J.R. GUZZO

Raramente, até onde a memória recente registra, os meios de comunicação brasileiros viveram um momento de tanta excitação como vivem agora. O combustível desse nervosismo está, basicamente, na reação geral de muitas redações diante do presente clima político do país: decidiram transformar-se no que imaginam ser o centro da “resistência” ao governo, por considerarem que não é possível haver democracia com a presença de Jair Bolsonaro na presidência da República.

Um oportuno e muito bem ponderado artigo do professor Carlos Alberto Di Franco, que acaba de ser publicado no jornal O Estado de S. Paulo, coloca em dúvida a correção profissional desse jornalismo de denúncia automática e permanente – e, além disso, a eficácia do método que está sendo utilizado para combater o governo.

A força do jornalismo, diz ele, “não está na militância ideológica ou partidária, mas no vigor persuasivo da verdade factual e na integridade de sua opinião”. Ou seja: a imprensa tem de ser livre para investigar e denunciar, mas precisa, antes de tudo, respeitar os fatos e a lógica para persuadir alguém de alguma coisa. Se não fizer isso, além de não estar praticando bom jornalismo, não vai convencer ninguém.

“O jornalismo é o único negócio em que a satisfação do cliente (o consumidor da informação) parece interessar muito pouco”, escreve Di Franco. Na verdade, o que o público está vendo no momento é um jornalismo de convicções, de militância e de desejos, e não um jornalismo de fatos – o mais apropriado para satisfazer a necessidade de informações que o leitor espera de um órgão de imprensa.

A consequência inevitável dessa postura é a progressiva transformação da mídia num produto de baixa utilidade. Como nas seitas religiosas dedicadas a pregar para os convertidos, sua matéria prima é a fé. Satisfaz o “público interno”, mas fica nisso. Não é um bom sinal para a sua sobrevivência.

12 pensou em “AS REDAÇÕES DECIDIRAM SER OS “CENTROS DE RESISTÊNCIA” AO GOVERNO

  1. O comentarista exprime, com precisão cirúrgica, o contraponto da essência do jornalismo verdadeiro.
    Como bem salientavam professores de Jornalismo, líderes do movimento que fez surgir, efetivamente, o conceito de Comunicação de Massa (ou Coletiva) como David K. Berlo, Scott C.Cutlip, Wilbur Schramm e outros, bem como o revolucionário jornalista Marshall McLuhan, que a partir da Universidade de Chicago e do Centro InterAmericano de Estudos Superiores de Jornalismo, para a América Latina (CIESPAL), em Lima-Peru, o jornalismo tem sua essência verdadeira na satisfação cliente (consumidor da informação), que deve entregar aos seus clientes (leitores ou audientes) um produto de qualidade, cultor da verdade, pois dessa premissa é que se estabelece o grau de confiança que permite o desenvolvimento do do liame financeiro – a publicidade, que dá sustentação à empresa jornalística.
    Infelizmente, considerável parcela de nossa dita grande imprensa, talvez acostumada a facilidades outras que lhes permitia sobreviver sem atentar para essa máxima, está jogando no lixo a grande obra que pioneiros erigiram, com esforço e dedicação inauditas, a partir do nosso patrono maior – Cipriano Barata e suas Sentinelas,

  2. Vi no comentário do Alexandre Garcia de hoje que a tiragem impressa dos 10 maiores jornais de circulação do país é de 400 mil exemplares ao dia.

    A Folha, que atualmente está com cerca de 90 mil, nos anos 90 tinha esta tiragem diária sozinha. Nos domingos saiam 1 milhão de exemplares. A primeira coisa que eu fazia no domingo era ir até uma banca buscar o meu exemplar da Folha ou do Estadão, dependendo da capa que eles estampavam. A grossura era de mais de 1 polegada (25,4 mm), tinha uns 10 cadernos que eu demorava umas 2 horas para ler.

    Guzzo ainda tentou lacrar há alguns dias (talvez por ser funcionário do Estadão) tentando colocar a culpa no Bolsonaro por toda a desgraça que passa pela mídia impressa. Acho que se arrependeu.

    • E vc continua com essa de empregado do Estadão . Porque não fala que ele empregado da Revista Oeste e da Gazeta do Povo , onde o teor dos textos são os mesmo do Estadão ?
      Ele não deveria ter uma opinião para cada jornal ?

      • Airton, Estadão é Estadão, um dos mais antigos, tradicionais e outrora conservador jornal do país.

