Sonhei-te assim, ó minha amante, um dia:
– Vi-te no céu; e, enamoradamente,
De beijos, a falange resplendente
Dos serafins, teu corpo inteiro ungia…
Santos e anjos beijavam-te… Eu bem via!
Beijavam todos o teu lábio ardente;
E, beijando-te, o próprio Onipotente,
O próprio Deus nos braços te cingia!
Nisto, o ciúme – fera que eu não domo –
Despertou-me do sonho, repentino…
Vi-te a dormir tão plácida a meu lado…
E beijei-te também, beijei-te… e, ai! como
Achei doce o teu lábio purpurino,
Tantas vezes assim no céu beijado!
Raimundo da Mota de Azevedo Correia, São Luís-MA (1859-1911)