CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Uma das casas da Fazenda de Bitônio Coelho, Século XX

Depois de mais de dois meses ausente de sua “soulmate”, com a solidão batendo-lhe à porta do coração imerso em saudades, o coronel Bitônio Coelho retorna aos braços de sua amada, cheio de salamaleques, com uma banda de boi abatido na fazenda Olho d’Água para servir no cabaré, dois quartos de bode e duas caixas de Macallan Reach de 1926 que ele armazenava no porão da senzala do engenho, dentro de dois barris de madeira antigo, coberto por uma cangalha de cavalo da raça nordestina, que o coronel tinha o maior apreço por não ser albino, não passar de um metro e cinquenta de altura, ter uma cabeça pequena e larga na frente com pescoço proporcional, sem contar com sua disposição para o trabalho e adaptação ao clima sertanejo.

Alertado por sua amada para ser mais cauteloso quando saísse da fazenda, pois havia atraído muitos inimigos por esses anos, que não se conformavam com o seu carisma, sua ascensão de poder e a conquista da mulher mais cobiçada das imediações canavieiras da Zona da Mata Norte carpinense, o coronel Bitônio Coelho não fez juízo de mercante, ouviu os conselhos de sua amada e passou a andar com três capangas fortemente armados. O amor prevalece de alguma forma mesmo com todos os obstáculos da vida. O coronel absolveu esses sábios conselhos da mulher tarimbada com as rugas da vida, apesar de nova.

Quando um ser humano começa a ganhar muito dinheiro ele começa a criar um sentimento de prepotência, arrogância e tirania, achando que pode ser o dono de tudo e mandar em todos. Com Maria Bago Mole foi diferente. À medida que ela ia crescendo, tornando poderosa, com o dinheiro entrando a troco de caixa e ela expandindo o negócio, principalmente o de venda de sexo, a felicidade dos homens endinheirados, mas ela começava a apreciar a paz, a humildade, a bondade, a distribuição de renda para as meninas irem procurando seus espaços para se tornarem independentes.

Maria Bago Mole, tomando como exemplo sua experiência de vida sofrida logo no início na Vila dos Vinténs, criou uma espécie de poupança para estimular as meninas que “trabalhavam” à noite. Para aquelas que se dedicassem mais, se esforçassem por ganhar mais dinheiro, vendendo sexo, e seus homens consumindo produtos do cabaré mais a comissão era gorda e havia uma escala de ascensão. Tudo isso Maria Bago Mole fazia sem forçar a barra, sem impor pressão nas meninas. Em “reunião”, dizia apenas que não seguissem seu exemplo. Que começassem a ser independentes ou se encontrassem um homem que a amasse e quisesse construir uma família, não titubeassem. A mocidade é curta – dizia ela às meninas, aproveitem.

Doida para se deitar com seu amado e matar a saudade de mais de dois meses sem terem tempo um para o outro, a cafetina, mais uma vez chamou as “cabeças” do cabaré, lhes deu instruções e poder para resolver os “pegas pra capar que acontecessem”, só a chamando quando o caso fosse de extrema gravidade, e foi se deitar com seu amado e se esquecer do que se passava fora do cabaré, mas antes de deitar-se, como era uma mulher que nunca acreditava em milagres e sim no trabalho e no poder da eterna vigilância quando não se sabia de onde viria o inimigo, recomendava as meninas que, se o cerco apertasse com qualquer engraçadinho que quisesse desmoralizar o ambiente, tacasse-lhe fogo com o COLT 45 que estava guardado numa dispensa do porão do cabaré, construído por ela com essa finalidade.

A noite terminou em paz, mas cedo houve rumores nas redondezas da “casa” que o desafeto do coronel Bitônio Coelho, Juvenço do Oião, esteve sondando o ambiente antes do sol aparecer…

23 pensou em “BITONIO COELHO RETORNA AOS BRAÇOS DE MARIA BAGO MOLE

  1. Afinal de contas, meu caro Cícero: esses personagens, tão interessantes( Maria Bago Mole, Bitonho Coelho entre outros) são frutos da sua imaginação fértil ou realmente existiram? Mate a minha curiosidade, meu jovem. Abraço.

    • Existiram não; existem e se encontram para “suruba anual”, onde algumas meninas se juntam, a Ciço, Maria, Juvenço do Oião, Bitônio e D Matt lá em Balneário Camboriú, na mansão de Dirceu, para animadas festinhas anuais que fariam corar até o padre da paróquia e a papa Berto.

