dias atuais.

Foi criado, desde cedo, a aprender que pai e mãe, quando menos a gente espera, voltam ao barro – lugar de onde vieram. Diferente de como os pais/mães atuais criam os filhos. Facilitam tudo, dizendo que é para o (a) filho(a) não passar as provações que eles, pais, passaram. Roubam dos filhos o direito às conquistas. Não aprendem o valor da vitória, e vivem pensando que viver é algo que o smartphone ensina nos aplicativos.

Eis que, aos 12 anos, Zé não era diferente dos daqueles anos. Também lia gibis, ia aos cinemas, e, colecionava figurinhas de artistas e jogadores de futebol.

O pai de Zé, Alfredo, entendia que não tinha o direito de roubar do filho o direito de ganhar seus mil réis, comprar suas revistas e figurinhas com o dinheiro ganho com o suor do rosto. Com o trabalho, mesmo que formal. Só assim daria valor às suas coisas.

Foi quando Zé, alertado pelo dono da bodega da esquina, passou a fabricar sacos de papel com folhas da revista O Cruzeiro – separava apenas a página da charge do O amigo da onça, de Péricles. A princípio Zé fabricava os sacos onde o bodegueiro colocava arroz, feijão, café em grãos, milho.

Eis que um anjo chamou a atenção de Zé com o bater das asas, dizendo:

– “Zé, melhore a qualidade dos sacos. Use um material melhor e vá vende-los na praia, na chegada das jangadas. A recompensa será melhor”.

O anjo nem precisou repetir. Nas férias escolares, Zé acordava cedo, saía procurando construções de casas, edifícios que usassem cimento. Cimento “Portland”. Às vezes, na ânsia de ficar com o saco, Zé até se propunha a ajudar o Servente de Pedreiro. Não queria ajudar. Queria mesmo era os sacos.

O cimento era envolto em três camadas de papel. Papel bom. Resistente. Zé separava tudo e levava para casa a parte que usaria para fabricar os sacos.

Saco de papel de cimento para acondicionar peixes

Feitos os sacos, sempre numa boa quantidade, Zé, às vezes “pegava bochecha” nos ônibus e, na hora que imaginava que as jangadas estavam retornando ao Mucuripe, fazia esforço hercúleo para estar presente. Com o passar dos dias, Zé foi aprendendo mais e mais. Passou a levar, além dos sacos de papel de cimento, molhes de coentro e cebolinha. Passou a levar também tomates.

As jangadas estão voltando da pescaria

Zé fez isso por muito tempo – sempre nas férias escolares. Tinha clientes que entendiam sua necessidade. Faziam tudo para ajudá-lo. Até passaram a procura-lo pela alcunha de “Zé do Saco”, ou, “Menino do saco e do cheiro verde”.

Quando a claridade do dia estava indo embora com a promessa de voltar no dia seguinte, Zé caminhava cerca de 15 Km, da Praia do Mucuripe até a Rua São Paulo, na Praça José de Alencar, no Centro; ou na Praça dos Voluntários. Ali, durante anos funcionou também a venda de peixes frescos.

Nos dias atuais, pessoas continuam comprando peixes na praia

Zé, nos dias atuais, gosta de comer peixes. No tempo da venda de sacos, era um sonho quase impossível. Sonhar em comer biquara, cavala, pargo, xaréu – e dávamos graças, quando Alfredo levava pirarucu salgado ou camurupim para casa. A farofa com baião-de-dois era garantida. A gente acabava de encher a barriga com água de pote.

Eis que, hoje, quase tudo mudou. Fortaleza que, naqueles idos tinha apenas as praias de Iracema, Náutico, Meireles e Mucuripe – onde alguns ganhavam dinheiro alugando calções de banho e o próprio banho com água “da boa” – hoje ostenta e oferece aos turistas uma bela Avenida Beira-Mar, com hotéis e bares de luxo e da moda. Para 2024 já tem a garantia de sediar a COP24. Antes, a própria Praia do Futuro nada mais era que uma praia, no futuro.