        Eu não sei quanto a salário ou honorários, mas o do Estadão deve ser mais alto, por ser a mídia mais relevante destas citadas.

        Já tinha lido o artigo do Carlos Alberto Di Franco, como também já li varios Editoriais do Estadão em que este acusa Bolsonaro de tudo, ao estilo 247 (que dispensa apresentações).

        O que vejo hoje é que para fazer parte deste jornal que remonta a época do império o jornalista tem que fazer parte da linha de pensamento de seu editorial.

        Só para v. ter uma ideia do que este jornal já foi, Euclides da Cunha foi correspondente dele na Guerra dos Canudos e com base neste relato escreveu um dos maiores livros da nossa literatura, Os Sertões.

        Não dá para comparar a história do Estadão com estas demais mídias, por mais respeito que elas mereçam.

        Eu concordo com o que Di Franco escreveu em seu último parágrafo:

        “A força de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária. A credibilidade não combina com a leviandade. Só há uma receita duradoura: ética, profissionalismo e talento. O leitor, cada vez mais crítico e exigente, quer notícia. Quer informação substantiva”.

        A credibilidade que o Estadão demorou mais de um século para conquistar, perde em poucos anos com sua mudança de postura.

        • O custo das liberdades
          Ano de 2020 se foi sem deixar memórias positivas. E 2021 também não parece começar bem
          J.R. Guzzo*, O Estado de S.Paulo

          04 de janeiro de 2021 | 05h00

          Este foi o ano em que, pelo mundo inteiro, as liberdades públicas e os direitos individuais sofreram a mais extensa, dissimulada e perniciosa agressão que os regimes democráticos já tiveram de enfrentar na presente geração. Esse ataque não veio, como de hábito, em consequência de guerras, revoluções ou golpes de Estado em escala global. Veio através de um vírus que se originou na China, espalhou-se pelo planeta e que, ao longo de 2020, contaminou 75 milhões de pessoas e foi apontado como a causa de quase 1.700.000 mortes nos cinco continentes.

          As pessoas, em condições normais, estão sempre mais dispostas a abrir mão de seus direitos do que dos seus interesses; pode ser incômodo ouvir isso, mas é assim que as coisas são na vida real. No caso da covid-19, a maioria abriu rapidamente mão de seus direitos em favor do medo-pânico que os governos e os seus mandarins, as classes acostumadas a tratamento médico de primeira linha e os meios de comunicação em geral promoveram de forma maciça desde o começo da epidemia. Em troca da “vida”, que no imaginário público passou a ser salva pelo “distanciamento social”, pela máscara e pelo “fique em casa”, vale aceitar qualquer ordem vinda de cima – a começar pelas que jogam no lixo os direitos do cidadão.

          O ano que se encerrou deixou claro que estamos vivendo num mundo no qual cada vez mais gente que nunca recebeu um voto na vida, de fiscais de loja a médicos amestrados, de gestores de marketing a ministros dos tribunais superiores de Justiça, tomam um número cada vez maior de decisões básicas para a existência cotidiana das pessoas – decisões que ninguém estaria autorizado a tomar num regime que possa ser minimamente caracterizado como uma democracia. A Constituição brasileira é violada todos os dias, em nome da mais velhaca de todas as altas razões que as ditaduras costumam apresentar para justificar o que fazem – o “interesse comum”.

          A liberdade está virando um artigo barato no Brasil, pelo conjunto da obra de todos os nomeados acima. Um papel especialmente abjeto está sendo desempenhado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – dispostos a trocar ciência por superstição, a agredir a lógica comum e a engolir qualquer afronta à lei para satisfazer os seus medos e as suas pequenas convicções sobre a doença. Não são melhores que os decretos sem pé e sem cabeça de governadores e prefeitos cada vez mais embriagados pela noção de que podem dar qualquer ordem que lhes passe pela cabeça, sem nunca ter de prestar contas (sobretudo à Justiça) pelas misérias que as suas decisões provocam na vida de quem lhes paga os salários.

          O ano de 2020 se foi sem deixar memórias positivas. O ano de 2021 também não parece começar bem. Os avanços científicos podem trazer a vacina e ajudar a deter a progressão do vírus. Mas a passividade com que está sendo aceita a liquidação a preço de custo das liberdades pode acabar custando muito caro para a sociedade brasileira. Se o sujeito passa a vida em busca de alguma ordem para obedecer, com certeza vai logo encontrar alguém interessado em resolver o seu problema.

