JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

“Poeta, cantô de rua
Que na cidade nasceu
Cante a cidade que é sua
Que eu canto o sertão que é meu

Se aí você teve estudo
Aqui, Deus me ensinou tudo
Sem de livro precisá
Por favô, não mêxa aqui
Que eu também não mexo aí
Cante lá, que eu canto cá”

Pois, foi, e será sempre assim. No sertão onde nasci, xícara é xirca; mulher gostosa é paquetão; japin é xexéu; e chico preto é graúna. Sem esquecer que o peru continua respondendo assovio com glu-glu-glu.

Quando criança criei pássaros. Pouco sabia de liberdade e me satisfazia com a magia dos cânticos de cada um. Eram criados como se filhos fossem, saídos de mim. Hoje, com o que aprendi nos mundos por onde andei, essa foi uma prática que lá deixei.

Xexéu pra mim – japin pra outros

Quando eu era criança, caminhando para a adolescência, “caçava” passarinhos para completar a comida em casa (quase sempre, feijão com nada e menos alguma coisa. Rapadura com farinha seca era a gostosa sobremesa, e a gente comia como se fosse pudim de leite), sem ter ciência de nada e que aquilo era, além de ação para suprir uma necessidade, uma forma de brincar e passar o tempo.

Criança que nunca possuiu uma baladeira, um bornal cheio de pedras, nunca foi criança.

Além de “caçar” os passarinhos, quando encontrávamos algum ninho com ovos, “aquele já era muito mais nosso” que dos próprios pássaros. A gente “pastorava” aqueles ovos por 24 horas, quase chocando-os.

Pois um dia achei um ninho de xexéu, pendurado num galho que, de tantas folhas pesadas, acabou entortanto – e o xexéu, pássaro sabido, não faz seus ninhos em galhos ou locais de fácil acesso. O bicho é sabido.

O xexéu é da família icteridae, conhecida nas regiões onde prevalecem as grandes árvores e as folhagens em forma de palmeiras. É um imitador quase perfeito. O macho mede de 27 a 29,5 cm de comprimento e a fêmea de 22 a 25 cm, pesa de 60 a 98 g. O imaturo é de cor de fuligem em vez de negra. As fêmeas são bem menores que os machos. O canto é tão variado que as vezes causa a impressão de um coro de vários exemplares. É comum os indivíduos imitarem perfeitamente outras aves.

XEXEU CANTANDO

Graúna para mim – Chico-preto para outros tantos

Pela imensidão continental do Brasil, o pássaro graúna é conhecido por vários nomes. Mas, o nome científico é um só: Gnorimopsar chopi, popularmente conhecido como graúna, pássaro-preto, assum-preto, cupido, chico-preto, arranca-milho, chopim, melro ou craúna, é uma espécie de ave da família Icteridae. É a única espécie do gênero. Põe em média 4 ovos em ninhos geralmente construídos em buracos de árvores ou em ninhos abandonados de outras aves. Sua incubação é de 14 dias. Os filhotes permanecem em média 18 dias no ninho. Com 40 dias podem ficar independentes dos pais. Não há dimorfismo sexual ou etário, pois machos e fêmeas cantam, e os jovens são como os adultos.

No Nordeste ocorre a graúna (Gnorimopsar chopi sulcirostris), bem maior que o pássaro-preto. Devido ao nome chopi, presente na identificação científica, essa espécie recebe erroneamente o nome de Chopim ou Gaudério (da espécie Molothrus bonariensis): o macho é azul escuro de tonalidade de metálica, e a fêmea preto fosco.

A graúna era uma ave que, criança, gostava de criar numa gaiola, desde que apanhasse na primeira semana de nascida. Era alimentada no próprio bico, com angu de farinha e leite de cabra. Nunca pretendi “furar os óios”prumode ela cantar mió.

Ave dócil, de fácil convivência – às vezes ficava solta sobre a mesa onde comíamos. Tinha o hábito de voltar para a gaiola, com suas próprias asas e quando tinha vontade. Foi criada solta.

CANTO DA GRAÚNA

Peru – o rei dos que abrem o rabo

Por muitas e muitas vezes já citei aqui, que, minha Avó era meieira. Criava aves que pertenciam ao proprietário das terras onde vivíamos – e o que nascia a partir dali, era dividido ao meio. Criava caprinos, cuja produção leiteira era nossa. Criava galinhas, catraios, patos e perus.