Biquara a preferência cearense

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

“SAI UM PINGADO – COM PÃO E MANTEIGA!”

Café pingado servido no copo com pão e manteiga

Deitar cedo para dormir – por volta das 21/22 horas – para acordar cedo, também. Andar alguns quilômetros de ônibus ou de bicicleta para, em seguida, pegar o trem com destino à Central do Brasil.

É essa a rotina do trabalhador que mora na periferia do Rio de Janeiro. Quase sempre tendo como destino final o “Centro”. As linhas do trem podem ser Central-Santa Cruz, Central-Nova Iguaçu ou Central-Belford Roxo.

Linhas urbanas servidas por ônibus podem levar a Caxias ou Campo Grande e Santa Cruz, ou ainda, Nova Iguaçu, e também a Belford Roxo. Num determinado trecho, a via única é a Avenida Brasil com aderências em Bangu, Guadalupe ou na bifurcação com a Rodovia Washington Luiz.

Mas há quem, por residir em Niterói e bairros periféricos a essa cidade, utilize a travessia por lancha no itinerário Niterói-Rio até a Praça XV, ou, simplesmente utilize a Ponte Rio-Niterói, o que obrigará, também, a usar a Avenida Brasil a partir do Caju.

Quem trabalha no Rio de Janeiro, quase sempre faz a primeira refeição na própria cidade, e preferencialmente, próximo do local de trabalho. Essa primeira alimentação (“breakfeast”) é uma tradição “carioca”. Uma verdadeira deturpação do que possa ser um “café da manhã”.

Uma “carioquice”, por assim dizer.

– Sai um “pingado” com pão e manteiga! Esquenta na chapa, faz favor!

É assim que alguém pede o simples café com pão e manteiga (margarina), sem esquecer de “comprar a ficha” antes, ou pagar antecipado.

Mas, há também quem disponha de mais tempo para “forrar o estômago” ou porque terá outro compromisso no horário do almoço. Assim, terá que “pegar algo” mais caprichado para garantir o tranco até o final do dia.

Aí a pedida será um sanduíche de pernil suíno, passado na chapa quente e caprichado com cebola e tomate. Para “ajudar”, uma cervejinha Caracu ou Malzbier preta. É “café da manhã” se aproximando de um almoço.

Carioca ou não, quem trabalha no Rio de Janeiro não vive somente no “tranco”, tampouco na “malandragem” como imaginam muitos que visitam a Cidade Maravilhosa apenas para férias ou lazer turístico.

Para esses, a sexta-feira está grafada na agenda de qualquer um, como o início do lazer do fim de semana. Chopp com bolinhos de bacalhau – que ninguém é de ferro! – cervejinha gelada com direito a atendimento de Menina Verão, ou até “outras paradas”.

Quem assumiu compromisso para algumas “horas extras” no trabalho, precisará se alimentar de forma mais leve, e, ao mesmo tempo, melhor.

A solução que muitos procuram, veio de Portugal, mas já ganhou tons e atrativos brasileiros ou alemães. É o famoso Caldo Verde! Não há quem prove e não vire escravo.

Mas, se em vez do Rio de Janeiro você estiver em São Luís (MA) ou em Belém (PA), ainda que não esteja se dirigindo ao trabalho, o “breakfeast” será outro. Mais regional, mais “pesado”, e que, com certeza, se adaptará mais ao consumidor local.

Falamos do açaí, para os paraenses que frequentam o Ver-o-Peso; ou da juçara, para os maranhenses, que frequentam a Feira da Praia Grande (Casa das Tulhas) ou o Mercado Central.

Em Belém (PA) ou em São Luís (MA), nem pense em se servir de açaí ou juçara sem o tradicional camarão seco salgado. Em Belém, usa-se a “tapioquinha”; em São Luís, usa-se a “farinha de puba”.