          PS. vc deve ter lido .

  3. Jornalismo sem adornos
    Carlos Alberto Di Franco
    11-14 minutos

    Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo

    25 de janeiro de 2021 | 03h00

    Jornalismo é a busca do essencial, sem adereços, adjetivos ou adornos. O jornalismo transformador é substantivo. Sua força não está na militância ideológica ou partidária, mas no vigor persuasivo da verdade factual e na integridade da sua opinião. A credibilidade não é fruto de um momento. É o somatório de uma longa e transparente coerência.

    A ferramenta de trabalho dos jornalistas é a curiosidade. A dúvida. A interrogação. Há um ceticismo ético, base da boa reportagem investigativa. É a saudável desconfiança que se alimenta de uma paixão: o desejo dominante de descobrir e contar a verdade.

    Outra coisa, bem diferente, é o jornalismo de suspeita. O profissional suspicaz não admite que possam existir decência, retidão, bondade. Tudo passa por um crivo negativo que se traduz na crescente incapacidade de elogiar o que deu certo. O jornalista não deve ser ingênuo. Mas não precisa ser cínico. Basta ser honrado e independente.

    A fórmula de um bom jornal reclama uma balanceada combinação de convicção e dúvida. A candura, num país marcado pela tradição da impunidade, acaba sendo um desserviço à sociedade. É indispensável o exercício da denúncia fundamentada. Precisamos, independentemente do escárnio e do fôlego das máfias corruptas e corruptoras, perseverar num verdadeiro jornalismo de buldogues. Um dia a coisa vai mudar. E vai mudar graças também ao esforço investigativo dos bons jornalistas.

    Alguns desvios, no entanto, podem comprometer o resultado final do trabalho. A precipitação é um vírus que ameaça a qualidade informativa. Repórteres carentes de informação especializada e de documentação apropriada ficam reféns da fonte. Sobra declaração, mas falta apuração rigorosa. O poder público tem notável capacidade de pautar jornais. Fonte de governo é importante, mas não é a única. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Muitas pautas estão quicando na nossa frente. Muitas histórias interessantes estão para ser contadas. Precisamos fugir do show político e fazer a opção pela informação que realmente conta. Só assim, com didatismo e equilíbrio, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.

    A incompetência foge dos bancos de dados. Troca milhão por bilhão. E, surpreendentemente, nada acontece. O jornalismo é o único negócio em que a satisfação do cliente (o consumidor da informação) parece interessar muito pouco. O jornalismo não fundamentado em documentação é o resultado acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. A chave de uma boa edição, no impresso e no digital, é o planejamento. Quando editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline, quando as entrevistas são feitas só pelo telefone e já não se olha nos olhos do entrevistado, está na hora de repensar todo o processo de edição.

    O culto à frivolidade e a submissão à ditadura dos modismos estão na outra ponta do problema. Vivemos sob o domínio do politicamente correto. E o dogma do politicamente correto não deixa saída: de um lado, só há vilões; de outro, só se captam perfis de mocinhos. E sabemos que não é assim. A vida tem matizes. O verdadeiro jornalismo não busca apenas argumentos que reforcem a bola da vez, mas também, com a mesma vontade, os argumentos opostos. Estamos carentes de informação e faltos da boa dialética. Sente-se o leitor conduzido pela força de nossas idiossincrasias.

    Por outro lado, ao tentar disputar espaço com o mundo do entretenimento, a chamada imprensa séria está entrando num perigoso processo de autofagia. A frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas depois, não duvidemos, termina sofrendo arranhões irreparáveis no seu prestígio, na sua marca.

    Registremos, ademais, os perigos do jornalismo de dossiê. Os riscos de instrumentalização da imprensa são evidentes. Por isso é preciso revalorizar, e muito, as clássicas perguntas que devem ser feitas a qualquer repórter que cumpre pauta investigativa: checou? Tem provas? A quem interessa essa informação? Trata-se de eficiente terapia no combate ao vírus da leviandade informativa.

    Finalmente, precisamos ter transparência no reconhecimento de nossos equívocos. Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios, desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é fácil. Porém admitir a prática de atitudes de prejulgamento, de manipulação informativa ou de leviandade noticiosa exige coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade e, por isso, um dos alicerces da credibilidade.

    A força de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária. A credibilidade não combina com a leviandade. Só há uma receita duradoura: ética, profissionalismo e talento. O leitor, cada vez mais crítico e exigente, quer notícia. Quer informação substantiva.