Os perus, como até hoje manda a tradição, eram abatidos apenas no período natalino. E quando Vovó abatia uma ave daquelas, duas coisas apenas me interessavam: as tripas e o papo. As tripas viravam fritura com farofa e o papo virava a nossa bola de jogar nos fins de semanas.

O peru é uma ave que se alimenta de grãos e insetos. Tanto o macho quanto a fêmea têm a cabeça e o pescoço descoberto de penas. Geralmente as penas têm coloração preta, castanha ou até mais clara. Somente o macho possui um apêndice carnoso sob o bico chamado carúnculas. Medem até 1,17 m de altura.

Originário da América do Norte, foi levado para a Europa em 1511. O peru selvagem foi domesticado pela primeira vez no México há mais de mil anos, mas, no começo do século XX, havia desaparecido em grande parte dos Estados Unidos. Nos últimos anos o peru começou a ser reintroduzido no seu lugar de origem com aparente sucesso.

Peru é o nome comum dado às aves galiformes do gênero Meleagris. Uma espécie, Meleagris gallopavo, conhecida vulgarmente como peru-selvagem, é nativa das florestas da América do Norte. O peru-domesticado descende desta espécie.

Por anos, o peru era um dos nossos principais divertimentos, quando, de férias do período escolar nos dirigíamos para o interior. E a gente se divertia, assoviando. O peru respondia com o seu belo e tradicional glu-glu-glu, como pode ser ouvido no áudio a seguir.

PERU: GLUGLUGLU DE BOAS VINDAS

Esse é o papagaio falador que só canta o que lhe ensinam

O papagaio é uma ave rara e, no Brasil, enfrenta uma crescente extinção. Seu aprisionamento por famílias, o retirou do seu habitat de reprodução livre e crescente. Seu nome científico é Amazona aestiva (L.), mas é conhecido vulgarmente como papagaio-verdadeiro, ajuruetê, papagaio-grego, ajurujurá, curau, papagaio-comum, papagaio-curau, papagaio-de-fronte-azul, papagaio-boiadeiro, trombeteiro e louro, é uma ave da família Psittacidae.

O papagaio-verdadeiro é principalmente um papagaio verde com cerca de 38 cm (quinze polegadas) de comprimento e pesa cerca de quatrocentos gramas. Tem penas azuis na testa, acima do bico e amarelo na cara e coroa. Distribuição do azul e amarelo varia muito. A cor da íris dos adultos é amarelo-laranja no macho ou vermelho-laranja na fêmea. Se destaca um fino anel externo vermelho. Os imaturos têm íris marrom uniforme. O bico é negro no macho adulto. É uma das espécies mais inteligentes de ave do planeta. Sua expectativa de vida é de oitenta anos. Os papagaios-verdadeiros também costumam repetir o que ouvem de seus donos. (Este bloco de informações foi compilado do Wikipédia).

PAPAGAIO BOCA SUJA

10 pensou em “CANTE LÁ – QUE EU CANTO CÁ

  1. Preso aqui em casa há mais de 20 dias e vendo esta gaiola e o tamanho dela em relação ao tamanho do papagaio, fico pensando na agonia destes bichos, os quais Deus deu o dom tão maravilhoso que é voar e o homem tem a coragem de condená-los à prisão perpétua.
    Depois rezam e vão à igreja pedir saúde e felicidade a Deus.

    • Monsenhor, obrigado pelo reflexivo comentário. Mas, com ou sem gaiola, a hipocrisia faz parte do DNA do brasileiro, prendendo aves, tomando café, rezando, estudando, ensinando. Nenhum de nós é “puro” em muitas coisas – e aí é que mora a hipocrisia.

  2. Bom dia ZéRamos! Por mais que se modernise, o nordeste será sempre o nosso” sertão, seus comentários não nos deixam esquecer nossas origens, histórias e por que não dizer, nossa formação moral, religiosa, artística rústica e especializada em fuleiragem. Boa páscoa amigo!

    • Marcos, obrigado. Nessas nossas fuleiragens, há poucos dias escutei um rapariga convidando um macho para “amassar bombril”! Essa é uma prática antiga: encostar e amassar pelo com pelo nas genitálias. Quero dizer: fuder!

  3. Boas lembranças. Passei por quase tudo que o nosso ilustre Zé Ramos, tão bem narrou. Também tive minha baladeira, que na minha região era conhecida como peteca, mas não era um bom caçador. Acertava mais o dedo que o pássaro. Só não sei o que é catraio. rrrrr!

    • Beni: atirar com a baladeira na mão, só sendo vesgo (para nós do Ceará: caraolho). Catraio é o mesmo capote, galinha de angola.

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