Juçara com farinha de puba e camarão salgado

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

MEU FIO, O DISINGANO DA VISTA É FURAR OS ZÓIOS

Milho verde que valia mais que um furada nos zóios

Ali para as bandas da Guaiuba, povoado motivo de eterna litigância entre os municípios de Pacajus e Pacatuba, estado do Ceará, “morava” um homem que não tinha endereço (casa, lar, residência, esconderijo, tampouco código de endereçamento postal). Era muito conhecido pela alcunha de Zé do Saco, apetrecho que, para quem o conhecia, era considerado como seu endereço e identificação mais certos.

Zé do Saco não tinha também telefone celular, e-mail, twitter e muito menos zap-zap. Mas, era mais fácil de ser encontrado que o Governador do Estado, o Papa, e muito mais acessível que Barak Obama. Tinha uma vantagem “indescartável” (existe, essa palavra?): sabia o nome de todos os serviçais que trabalham como executores das barbaridades cometidas pelos “doentes mentais” islâmicos.

Muitas vezes, Zé do Saco era encontrado com o “saco cheio” de nada, e quase nunca, com o saco cheio de muita coisa. Vagava, e provavelmente por conta disso, divagava.

Havia sempre um engraçadinho para bulir com Zé do Saco, quando passava por ele, cabisbaixo, em alguma vereda em direção ao não fazer nada, onde todos os dias batia ponto, tomava café, e dando meia volta, caminhava para a labuta diária do ócio.

Heráclito, jovem galanteador e metido a bonitão, um dia cruzou com Zé do Saco e atirou:

– Tá contando as ações da Petrobras, Zé?

– Só os “fiotes”. As véias pararo de parir, siô!

A Guaiuba parou. Literalmente parou, ainda que não existisse lá nenhuma rodovia federal para ser interditada por protestos, quando alguém descobriu do lado de dentro de uma cerca de arame farpado de um roçado dos Nogueira, o corpo jazido do Coronel Mamede Santos, com uma faca peixeira de 12 polegadas cravada no meio do peito, mais chegando para o lado esquerdo.

Altamente especializada, com formação internacional e treinamento prático e emocional garantidos nas agências dos EUA, da Alemanha, França, Espanha e até da nossa competentíssima Polícia Federal, sem esquecer, evidentemente, os Serviços de Inteligência da Polícia Militar do Estado e da Guarda Municipal de Pacatuba, a guarnição policial não precisou muito para “desvendar por completo” aquele latrocínio.

E nem foi preciso gastar combustível custeado pelo Município, pois o latrocida estava dormindo a poucos 30 metros dali, com o saco cheio do produto do roubo (vento). As algemas tilintaram, e minutos depois, Zé do Saco adentrava na Delegacia Municipal de Guaiuba, sem nenhuma toalha de marca cobrindo as algemas. Também não havia sequer um “lambe-lambe” para registrar o furo jornalístico.

Se não aconteceu sequer julgamento – e ninguém era besta de achar que era necessário, pois só um bostinha daqueles, sem eira nem beira, podia ter a petulância de matar um homem de bem, feito o Coronel Mamede.

Entretanto, alguns dias após o acontecido e por obrigação constitucional e para que a Justiça determinasse a equanimidade da partilha de bens do falecido, a perícia médica encontrou nos exames cadavéricos uma resposta: a ferida contusa não foi tão profunda, o que evidenciava que não fora feita por ser humano.

Os peritos voltaram ao local do acontecido, e examinando bastante o local, encontraram marcas de sangue no arame farpado da cerca que, depois de feito o exame de DNA, ficou constatado que era sangue da vítima. Poucos metros dali encontraram pedaços de uma jiboia em adiantado estado de putrefação. Tiveram a perspicácia de examinar os cascos do cavalo que conduzia Mamede Santos, encontrando também marcas de sangue. E a conclusão de que não era sangue humano, levou à seguinte conclusão: o cavalo, trotando na estrada de areia, só observou uma jiboia quando já estava muito próximo dela.

