Disseram que a Janja provocou constrangimento na China. Não é verdade. O constrangimento é que vive provocando a Janja. O companheiro Xi Jinping foi claro: o Brasil pode banir o Tik Tok se quiser. Quem é que viu constrangimento nisso?
Sair do armário é sempre um movimento saudável, jamais constrangedor. Na viagem à China, Lula e Janja assumiram para o mundo os seus propósitos. Pedir a um dos maiores ditadores do planeta ajuda para disciplinar redes sociais não é para qualquer um. Tem que ter muita desinibição. Principalmente se você disser que fez isso em nome da democracia.
Estava tudo transcorrendo muito bem, entre quatro paredes – como recomenda a transparência democrática – até que houve o vazamento. Inspirado pelos modos do companheiro Xi, Lula jogou no ventilador e declarou para todo mundo ouvir que havia um traidor no grupo. No seu grupo.
Claro que o mais importante numa hora dessas é caçar o linguarudo e repudiar a publicidade de um assunto privado (o mandato de presidente é dele, ele faz o que quiser com ele). Alguns entendidos dizem até que, na democracia perfeita, nem é preciso maioria popular para conquistar o poder. Mas isso é outro assunto.
Mas a maior energia no pronunciamento de Lula sobre a missão chinesa foi colocada na parte referente a Janja. Ele chegou a se referir a ela como “a minha mulher”, mostrando os dentes de fera ferida. E corrigiu todo mundo, afirmando que quem perguntou ao presidente chinês sobre redes sociais foi ele próprio. Janja só teria colocado na mesa um dado adicional sobre viés político do Tik Tok.
Nessa hora, o presidente brasileiro alcançou seu maior nível de sinceridade. Disse que pediu, sim, ao companheiro Xi Jinping a designação de alguém da confiança dele para ir ao Brasil checar o funcionamento do ambiente digital.
O presidente Lula fez a sua parte. Declarou para quem quisesse ouvir que quer um emissário do regime chinês atuando no Brasil para o disciplinamento da internet, um ambiente que, segundo ele, tem sido muito permissivo com a circulação de falsidades.
Todos os apoiadores ou simpatizantes discretos do governo têm agora a oportunidade de declarar que a sua concepção de democracia e liberdade de expressão coincide com a do presidente.
Se não quiserem falar, não tem problema. Tem horas que o silêncio diz tudo.
O presidente Lula e o ministro da Educação, Camilo Santana
Até o final deste ano, o Congresso Nacional terá a responsabilidade de definir os rumos da educação brasileira para a próxima década, por meio da aprovação de um novo Plano Nacional de Educação (PNE). Trata-se de uma oportunidade crucial para enfrentar as persistentes deficiências do sistema educacional e reduzir o abismo que separa o Brasil de nações com melhores índices de aprendizado e colocar o país no caminho da excelência. Para tanto, será necessário um esforço firme e criterioso dos parlamentares, sobretudo diante da proposta encaminhada pelo governo federal, que está longe de priorizar a melhoria da qualidade do sistema nacional de ensino.
Nascida a partir do documento aprovado durante a última Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada no final de janeiro do ano passado, em Brasília – evento marcado pela presença maciça de grupos ligados a movimentos sindicais e sociais e pelo cerceamento de vozes discordantes –, a proposta do governo Lula para o novo PNE é falha em muitos aspectos e está longe de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no país, priorizando interesses corporativistas e ideológicos em vez da melhoria da qualidade educacional no país.
Levantamento realizado pela Confederação Nacional das Associações de Pais de Alunos (Confenapais) identificou ao menos 99 pontos críticos na proposta original para o novo PNE, muitos deles caracterizados por formulações vagas, subjetivas e desconectadas de metas concretas. Um dos aspectos mais preocupantes é a previsão de aumento substancial dos investimentos públicos em educação – com a meta de alcançar 10% do PIB – sem que se apresentem critérios claros de eficácia ou mecanismos de vinculação desses recursos à melhoria da aprendizagem.
A crença de que a simples ampliação orçamentária resultará automaticamente em avanços educacionais é, no mínimo, ingênua. Gastar mais e mal não adianta – é puro desperdício de dinheiro público. Um PNE focado em melhorar a qualidade do ensino deve, necessariamente, atrelar os investimentos a ferramentas e critérios concretos para a avaliação do ensino – como os estabelecidos por avaliações internacionais de educação que medem a aprendizagem de estudantes em diversos países, como PISA, TERCE, LLECE e ERCE.