  4. Supremo dá as ordens
    O STF se transformou num partido, com militantes, facções internas e todo o resto

    J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

    03 de janeiro de 2021 | 03h00

    Talvez pela ruindade sem limites dos políticos brasileiros, talvez por causa da falência geral de órgãos que vai degenerando cada vez mais a vida pública nacional, talvez porque os poderes Legislativo e Executivo raramente foram habitados por gente tão frouxa quanto hoje, tanto nas ideias como na conduta, ou talvez por tudo isso ao mesmo tempo, o fato é o seguinte: os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram que não há mais ninguém no governo da República, e que cabe a eles mandar no Brasil. Comparando uns com os outros, dá provavelmente na mesma. Mas, com certeza, um país está com problemas sérios de funcionamento quando começa a ser governado “por default”, como se diz hoje. Na falta de outra coisa, entra automaticamente em ação um mecanismo que passa a operar o aparelho por sua própria conta, e sem nenhuma consulta ao usuário.

    Supremo dá as ordens
    J. R. Guzzo: ‘O STF se transformou num partido político, com militantes, facções internas e todo o resto’. Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
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    Aberrações legais protegem o crime e facilitam impunidade

    A dificuldade, no caso, é que o STF está operando mal. Como poderia ser diferente? Os onze ministros não apenas governam o Brasil sem serem eleitos, mas sem terem nenhuma das responsabilidades que vêm junto com a tarefa de governar – e, obviamente, com risco zero de responder pelas consequências das decisões que tomam. Não pode dar certo. Na prática, isso significa que eles mandam em tudo mas não se obrigam a pagar por nada – a começar pelo pagamento propriamente dito das despesas que criam ou ajudam a criar. O STF dá ordens, apenas isso, e só dá ordens sobre o que lhe interessa – o Brasil que se vire para cumprir. É onde estamos.

    Não há nenhuma lei que esse novo governo se sinta obrigado a obedecer; quem obedece, em sua visão das coisas, são sempre os outros. Como durante o AI-5, quando o regime deu a si próprio o direito de não submeter à Justiça nenhuma das suas decisões, o STF de hoje não responde a ninguém. Ainda outro dia, e mais uma vez, o ministro Alexandre Moraes prendeu um jornalista no inquérito abertamente ilegal que conduz sem nenhum controle há mais de um ano, como se o STF fosse uma delegacia de polícia da ditadura. O ministro Lewandovski decide o que você tem de fazer, e o que não pode fazer, em todas e quaisquer questões relativas à vacina; deu à sua palavra o status de verdade científica.

    O ministro Fachin proibiu a polícia de sobrevoar com helicópteros as favelas do Rio de Janeiro, e decidiu que a revista íntima às visitas feitas a presidiários é “inconstitucional” – os visitantes estão liberados para levar drogas aos presos, por exemplo, e não podem ser condenados por isso. O ministro Marco Aurélio solta criminosos condenados a 25 anos. O Supremo decide sobre a nomeação do diretor da Polícia Federal, a eleição das mesas do Congresso e as fases da Lua.

    O público é obrigado, além disso tudo, a ouvir lições de filosofia, de moral e de ciência política dos onze ministros – e ouvir o tempo todo. Todos eles estão convencidos de que têm o direito de pensar por você, e escolher o que é melhor para cada cidadão brasileiro – independente da opinião pessoal que o próprio cidadão possa ter. O último palpite sobre o bem comum foi dado pelo ministro Barroso, um dos que mais se encanta com a própria voz. Segundo ele, “o País” precisa do voto obrigatório; não se deve deixar as pessoas livres para exercerem o direito de votar, pois a seu ver isso leva ao “radicalismo”. E por aí vamos.

    Juízes, em qualquer país decente, têm a obrigação de ser imparciais, sobretudo se estão no topo do Poder Judiciário. No Brasil é exatamente o oposto: O STF se transformou num partido político, com militantes, facções internas e todo o resto – um partido que não recebe um único voto. Dá nisso que se vê.

