VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Muitos grupos indígenas vivem isolados, tentando manter a sua autonomia, ou para fugir da morte. Deslocam-se para as áreas mais preservadas, que por vezes são de unidades de Conservação ambiental, ou Terras Indígenas já demarcadas. Os índios tem sido massacrados, desde o “descobrimento” do Brasil, o que, na verdade foi uma invasão, pois a terra descoberta já era por eles habitada.

Tem ocorrido frequentemente, a criação de unidades de Conservação, em áreas de localização de povos isolados, ao invés de demarcá-las como terras indígenas. No Maranhão, os grupos isolados perambulam por terras indígenas já demarcadas. Mesmo assim, estão ameaçados de extinção, devido à permanente invasão e exploração ilegal de madeira nessas terras. Os crimes de genocídio, que são aqueles praticados com a intenção de aniquilar um povo, tem sido, relativamente, frequentes na Amazônia, nas últimas décadas, com a construção de estradas e hidroelétricas.

Pois bem. Décadas atrás, quando os índios eram somente índios, e, com razão, como ainda hoje acontece, temiam a aproximação do “homem branco”, usavam como transporte somente a canoa. Os médicos sanitaristas de todo o Brasil organizavam expedições e se embrenhavam na selva amazônica, para o trabalho assistencial.

Armavam acampamentos, tratavam dos índios doentes, faziam parto, distribuíam remédios e davam orientações.

Os índios viviam nas suas respectivas etnias isoladas, para fugirem da maldade dos saqueadores de suas terras e de suas vidas. Algumas etnias, ainda hoje, vivem isoladas na selva amazônica, sem qualquer contato com os homens brancos, que só lhe querem fazer o mal. Não admitem que eles se aproximem de suas ocas e mostram-se violentos diante de qualquer tentativa de aproximação. Não conhecem o açúcar, o sal, nem o sabão. Sua alimentação se restringe a peixe e farinha de banana verde. Tem a saúde muito frágil.

Os expedicionários chegavam à região dos índios, num pequeno avião. Quando o avião pousava, os índios se escondiam. Morriam de medo daquele “bicho pesado e voador”. Somente o índio Tupinambá se aproximava para ver de perto o avião.

Esse índio destoava dos demais, e gostava de se aproximar do homem branco, para ver de perto o avião. Seu deslumbramento era perceptível. E sempre dizia a quem estava por perto, que “índio querer passear no “bicho voador.”

O médico da expedição, depois de ouvir isso repetidas vezes, resolveu chamar o índio para fazer uma pequena viagem. Dessa forma, satisfazer-lhe-ia o desejo de andar naquele “bicho pesado e voador.”

O Piloto iria fazer um voo de reconhecimento sobre a mata. Tupinambá ficou muito contente com o convite e aceitou na hora. Não saiu de perto do avião, até a hora de realizar seu sonho.

E lá se foram o piloto, o médico e o índio, que ria de felicidade, feito uma criança.

Quando o avião decolou, para fazer medo ao índio, o piloto, por maldade, falou para o médico:

-Olhe, Doutor! Nós estamos sobrevoando o local onde, no ano passado, caiu um avião igual a esse. Não escapou ninguém!!!

Ouvindo isso, o índio entrou em pânico e perguntou:

“Bicho voador poder cair?!!!” O piloto e o médico sorriam, se divertindo com a reação do índio, que gritava e pedia socorro. Queria porque queria sair do avião à força.

Nunca mais Tupinambá chegou perto do avião, nem falou com os expedicionários.

8 pensou em “BICHO VOADOR

  1. Violante,

    Uma excelente crônica denunciando as más condições que vivem os nossos índios.Os povos indígenas estão sendo ameaçados e sofrem todas as formas possíveis de violência e desrespeito a seus direitos fundamentais. São diretamente atingidos pelos incêndios florestais na Amazônia e ainda enfrentam grupos que declararam recentemente que vão “caçá-los”. Tudo isso, para poderem prosseguir com o desmatamento e posse ilegal de seus territórios. A sua habilidade em descrever a situação difícil dos nossos indígenas mescla com uma situação bem-humorada no final do texto. Gostei demais da conta da sua técnica de suavizar um tema árido. Parabéns!

    Saudações fraternas,

    Aristeu

    • Obrigada pelo generoso comentário, prezado Aristeu Bezerra! Na verdade, a população indígena continua na mira dos grandes desmatadores do Amazonas,

      A construção da Transamazônica (1970) representou uma verdadeira tragédia para
      29 grupos indígenas, dentre eles, 11 etnias que viviam completamente isoladas,

      Um abraço! Muita Saúde e Paz!

      Violante

  2. Já foi o tempo em que o índio “queria apito”. Embora se saiba o mal que nos causamos aos índios, hoje alguns deles são donos de garimpo, de avião e tudo mais. A comunicação não se faz mais por sinais de fumaça. É por celular mesmo. Ressalvo que em Roraima, salvo engano, existem etnias isoladas.

  3. Obrigada pelo comentário, prezado Maurício Assuero!

    Apesar da existência de um grande número de etnias, que ainda hoje vivem isoladas, raríssimos grupos se deixaram politizar, e evoluíram culturalmente.

  4. O regalo ante o brilhante e delicioso texto da vossa lavra, Violante Pimentel, é enorme.

    No meu caso, tal leitura me “transportou” a uma badalada foto eternizada na revista O CRUZEIRO, de índios (Xavantes, se não me falha a memória) atirando flechas contra um avião (MUDKÓ = casca de arara), que sobrevoava uma aldeia na região de Xingu.

    A sutileza e a leveza na exposição do tema, conduz, até o mais desatento leitor, a total absorção do seu conteúdo. Parabéns!

  5. Muito grata pelo generoso comentário, prezado Marcos André M. Cavalcanti! Suas palavras gentis me deixaram envaidecida! Diante dos ataques de que tem sido vítimas, os índios tem vivido sempre na defensiva. Daí, essa reação, vendo um avião sobrevoar uma aldeia…Rsrs…

    Um abraço! Muita Saúde e Paz!

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