      Para a festança deste ano,até Sancho, vejam só, recebeu convite (será em julho, pois o friozinho daquelas bandas favorece os rituais de acasalamento). Ops, “adescurpa”, ai, Beni, parece que o carteiro estraviou seu convite (quando o Bolsonaro privatizar “os Correios” isso não mais ocorrerá). kkkkkkkk

  2. Ciço,

    Avisa Juvenço do Oião que Zé da Zana “soulmate sanchiano” , cabra destemido e caminhoneiro que se aventura de quando em vez pela Zona da Mata Norte carpinense, pois nos tempos de caixeiro viajante por tais bandas fez família, é fã da Bago Mole e escreve o o nome de Oião na cartucheira, e quando tal fato ocorre só se “assussega” meu brother Da Zana quando manda o cabra para a “terra dus péjunto”. Que se registre o recado.

    Registre-se, ainda, que o convite para julho chegou e que és “phodda bagarai” e não à toa, integrante do “Fantastic Four Tavariano”.

    Vida que segue, i vamu qui vamu, que o frete se faz necessário pra pagá as pinga da vida e as quenga da noite!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Braçação, Ciço, beijão, Maria!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Fuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    • Querido Sancho,

      No próximo capítulo vão aparecer mais dois coronéis afim de Maria Bago Mole, dispostos até a matar Bitônio Coelho numa emboscada para emancipar o território do Cabaré. Mas Maria Bago Mole toma conhecimento por meio de outro que é afim de comê-la, e avisa ao amado para ter maus cautela, não andar a cavalo só, não ir só quando for visitá-la. E qualquer sombra que lhe apareça na frente, meta bala!

      Quanto a ela, diz para ele que se garante, pois nasceu para ser mulher de um homem só: Ele!

      • Extraordinário Xico,

        Nesse caso, certamente, quem iria escolher o “oio” era Bitônio Coelho, um dos fazendeiros da Zona da Mata Norte de Carpina (PE) que mais odiava assaltante. Contraditoriamente defendia assassino.

        Maria Bago Mole era mais razão, um arma de negociação poderosíssima dela para conquistar um intento para sim e para os outros a quem ela ajudava.

        Não foi à toa que uma mulher como ele, numa época onde predominavam a brutalidade, o poder econômico e o racismo, ela venceu e conquistou o homem mais rico daquelas paragens.

        Dizem até que quando ela cuspia os homens ficavam excitados, daí entrar na história Juvenço Oião e mais dois desenxabidos, nos próximos capítulos, que vão tentar conquistá-la das mãos do coronel Bitônio Coelho.

        Abraçaço estimado poeta.

    • Estimado Adônis,

      Sei que a história é fascinante e que merece um romance à lá O Romance da Besta Fubana.

      Fatos não faltam. O que está faltando em mim é tempo, pois ainda trabalho e meu trabalho é cansativo, desgastante, mas já há uns 10 capítulos prontos para o deleite dos aficionados pela história que, confesso: É HÍBRIDA!

      Um lembrete a todos: Eu não mato Maria Bago Mole nem o coronel Bitônio Coelho. Eles desaparecem numa nuvem branca!

      Grande abraço, estimado bolsonarista!

    • Cheguei agora da labuta e, usufruindo do que escreveu La Cebliitta, “Maria Bago Mole é a diva do menino dos cocos”, creio que resta comprovado a quem pertence o primeiro exemprar da chef-d’œuvre.

      ¿Nella prima edizione di questo lavoro? Pode autografar e entregar a Sancho, Ciço e… ops, aí surgirá DMatt reivindicando tal primazia.

      Contentar-me-ei em ser convidado para a sessão de autógrafos, onde certamente MBM colocará as mais sofisticadas beldades de seu cabaré para fazerem companhia aos “solitários sanchos”.
      E há, ainda, a possibilidade de acordo com Juvenço do Oião para “eliminar” a concorrência, ora se há…

  3. Parabéns pelo retorno ao tema Maria Bago Mole, querido Ciço Tavares! Excelente texto!

    Esta empolgante trama está criando expectativas e despertando, cada vez mais, o interesse dos leitores.
    Gabriela, Cravo e Canela e Tereza Batista, Cansada de Guerra, personagens de Jorge Amado, bem que poderiam ter conhecido Maria, essa mulher batalhadora, que sabia amar e respeitar o seu homem, enfrentando a vida como uma guerreira.