Assustou-se e jogou a montaria (Coronel Mamede Santos) sobre a cerca de arame farpado. Ao ir ao chão, o Coronel caiu sobre a faca peixeira que tinha o hábito de conduzir no cós das calças, enrolada apenas em papéis velhos. A faca, sem nenhuma mão humana, cravou-lhe o coração.

Apesar do laudo pericial ter sido enviado à Justiça, eximindo de culpa o até então criminoso Zé do Saco, para que mexer num caso tão estarrecedor que já tinha sido concluído, com o perverso latrocida preso e pagando pelo crime contra a sociedade?

Segundos, minutos, horas, dias, meses e anos depois foi descoberto que Zé do Saco tem mais de “seis miões” (entenda-se: milhos grandes, de bons e comestíveis caroços e sem agrotóxicos) de mais alguns “fiotes” guardados num cofre forte de um banco num paraíso fiscal e em nome de um laranja.

MORAL DA HISTÓRIA: Não existe nenhuma dificuldade para ser encontrado o criminoso e descoberto o crime de um “Coroné”, ainda que ele não tenha sido cometido por um Zé do Saco qualquer.

Mas é sempre muito difícil encontrar o dono e o responsável pelos “bilhões” depositados como “fiotes” nalgum banco do exterior.

Vovó tinha mesmo razão, quando nos dizia: “meu fio, o disingano da vista é furar os zóios”!

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A VILA PASTEUR

Vila Pasteur

O cosmopolita bairro Jamacaru em Missão Velha, era um dos três mais antigos da cidade. Os primeiros moradores do bairro foram também os primeiros a chegar, antes mesmo da emancipação municipal, ocorrida em 8 de novembro de 1864.

Vindos, todos, numa leva trazida por um navio espanhol, sabe-se que teriam vindo da Armênia e, assim, culturalmente viviam apegados uns aos outros, até pelas dificuldades de relacionamento em função do dialeto usado na cidade de origem.

Foram morar em Jamacaru, e ali construíram uma vila de casas, a qual deram o nome de Vila Pasteur, para facilitar as entregas de correspondências e encomendas que chegavam pelos Correios. E assim ficou: Vila Pasteur, bairro Jamacaru, em Missão Velha.

Mas, pela distância que ficava do centro da cidade, apesar do aspecto cosmopolita, os demais moradores da cidade diziam que a Vila Pasteur ficava na “Baixa da égua”!

Construída de forma proposital numa rua que só tinha entrada (todos entravam e saiam pelo mesmo local), dando a impressão do que hoje chamam de Condomínio Fechado.

Duas fileiras de casas, divididas por uma alameda central. As casas do lado direito de quem entrasse, tinham os números pares, e, as que ficavam do lado esquerdo, os números ímpares. Na alameda central foram plantadas mudas de ipês amarelos e brancos e, de forma organizada, mudas de acácias rosas.

As pessoas que ali moravam, faziam parte (provavelmente) da quarta ou quinta geração dos fundadores da Vila. Quase ninguém atingira 100 anos de idade.

Alzira, uma senhora que havia anos ficara viúva de Alcides, tinha apenas um filho Aristeu – que viajara para o interior de Minas Gerais, onde cursava uma escola de formação de sargentos do Exército – o que obrigou Alzira a viver praticamente só naquela casa. Adquirira o hábito de passar boa parte da tarde na janela da casa, observando o cântico dos passarinhos que viviam e se reproduziam nos ipês e acácias da alameda central da Vila.

Alzira, diziam, dava conta da vida de todos que ali moravam. Dava cumprimento de “bom dia” a quem passasse na calçada da porta próxima da janela onde se debruçava. E tinha o hábito de cobrar respostas para o cumprimento.