  5. Aberrações legais protegem o crime e facilitam impunidade
    J. R. Guzzo
    3-4 minutos

    J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

    30 de dezembro de 2020 | 15h53

    Um dos maiores projetos do governo do presidente Jair Bolsonaro, exposto em volume máximo durante toda a sua campanha eleitoral, era o combate ao crime – um dos piores inimigos da população brasileira nas últimas décadas, em razão da impunidade dos criminosos, da baixa eficiência do aparelho policial e judiciário e da aberta submissão da lei aos interesses dos escritórios de advocacia penal mais prósperos deste país. Passam dois anos e o que se tem hoje? Uma situação em que o poder público incentiva ainda mais a atividade criminosa no Brasil.

    Não apenas não foi feito o prometido. Inventaram-se, com a cumplicidade objetiva do governo federal, novas aberrações legais para proteger o crime e deixar sem punição os criminosos. Uma das mais perversas foi a criação do “juiz de garantias”, pela qual todo processo penal no Brasil passa a ter dois juízes – isso mesmo, dois juízes diferentes – um para cuidar da papelada e outro para encontrar motivos que possam ser utilizados para soltar bandidos presos em flagrante.

    Com a desculpa de que esse tipo de juiz existe “em outros países”, e como se o Brasil fosse um exemplo mundial em matéria de criminalidade baixa, deputados e advogados espertos enfiaram num “pacote anti-crime” apresentado pelo governo – justo aí – o contrabando desse segundo juiz. O presidente da República poderia vetar o texto de lei, aprovado no final de 2019. Não vetou. Também poderia vetar, e não vetou, outro presentaço para os criminosos e seus advogados: a soltura de réus que estejam presos há mais de 90 dias sem terem “condenação definitiva”. Em nenhum governo anterior o crime conquistou duas vitórias como essas.

    Sabe-se muito bem o uso que já se fez dessa história dos 90 dias: o ministro Marco Aurélio mandou soltar um traficante de drogas milionário que teve como advogado um ex-assessor dele mesmo, Marco Aurélio. O homem estava condenado, em duas sentenças, a 25 anos de cadeia, e obviamente desapareceu assim que saiu do xadrez. Agora, um grupo de advogados que costumam cobrar honorários de milhões entrou com um habeas corpus coletivo contra a liminar do presidente do STF, Luiz Fux, que suspendeu em janeiro último a existência do “juiz de garantias”. É o “pacote pró-crime” do governo de novo em ação.

    É abusivo e ilegal: não cabe a apresentação de habeas corpus contra decisão do presidente do STF. E daí? A ala do tribunal que está o tempo todo ao lado da imunidade quer dar um troco no presidente Fux, que já há tempo se tornou um dos seus desafetos – e vai jogar tudo para recuperar os benefícios que o crime espera obter com o “juiz de garantias”. Fica aberto, tecnicamente, o caminho para que sejam soltos todos os criminosos que não passaram pelo segundo juiz 24 horas depois da sua prisão.

    O “processo civilizatório” do Brasil é isso aí.

  6. Se eu quiser ler as colunas do Guzzo, aqui no JBF tem o link, não é preciso repetir seus textos.

    Creio que o espaço para comentários é para comentar e não fazer copia e cola.

    Não sabe argumentar, aprenda ou s[o leia

    • Argumentar? Com você? Você chama o cara de empregado do Estadão, por textos que discorda do seu pensamento ( você é dos tais que o único cara que pensa é você, e que está aqui pra iluminar os demais), e quando te enfio goela abaixo textos do Guzzo, que vão no sentido contrário ao que pensa o Estadão, e o por isso é articulista mais criticado por assinantes, vem com Argumentar. Pra quem acha que democracia é aquilo que pensa, não há argumento que o faça mudar.

      • Eis o que diz Guzzo em um dos seus textos (e já argumentei quanto a isso quando foi publicado aqui).

        “Em nenhum governo anterior o crime conquistou duas vitórias como essas.” Falava sobre a Lei anticrimes

        E quais eram estas “Vitórias”? a do juiz de garantias e a soltura de um preso provisório. depois de 90 dias sem acusação.

        Quem foi o relator da Lei anticrimes? Freixo, isso mesmo, Maia deu a relatoria a Freixo.

        Bolsonaro poderia vetar estes itens? Sim, como ele fez em relação a outros 17 itens aprovados na câmara.

        Juiz de Garantias não vale até hoje por incluir alta de despesas sem receitas e a soltura após 90 dias só serviu para o MAM soltar o traficante que tinha como advogada uma ex-estagiária sua.

        Guzzo exagerou nessa e seguiu a linha Estadão.

        Argumentos não são para fazer uma pessoa mudar de opinião e sim pensar a respeito e contra argumentar.

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