    Grande abraço!

    • Violante, lindona, bonitona, Vivi,

      Para o seu tempo realmente Maria Bago Mole foi muito ousada, avançada, arrojada, de uma visão empreendedora admirável.

      E o mais interessante: é que ela, a despeito de ter sido expulsa de casa pelo pai, cortador de cana, preferindo acreditar em caraminholas de um cafajeste que era doido para namorá-la e ela não o queria, espalhou nas redondezas que lhe havia deflorado, e o pai acreditou.

      Desprezou-a como se despreza um vime surrado, jogando-lhe todas roupas no terreiro da casa de taipa, e gritando que nunca mais lhe queria ver a cara.

      Maria Bago Mole não se abateu, nem se prostituiu nas estradas esburacadas da vida. Chegou à Vila dos Vinténs, foi acolhida pelos moradores, chamou a si todas as responsabilidades da pobreza e do atraso do Vilarejo e com menos de um ano de trabalho, dedicação, e ajuda mútua, transformou a Vila no oásis, dando dignidade aos seus moradores. Para tal ela transformou a palavra SOLIDARIEDADE em ação, e começou a progredir e o povo acreditar no seu tato de grande mulher que caiu feito um anjo na Vila.

      Xêraço, querida e ótima semana.

      • Obrigada, querido Ciço Tavares! Criador e criatura se fundem numa só pessoa. Um livro é como um filho, esperado carinhosamente! Que venha logo!

        Abraços.

    • Assuero,

      Maria Bago Mole tinha um carisma nato, pura tigresa de unhas negras e iris cor de mel. Segundo meu irmão, José Tavares Sobrinho, que conheceu alguns remanescentes dela, ela quando andava pelo salão para visitar e conversar cada um dos fregueses, eles ficavam com a bengala intumescida

      Quem manda ser sensual!

      Abraçaço, amigo.

  4. Caros colegas comentaristas, calma !

    Posso garantir a vocês que O ROMANCE DE MARIA BAGO MOLE está sendo
    escrito há muito tempo e como o Ciço deseja ser muito fiel aos acontecimentos
    está caminhando devagar, pois não quer deixar nem uma virgula fóra do texto
    e como se trata de um documento quase histórico ele vai bordando todos os acontecimentos e narrando pelas beiradas, tal qual quando se come mingau
    muito quente, em dia de muita fome.
    A preocupação principal do Ciço, é que a narração não venha a ser considerada pelos leitores como um documento apócrifo, pois está consultando arquivos e
    papéis oficiais e todos os documentos que possam testemunhar a veracidade dos acontecimentos a serem narrados.
    Digo com toda firmeza que esta é a razão do esperado livro ainda não ter sido
    parido após mais de nove meses de discussão e debates dos leitores ,
    pois todos serão agraciados com a verdade , nada além da verdade e poderão crer
    que não estarão sendo ludibriados com estórias fantasmas ou fantasias.

    O Ciço trabalha com documentos e cartórios na sua profissão e como tal
    não se engana e sabe diferenciar um documento verdadeiro, de um boato mal
    descrito e enganoso, como noticia de jornal fajuto ,que inventa acontecimentos para berrar grandes manchetes escandalosas.
    Estou a par de tudo isso, pois o amigo Ciço me telefona quase toda semana e
    trocamos idéias sobre os acontecimentos e neste bate papo sempre vem a tona
    o Romance de Maria Bago Mole, que quando publicado causará um
    alvoroço tão grande como o excelente Romance da Besta Fubana do
    excelso editor desta gazeta viciante, pior que a mais forte cocaina ou maconha
    literária.
    Aguardem, e podem crer que o feto literário está sendo gerado em condiçoes
    de alta criatividade e todos ficarão gratos pelos nove meses de espera e o
    livro será parido à luz radiante em homenagem aos leitores e colaboradores do Jornal da Besta Fubana.
    Abraços, nobres colegas comentaristas.
    d.Matt

    • D.Matt., é o máximo,

      Qualquer comentário meu aos comentários dele seria como se eu estivesse dando um bufete na entrega do oscar, que está uma zona.

      Hollywood virou um cabaré de UFC.

  5. Cumpade Ciço, inclua-me entre aqueles que aguardam, ansiosos, o ROMANCE DE MARIA BAGO MOLE (eu ia dizer já estar ‘DE BAGO DURO’ mas em respeito às damas que frequentam esse Cabaré do Berto, retiro a maldosa insinuação.

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