A meninada da Vila passou a chama-a de “cabra velha” – por ela morar na casa de número 6.

Na Vila Pasteur, todos conheciam todos. O carteiro dos Correios também conhecia todos pelo nome e sabia exatamente onde cada um deles morava – o número da casa. Fazia anos ele entregava correspondências – já era conhecido e amigo até dos cachorros que, quando o viam agitavam o rabo em sinal de alegria, retribuindo um carinho qualquer.

Nos sábados pela manhã, os moradores se reuniam em mutirão para a limpeza da alameda, poda de alguns galhos envelhecidos e, por vezes, também se reuniam em mutirão para a pintura da parte frontal de alguma das casas da vila. Todos eram amigos – desde os primeiros que ali chegaram.

As casas de numeração par, seguiam até o número 12. Do lado esquerdo de quem entrava na vila, as casas seguiam até o número 11.

No número 9, moravam Bráulio e Iraci, aparentados de um político que se candidatara com o objetivo de facilitar a convivência dos seus e de alguns que tivessem motivos para votar nele – eles, os descendentes dos armênios, não praticavam a política do “toma lá, dá cá”, mas passaram a admitir que “gentileza gera gentileza”.

Todos que ali nasceram e moravam, sabiam das dificuldades que os antepassados enfrentaram desde a saída da Armênia, o embarque quase clandestino num navio espanhol e, mais ainda, a liberação para viver no Brasil. Foi lhes oferecido e indicado um pedaço de terra de marinha em Jamacaru, Missão Velha. A oferta lhes pareceu um presente dos céus de uma nova terra prometida.

Vestes e hábitos chamaram a atenção, o que praticamente os obrigou a viver do nada ou do quase nada que trouxeram. Resistiram. Persistiram. Cresceram, e hoje são uma pequena parcela dos mais de 200 milhões de brasileiros.

Alzira viveu boa parte de tudo isso. O que não presenciou, ouviu dos pais e avós. As mágoas que trouxeram da quase fuga, foram transformadas em fertilizante para a vida e o bem comum entre todos. Inclusive os da Vila Pasteur, com raízes que continuavam crescendo por conta das gerações atuais.

OBSERVAÇÃO: Viver fora do nicho, certamente não é coisa boa. Aqui mesmo no Brasil, a cidade de “Treze Tílias”, em Santa Catarina, é um dos melhores exemplos de adaptação e crescimento de estrangeiros numa “terra prometida”. Sem que tenha sido uma leve pretensão de equiparação com Israel e a defesa do seu estado contra a Faixa de Gaza.

A cidade de Jamacaru, a Vila Pasteur e a Faixa de Gaza ficam todas na “baixa da égua”.

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

ENTRE O CÉU E O INFERNO – A INFÂNCIA ERA DIFERENTE

Forma lúdica da convivência social de antigamente

Poucos conseguiam sair do inferno e chegar ao céu, sem erros ou pecados, de uma única vez. Só os bons conseguiam. Sempre conseguiam.

Sem playground do shopping, sem a observação vigilante dos pais e/ou das mães, tudo se resolvia com um pedaço de calçada livre, um pedaço de gesso e a disponibilidade de alguém em riscar o chão, e ali desenhar 12 espaços que também podiam ser chamados de casas.

Doze casas que, nem se sabia por que, e quase ninguém tinha consciência disso, seriam transformadas em onze – ninguém contava com o inferno, casa inicial. Mas desenhar era importante, para que todos entendessem que ele existe. Só mesmo os “sem-sorte” que, ao ficarem de costas para a “amarelinha” e jogarem a “pedra” para sortear a ordem de participação, tivessem a infelicidade de fazer a pedra cair no inferno.

Pular. Inconscientemente, pular.

Pular carregando no peso de si mesmo, toda a ingenuidade.

