ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Este domingo, até que estava o um dia fresquinho, depois de três dias seguidos de um frio de “esbugaiá os zóios”, com a temperatura chegando a quatro graus Celsius, em pleno meio dia, peguei-se-me assistindo a um programa de auditório, desses que passam em televisão traço de audiência, em que estavam um padre, um pastor, um espírita e um ateu, debatendo a existência, ou não existência de Deus. Apesar de modorrento, com meus cachorros bodejando a todo o momento no quintal, cheguei à uma conclusão de lascar: dentre todos os debatedores, ninguém tinham mais convicção na existência do divino, quanto o ateu.

Mas, como diria Jack, o estripador, vamos por parte. Por que digo que, dentre todos, o ateu era o mais convicto da existência do Pai Eterno, se o próprio epíteto o configura como um não crente na existência de Deus? A – partícula grega negativa, significando “Não”. Theos – substantivo, “Deus”. Portanto, em tradução livre, não existe Deus. Mas, eu sou um cabra meio “deconfiado”, como diz o paraguaio. Não sou de ficar pagando dez reis de mel coado por qualquer lorota que alguém venha despejar nas conchas de minha orelha, como se essa fosse ninho de tuiuiú, onde cabe graveto de qualquer calibre.

E fiqquei-se-me pensando…. Ora, bolas! O nada não precisa de justificativa, ou mesmo argumento para ser nada. Ele o é. É um absoluto total. Quem se lembra do seriado Chaves e de seu desenho, o “Xifurímpulo”? Mas, o que é um xifuíimpulo? Nada! É preciso argumentar sobre isso, fazer ilações para mostrar que um xifurmpulo não existe? Absolutamente e retoricamente não! Um xifuriímpulo reifica a si mesmo. Ele encerra no seu próprio conceito a sua negativa de existência.

Tudo bem, sempre vai aparecer alguém que vai me chamar de pernóstico, cretino, até mesmo burro. Vá lá…. hoje estou com meu pâncreas azedo. Mas trouxe esse assunto à baila para afirmar algo que é, até sacrilégio: ateu é uma categoria filosófica e comportamental que, simplesmente, não existe. O mais empedernido e encardido ateu que alguém possa arrumar aí pelas ruas, sempre estará um degrau acima do mais carola e assumido crente de qualquer religião.

Explico. Para eu negar a existência de algo, devo partir de uma premissa anterior, primária mesmo, mas primária não no sentido de simples ou construída de maneira ingênua. Primária aqui é premissa genética, daquelas fundantes do pensamento humano. Posso até mesmo pegar um teorema comum, como por exemplo, o de Pitágoras. Para eu negá-lo, com argumentos, eu tenho que, primeiro aceitá-lo como um dado factível. E é ai, que o ateu tenta seu pulo de gato.

A ideia de prova funda-se em dois conceitos básicos: a prova por teorema e a prova por axioma. O teorema é tudo aquilo que pode ser demonstrado e provado por meio de uma fórmula, de uma lei física, de uma fórmula algébrica, ou matemática. O axioma é tudo aquilo que pode ser aceitável do ponto de vista lógico e formal. Deus não é passível de teorema, mas sim de axioma, deixando isso bem claro.

E, é nesse ninho de mafagafe que o ateu se embrulha e quer, a partir de sua crença na existência do divino, provar a sua não existência. Ele joga a não existência no campo do teorema, mas se utiliza de axiomas como argumentos. Aí não dá! Esse tipo de ateu precisa estudar a fundo a filosofia do grande mestre Falcão: “ porque homem é homem, menino é menino e viado, viado!”. Não dá para misturar os dois.

Mas, lá vou eu me perdendo da discussão…. dizia que admirou-se-me ver um ateu tão convicto em sua fé e crença na existência do divino, ao mesmo tempo em que fazia de tudo para provar a Sua não existência…. e isso fez-se-me lembrar de um aforismo de Disraeli a respeito das leis britânicas…. “para os bons a lei é desnecessária, para os maus, é inútil”!.

Mas a pergunta que me fazia era…. qual o objetivo daquilo tudo? Havia três crentes na existência do divino que apresentavam dúvidas gritantes e um com uma crença inabalável naquela existência, tentando provar, misturando teorema com axioma, que aquela existência, não existe. Parece uma coisa que vai dar nó na cabeça, mas é assim mesmo.

Se Deus, de fato, não existe, não há necessidade de provar a sua não existência. A própria não existência é prova maior de que Ele não existe. O nada não pode se negar. Só se confirma. Agora, quando alguém precisa de argumentos para provar a existência de algo que ele diz não existir, deve partir de uma premissa básica. Deus existe…. mas, eu tenho que provar que ele não existe, através de argumentos que anulem a premissa inicial…. Deus existe.

Confesso que já vi muitos crentes… crentes que chegam à beira do fanatismo, como muitos xiitas e “xaatos” de algumas denominações que conheço, mas eu nunca tinha visto alguém com uma crença tão arraigada e tão profunda na existência do divino, como o ateu deste último domingo.

Agora já sei…. declaro-me também, tal qual aquele sujeito, e, se alguém, algum dia vier me perguntar se sou ateu, direi com todo destemor…. sou ateu, graças a Deus!

12 pensou em “ATEU, GRAÇAS A DEUS!

  1. O “Xifurímpulo” Sancho, um nome com pompa e circinstância (agora este é meu nome – obrigado Roque Sem Preguiça Nunes) leu atentamente (todo lesado lê atentamente) e acho que entendi tudim, tudim. Uno-me a ti: ateus, graças a Deus!

    Ah, a fé num costuma faiá!!!!!!

    Abração,

    Xifurímpulo Sancho, ex-Sancho Pança

    • Meu caro Maurício….

      Azedume do pâncreas dá nisso… a gente fica perdendo um tempo da porra tentando provar que o nada é vazio em si mesmo.

    • Aliás, eu acho que a convivência com esse povo aqui do JBF está me fazendo criar cacoetes e e manias…vôte…..mas tudo do lado bom…. só faltou aquele copo de whisky com dois cubos de gelo, um bom cojiba e a companhia dos amigos fubânicos em uma tarde de garoa na varanda da casa do Papa Berto, Primeiro e Único.

  2. Ilustre Nunes,

    o astrofísico Neil deGrasse Tyson uma vez explicou o motivo pelo qual era agnóstico ao invés de ateu, e ele deu uma explicação similar a sua anedota:

    “Eu não jogo golf. Há uma palavra para ‘não-jogadores’ de golf? Existem ‘não-jogadores’ de golf se reunindo, bolando estratégias?”

    O ateísmo é um barco furado que eu mesmo abandonei ainda na minha juventude e por isso que, assim como o citado astrofísico, defino-me agnóstico. Sem contar que, graças a isso, é que, ainda que eu não comungue de uma religião, se eu tivesse de escolher alguma, escolheria o Cristianismo católico.

    Tenho apreço pelo Budismo, Taoismo e Confucionismo devido leituras acerca dos três há muitos anos. Contudo, é impossível não reconhecer (exceto se você é um mau-caráter) o colossal papel civilizatório milenar que o Cristianismo realizou no Ocidente e isso me é ainda mais importante que a religiosidade por estar além do foro íntimo. É fato, e somente progressistas se empenham em negar.

    • Nicolai, eu acho que o ateísmo é natural pela forma como se prega as ações de Deus. Tem gente que não acredita em Deus, mas crê em Jesus. Ninguém dúvida da existência de Jesus até porque há uma história nunca desmentida de sua passagem na terra. Deus é algo mais difícil de compreender.

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