Amara Brotinho
O Sertão é imenso! Começa lá em cima no Ceará e desce o mapa em busca das Minas Gerais – ou sobe partindo de lá, porque o contrário também serve – atravessando o Nordeste todinho, deixando oficialmente de fora apenas o Maranhão.
Segundo o meu amigo paraibano Zelito Nunes, autor de alguns livros e incontáveis ensaios sobre certos tipos de sertanejos e beradeiros, os habitantes dessa área geográfica continental se comunicam com outras áreas próximas pelo intercâmbio das feiras, dividindo e dando continuidade às práticas dos mesmos costumes e possuindo quase um jeito único de ser, de pensar, de agir e de falar.
Isso ele me disse quando, ainda na primeira década deste século, eu o questionei sobre fatos que se repetem igualzinhos e as respostas semelhantes dadas pelos beradeiros há centenas de quilômetros de distância de um causo para outro e vividos por pessoas diferentes, em lugares distintos. De igual apenas um fato: são sertanejos beradeiros.
Para mim, que nada sou e nada tenho, é o Sertão o ambiente mais extraordinário onde se desenvolve ainda hoje a Filosofia do Beradeiro.
O beradeiro, em que pese aqui tanto o homem quanto a mulher, tem o pensamento e a visão de mundo sob uma ótica tão simples que acaba excedendo o pensamento lógico por ser, justamente, a lógica em sua mais genuína pureza.
Basta ver como eles respondem a qualquer pergunta, ou como constroem situações que o “homem sofisticado” perde um tempão na busca pela resposta de “como ele pensou isso desse jeito?”
É que o beradeiro enxerga a vida sob outra equação moral.
Daí, para exemplificar de como o beradeiro chega à conclusão nas respostas das coisas por uma lógica complicada de tão simples, eu copio abaixo parte da mensagem recebida ontem de Luiz Berto, um amigo meu lá de Palmares, autor dos melhores livros que li ultimamente.
Berto me contou pelo WhatsApp que a frase entre aspas quase encerrando esse meu converseiro besta, é da sua querida e saudosa amiga Amara Brotinho, que virou personagem do seu livro O Romance da Besta Fubana.
Segundo Berto, Amara Brotinho foi uma grande rapariga da zona de Palmares nos anos 60 do século passado. Era uma “prostituta que ganhava a vida honestamente, dando duro e levando duro”.
Pois bem, como boa beradeira Amara certa vez soltou essa:
“Pra adular macho melhor do que eu, só se for barbeiro; que raspa, alisa a ainda bota perfume.”
Por trás da sublime filosofia em tal sentença há uma descoberta sensacional: a igualdade na equação da beradeira Amara Brotinho estava provada!