Hoje, tudo é diferente. Sou defensor de que o mundo não mudou. As pessoas, isso sim, mudaram!

As calçadas mudaram.

Não existem mais, muito menos os espaços para desenhar em riscos de gesso as amarelinhas da vida, e da infância que conduz aos bons hábitos.

Nos playgrounds dos shoppings foram feitos desenhos de amarelinhas, sem inferno e sem céu.

Como se esses não existissem!

As mudanças das pessoas fizeram com que elas desenvolvessem teorias que não levam à lugar algum (tal e qual a “posse de bola” num jogo de futebol), criando situações insignificantes, querendo recriar a amarelinha como um equipamento de educação e esforço físico – mas, sempre dirigido por quem teoriza. Nada mais que um cabresto, com a intenção de ter a posse das pessoas.

Teoria – nada mais que isso

Se por um lado as calçadas desapareceram e com elas levaram os espaços onde eram desenhadas as amarelinhas onde meninos e meninas se associavam nas brincadeiras livres de cabrestos, e/ou teorias paulofreirianas, os “defensores da educação” plantaram as sementes que, nasceram, ao tempo que vieram transformadas em tapetes que podem ser colocados (ou retirados), ou adesivos plásticos que podem ser afixados em definitivo – com a “vantagem” de gerar empregos e movimentar a indústria.

Teoria – igual a posse de bola no futebol

Zé Ramos, o que te motivou a enxugar gelo, dissertando sobre um assunto que não interessa a mais ninguém?

Foi isso que me questionou a minha consciência de menino livre que brincava de forma sadia, respeitando os pais, os sarampos, as rubéolas, as gripes e, no caso da amarelinha, os bichos-de-pé, que me impediam de pular para me livrar do inferno, superar as outras dez casas até chegar ao céu, vitorioso.

A calçada sumiu e levou o rabisco da amarelinha. De bônus, levou também os fins de tardes sadios, onde mães sentavam nas suas cadeiras de balanço colocadas nas calçadas e conversavam com vizinhas na tentativa de encontrar ajuda mútua.

A amarelinha, distante das teorias atuais, proporcionava tudo isso – evitando passar pelo inferno em que o modernismo transformou os fins de tardes e a vida.

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

OS BARES E AS BODEGAS DAS NOSSAS VIDAS

A bodega do “Seu Zé”

Sair do trabalho ao concluir o horário, a direção é o caminho de casa. Condução popular, alguns minutos ou horas na direção, mas sempre a caminho de casa, para o descanso.

O apear da condução e o caminho de casa. Pertinho. Na esquina da rua onde moramos. Antes, na Bodega do Seu Zé, um cumprimento aos amigos e alguns vizinhos. Coisa rápida!

– Boa noite a todos!

– Boooaa noite! Alguns respondem, outros apenas acenam com a mão.

– Aceita uma talagadinha daquela que “matou o guarda”?!

– Não! Tô levando o pão pra completar o jantar da molecada!

– Que nada! Só uma pra molhar o bico!

A dose mínima é servida. Os pacotes são colocados sobre o balcão de madeira, ao lado da terrina com tripas e toucinho salgados e da balança Filizola.

– Como eu aceitei a talagadinha, vou pedir a minha “gelada”, mas só tomo um copo e vou embora, levar o mata-fome dos meninos. Zé, traz a entradeira e a saideira. Quatro copos.

A saideira foi realmente mais entradeira. Uma, duas, três, quatro saideiras!

Nisso, a mulher foi avisada pela vizinha, que “faz tempo, teu marido tá na bodega do Seu Zé”!

A mulher vai na bodega buscar o pão, e aproveita para levar o marido.

Bar Pinguim em Ribeirão Preto/SP

Gosto de Ribeirão Preto. Conheci e passei a gostar. Fiquei gostando mais ainda, quando conheci o Bar Pinguim e o chope geladinho que chega da fábrica através de uma serpentina. Serviço atencioso e profissional dos garçons. Ambiente seguro, bem iluminado, mas, sem que muitos entendam, a clientela prefere sempre as mesas da calçada.