Outra fragilidade do novo PNE reside na centralização de competências no Ministério da Educação (MEC), em detrimento da autonomia das redes de ensino e dos próprios educadores. A proposta acena para a padronização de modelos já testados e fracassados, sem reconhecer a necessidade de soluções adaptadas às diversas realidades locais; e propõe a manutenção de práticas que desestimulam a excelência, como a aprovação automática e as falhas estruturais na alfabetização – tão profundas que hoje 30% da população brasileira é formada por analfabetos funcionais, incapazes de compreender ou interpretar um texto simples.
Além disso, o documento está recheado de referências ideológicas, favorecendo o acesso a recursos e políticas públicas a determinados grupos em detrimento de outros. Em várias das estratégias propostas, por exemplo, o texto do governo menciona prioridade a estudantes “negros, indígenas, quilombolas, do campo, das águas e das florestas”, numa espécie de segregação que compromete crianças pardas e brancas que também se encontram em vulnerabilidade socioeconômica. O teor ideológico também transparece na proposta do PNE com a inclusão de temáticas alheias à educação, os chamados “temas transversais”, como educação ambiental, direitos humanos e relações étnico-raciais já na educação infantil, tirando o foco de conteúdos e competências essenciais para o desenvolvimento cognitivo e a alfabetização.
Diante de tantas lacunas, caberá à Comissão Especial da Câmara dos Deputados criada para debater o tema examinar a proposta do PNE com rigor e responsabilidade. Embora o projeto tramite em regime de prioridade, com expectativa de apreciação no Senado ainda neste ano, a urgência não pode servir de pretexto para uma deliberação apressada ou superficial. O futuro da educação brasileira exige um debate à altura de sua importância.
Caso o Congresso opte por aprovar, sem alterações profundas, um plano que negligencia a qualidade do ensino, estará não apenas desperdiçando uma oportunidade histórica, mas também condenando o país a mais uma década de estagnação educacional – e, por consequência, de atraso social e econômico.
O governo Lula (PT) dobrou seus gastos com viagens, nos últimos 45 dias, passando de R$ 212,1 milhões em abril para R$ 423,3 milhões até 15 de maio, somando o espantosos R$ 5,05 bilhões desde a posse, em janeiro de 2023.
Os dados são do Portal da Transparência, que voltou a expor os gastos, como manda a lei, após meses de inatividade.
Nesses 45 dias, as diárias de assessores governamentais totalizaram R$ 255,3 milhões e as passagens aéreas custaram quase R$ 166 milhões.
A conta não inclui voos de Lula e Janja nos jatos da Força Aérea, nem as viagens do vice Geraldo Alckmin, ministros e outras autoridades.
Até agora, em 2025, o pagador de impostos bancou R$ 61,7 milhões somente em viagens internacionais para funcionários do governo Lula.
Especialistas estranham os gastos porque há anos a tecnologia garante reuniões virtuais e acesso a dados pela internet que dispensam viagens.
Nunca o governo federal gastou tanto com viagens quanto nos dois primeiros anos do terceiro mandato de Lula: R$ 4,63 bilhões.
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A palavra “espantosos”, contida no primeiro parágrafo dessa nota aí de cima, resume tudo.
É mesmo um espanto gigantesco essa gastação bilionária.
Uma gastação tão espantosa quanto a cara-de-pau dos gastadores e do chefe do bando.
Muitos governantes tentam conseguir os objetivos típicos de boa gestão econômica aplicando políticas erradas e meios ineficazes, cujo resultado é sempre obter o oposto do que pretendem. Na história econômica do Brasil, a reincidência na adoção das políticas erradas é constante, qualquer que seja a inclinação ideológica e a filiação partidária dos governantes. Um exemplo é o argumento usado pelo governo Lula para justificar sua política errática na área da economia, marcada pelos gastos cada vez mais desenfreados.
Segundo a lógica petista, defendida desde o primeiro governo de Lula, os objetivos prioritários do Estado estariam relacionados ao socorro às camadas indefesas da população e à redução da pobreza – o que elevaria o nível de bem-estar social. Para obter tais objetivos – justifica a narrativa oficial de Lula –, o governo precisa gastar cada vez mais, mesmo que isso leve ao caos na economia, com o descontrole das contas públicas ou ao aumento da inflação. Trata-se de um erro que vem custando caro ao país.
Países que hoje aparecem entre os com maior qualidade de vida e menor pobreza priorizam como objetivos econômicos de curto prazo o controle da inflação, mantendo-a baixa, e a geração de empregos, aliada ao baixo desemprego. Uma vez alcançados esses dois pontos, a diminuição da pobreza e a melhoria do nível de bem-estar social são muito mais facilmente alcançadas – e mais duradouras, pois não estão atreladas nem limitadas ao aumento dos gastos públicos.
