Carlos Pena Filho (1929-1960) foi considerado um dos mais importantes poetas pernambucanos da segunda metade do século XX depois de João Cabral de Melo Neto. Sua obra foi curta como sua vida, entretanto deixou marcos fortes na cultura da velha capital de Pernambuco. Poeta de expressão simples atingiu no Recife aquela consagração que faz os versos correrem de boca em boca, memorizados, ou de mão em mão, copiados de velhas edições empoeiradas.
A produção literária de Carlos Pena Filho revela sentimento de delicadeza e cuidado para não ofender as pessoas e ideias. Ele era conhecido pelos amigos, como sendo uma pessoa muito comunicativa, sorridente, cordial, tolerante e compreensiva. Naturalmente, muito dessas características eram passadas para sua obra.
Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco, em frente à qual hoje se encontra o busto do talentoso poeta. Teve sua carreira prematuramente encerrada, aos 31 anos de idade, em virtude da morte em acidente de carro.
Sua poesia é viva, carregada de lirismo, oralidade e expressividade, além de seu apelo pictórico. Uma amostra do talento de Carlos Pena Filho é este belíssimo soneto:
SONETO DO DESMANTELO AZUL
Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder pintar de azul as ruas,
depois vesti meus gestos insensatos
e colori minhas mãos e as tuas.
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
Vitorino,
Sou um leitor e admirador do brilhante poeta Carlos Pena Filho (1929 -1960). Utilizo meu comentário para esclarecer a morte prematura, aos 31 anos, em acidente de carro, de Carlos Pena Filho.
“No dia 2 de junho de 1960, o poeta estava no carro de seu amigo, o advogado José Francisco de Moura Cavalcanti, quando foram atingidos por um ônibus desgovernado. Carlos Pena recebeu uma violenta pancada na cabeça. O rádio logo divulgou a notícia e as autoridades e os amigos acorreram ao pronto-socorro. O motorista e Moura Cavalcanti tiveram ferimentos leves, mas Carlos Pena não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 10 de junho de 1960.”
Vitorino,
Agradeço seu valioso comentário com a descrição do acidente de carro que levou antes do combinado o inspirado poeta Carlos Pena Filho (1929 – 1960). Para esclarecer os leitores fubânicos de outros estados, compartilho uma minibiografia do amigo, proprietário do carro, cujo acidente vitimou o poeta Carlos Pena Filho.
José Francisco de Moura Cavalcanti (1925-1994) foi um político, advogado e administrador brasileiro. Exerceu diversos cargos públicos. Foi Ministro da Agricultura, no governo do presidente Médici. Foi Governador de Pernambuco entre os anos de 1975 e 1979.
Saudações fraternas,
Aristeu
Neide,
Apesar de ter tido uma carreira breve, Carlos Pena Filho é considerado um dos poetas mais importantes de Pernambuco. Em sua trajetória foi parceiro de Capiba, escreveu livros e deu vida a canções, gravadas por outros artistas, como “A mesma rosa amarela”, “Claro Amor”, “Pobre Canção” e “Manhã de Tecelã”. Sua estátua fica na Praça da Independência, também conhecida como Pracinha do Diario, no centro comercial do Recife. Carlos Pena Filho faz parte do circuito da poesia, roteiro turístico que exibe personalidades recifenses, seja de nascença ou por moradia, em locais importantes para suas histórias.
Neide,
Muito obrigado por seu excelente comentário. Foi muito importante e oportuna a informação sobre o Circuito da Poesia do Recife, formado por 17 esculturas de artistas pernambucanos ou que viveram no estado, Agradeço sua generosidade compartilhando um poema de Carlos Pena Fiilho (1929 – 1960) com a prezada amiga:
A SOLIDÃO E SUA PORTA
A Francisco Brennand
Quando mais nada resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha),
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha
A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório,
Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída:
Entrar no acaso e amar o transitório.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parabéns pela excelente crônica, prezado Aristeu!
Como você diz, a obra do grande poeta pernambucano Carlos Pena Filho foi curta, assim como sua vida, “entretanto, deixou marcos fortes na cultura da velha capital de Pernambuco”.
Todos os poemas de Carlos Pena Filho são belíssimos. Envio para você, o que mais me encanta:
CHOPP
Carlos Pena Filho
Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antônio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
P.S. Há alguns anos, conheci um filho de um dos últimos proprietários do Bar Savoy, português, Sr. Amandio Fernandes, onde o poeta Carlos Pena Filho escreveu “CHOPP”.
Uma ótima semana! Muita Saúde e Paz!
Violante
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Violante,
Grato por seu formidável comentário e por compartilhar um dos mais belos poemas de Carlos Pena Filho (1929 -1960). Conheci o Bar Savoy quando pertencia ao seu último dono, o Sr. Armando Fernandes. A decadência do comércio do centro do Recife causou o desaparecimento do Bar Savoy e de vários restaurantes que eram famosos pela nossa rica culinária.
Aproveito esse espaço democrático do JBF para retribuir sua gentileza enviando uma das pérolas poéticas de Carlos Pena Filho (1929 -1960) para a prezada amiga:
SONETO OCO
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
Saudações fraternas,
Aristeu
Obrigada pelo lindo soneto compartilhado comigo, prezado Aristeu! Adorei!
Conheci o saudoso casal, Sr. Amandio Fernandes e Dona Ignez Fernandes, e os
cinco filhos , incluindo Amandio Fernandes Filho.
Grande abraço!