Tira-gosto de qualidade. Bolinhos de queijo e de bacalhau, acompanhados de fatias de salame defumado.

O chope “sem colarinho” é imperdível! Um, dois, três, quatro!…. até a primeira ida ao banheiro.

Bar Amarelinho na Cinelândia no Rio de Janeiro

Ir ao Rio de Janeiro, não beber café pingado com leite num copo de vidro e não beber um chope no Bar Amarelinho da Cinelândia, é melhor não ir à Cidade Maravilhosa. Qualquer um precisa ir, “para carimbar o passaporte” e legalizar o passeio. Antes, a obrigatoriedade era conhecer o Bar Luiz, na Rua da Carioca – mas esse “fechou” as portas.

Diria que o Amarelinho não é propriamente um “ponto de encontro”, mas de passagem incluído no caminhar pela Cinelândia. É tradicional. Tem um ótimo serviço dos garçons. A fama de que é “ponto de encontro dos que saem do armário” é afirmação suspeita. Apenas a fama.

Bar/Restaurante do Ordones em Fortaleza

Pegando o avião e voando direto para Fortaleza, onde o turismo ganhou notoriedade pelo clima durante o ano inteiro. Praias sempre lotadas e limpas, com gerenciamento elogiável. Tem problemas de “segurança” que existem também até em Paris ou New York. Mas, ainda não é algo “fora de controle”.

Vida noturna de qualidade. Bons restaurantes e bares, todos (ou quase todos) funcionando com boas músicas. Sempre ao vivo. Enfrenta de frente e com rigidez os problemas que “alimentam a insegurança da cidade e dos turistas” com policiamento rígido e eficaz.

O povo cearense, de forma consciente ou não, descentralizou a vida noturna, tornando-a forte e boa nos bairros. O Flórida Bar do ex-jogador de futebol Sá Filho, mudou do Centro para a Aldeota; o Caravele, sempre foi na Avenida Luciano Carneiro e ali sobrevive há pelo menos 50 anos servindo bem, ao som de um piano bem tocado.

Mas, no crescimento do turismo, havia a necessidade do empreendedorismo, que não demorou muito. E começou no bairro São Gerardo, tendo como semente plantada, uma lata servindo de fogareiro para assar passarinha, avoante e tripinha de porco, servindo doses de cachaça e cervejas.

Os serviços de transporte urbano se modernizaram com a chegada do metrô e a boa frota de ônibus urbanos. Isso prejudicou o serviço dos “taxistas de carros-de-praça”, tirando-lhes o pão de cada dia.

Inventivo, o ex-taxista Ordones resolveu “assar tripas no fogareiro”, caminho para o melhor e mais frequentado bar de Fortaleza, que virou restaurante, trocando e fazendo servir o melhor carneiro do Norte e Nordeste. De todas as formas: cozido, assado, defumado, com direito a melhor linguiça “caseira” de carneiro do País.

Bar do Seu Luna em Recife

Mas, acredite. Falar pouco ou quase nada dos bares da nossa vida que existem em algumas capitais e/ou cidades brasileiras, e não citar o Bar do Seu Luna, ali próximo da Praça do Sargento, mais propriamente na Avenida Saldanha Marinho, na Imbiribeira, convenhamos que é ser injusto.

É no Bar e Restaurante do Seu Luna que os notívagos e cachaceiros de Recife ou visitantes enchem o bucho do melhor “osso buco asado na panela, molhado com o mais suculento molho”. Cachaça Sanhaçu da melhor qualidade. Ambiente familiar (até certa hora da noite, antes da chegada das raparigas de plantão que se profissionalizaram em receber pagamento em Pix, todas vindas da feira de Casa Amarela), frequentável por crianças acompanhadas.