Para ter êxito nos objetivos econômicos e sociais no longo prazo, como o fim da pobreza e a melhor qualidade de vida, a renda média por habitante deve crescer regularmente, e isso depende de que haja crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) anualmente a taxas superiores à taxa de crescimento da população, conquistas essas somente possíveis em situação de inflação baixa e nível de emprego alto. Inflação e desemprego são dois fantasmas que assombram os governantes e as autoridades econômicas por serem fortes obstáculos para manter a economia em rota de crescimento do PIB e estabilidade de preços. A inflação provoca um duplo efeito devastador sobre a renda das pessoas, especialmente dos trabalhadores assalariados. O primeiro efeito é reduzir o poder de compra dos salários à medida que os preços dos bens e serviços são aumentados; e o segundo efeito é elevar a fração da renda direcionada ao pagamento de juros sobre as dívidas feitas pelas pessoas.
Ainda que finja ignorar esses princípios básicos da economia, Lula conhece muito bem o peso deles. Lembremos que a reeleição de Lula, em 2006, que deu a ele o segundo mandato presidencial entre 2007 e 2010, aconteceu quando já havia sido escancarado o ambiente de decadência moral derivado da elevada corrupção conhecida como “mensalão”. Os desvios, fraudes e outros tipos de corrupção no mensalão resultaram em condenações de figuras importantes do governo, do Partido dos Trabalhadores e de outros, em processo conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar disso, Lula foi reeleito, e isso somente foi possível porque a gestão macroeconômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, foi bem-sucedida ao dar sequência à política econômica herdada do governo anterior de Fernando Henrique Cardoso e contar com os benefícios do bom ambiente internacional, que elevou os preços das commodities exportadas pelo Brasil. O primeiro mandato de Lula terminou com bons resultados na economia no balanço das contas com o resto do mundo, nas contas fiscais do Tesouro Nacional, no controle da inflação e no crescimento do PIB. Esse conjunto de elementos foi decisivo para dar a vitória a Lula, mesmo com a grave corrupção tendo sido revelada no quarto ano de seu primeiro mandato.
Em países pobres, como o Brasil, as melhorias na economia são a prioridade maior por sua capacidade de reduzir a miséria, o desemprego, a pobreza e o grau de sofrimento humano típico dos quadros de pobreza aguda. A inflação provoca um duplo efeito devastador sobre a renda das pessoas, especialmente dos trabalhadores assalariados. O primeiro efeito é reduzir o poder de compra dos salários à medida que os preços dos bens e serviços são aumentados; e o segundo efeito é elevar a fração da renda direcionada ao pagamento de juros sobre as dívidas feitas pelas pessoas. Por isso, o controle da inflação deveria ser tratado como prioridade pelo governo federal – mas isso está longe de acontecer.
Quando, num passado recente, Lula criticou o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, dizendo que a obsessão do BC com o combate à inflação não fazia sentido porque, segundo Lula, não haveria importância caso a inflação fosse um ou dois pontos percentuais maior do que a meta, e Gleisi Hoffmann, hoje ministra de Lula, ecoou as mesmas críticas, ambos mostraram que, aparentemente, estão longe de entender os aspectos teóricos mais elementares da economia e o peso das consequências sociais da inflação. Hoje, com a mudança na direção do BC, as críticas do presidente e de Gleisi cessaram não porque entenderam o problema e passaram a concordar com o Banco Central, mas apenas porque agora é Gabriel Galípolo, indicado por Lula, que está no Banco Central, e o Comitê de Política Monetária (Copom) é composto majoritariamente por membros também indicados pelo presidente petista. Lula tratou o problema do déficit público na mesma linha, dizendo que a tese de que o governo deve controlar os gastos e evitar a explosão do déficit é crença de quem é “contra os pobres”, quando o rombo das contas públicas não vem dos gastos com pobres, mas vem de uma burocracia inchada (que foi aumentada por Lula), da ineficiência, dos desperdícios e da corrupção – marcas conhecidas das gestões petistas no plano nacional.
Um grande flagelo na administração de uma empresa ou de um governo é a ignorância – deliberada ou não – sobre as teorias e complexidades econômicas envolvidas na atividade de gestão. Quando a ignorância técnica é seguida por ineficiência e fraudes, tem-se a combinação perfeita do que é uma gestão desastrada, causadora da pobreza que deveria combater. Eis aí a receita para o país não sair do atoleiro típico das nações subdesenvolvidas.