RODRIGO CONSTANTINO

A coisa que mais chamou a atenção nessa pandemia foi a arrogância com que alguns tentaram monopolizar a fala em nome da ciência. O termo “negacionista”, que remete às religiões, foi usado com frequência por ignorantes que desconhecem o verdadeiro método científico, que clama por questionamentos e dúvidas. Dogmas foram vendidos como fatos, especialistas foram transformados em profetas, e se criou o clubinho da “ciência” contra aqueles que se recusam a enxergar a Verdade.

Escrevi inúmeros textos sobre isso, pois conheço o perigo desse cientificismo, já tão denunciado por liberais como Hayek e Popper. Ciência é coisa séria demais para ficar na mão de militantes políticos disfarçados de jornalistas ou mesmo “cientistas”. Tentaram interditar o debate, calar dissidentes, impedir as perguntas incômodas, e tudo que ofereceram como panaceia fracassou: lockdown, isolamento, máscaras e até vacinas.

Não quero dizer, com isso, que foi tudo completamente ineficaz, mas sim que eram medidas passíveis de questionamentos, que deveriam ser pesadas de acordo com o trade-off de riscos e benefícios, numa visão mais holística da coisa. A turma da “ciência” dispensou esses “detalhes” chatos, dividiu o mundo entre os defensores da cloroquina e os da vacina, e se fechou em sua redoma de fanatismo cego. Com suas “certezas” inseguras, preferiram demonizar quem ousava desafiar as recomendações desses “profetas”. Mas, como fica claro, o tempo é amigo da razão, e cada vez mais gente questiona se essa reação foi mesmo a mais acertada.

O biólogo geneticista Eli Vieira, que respeita a verdadeira ciência, tem feito os questionamentos necessários em várias colunas publicadas na Gazeta do Povo. Ele busca os fatos, os estudos sérios, e não aborda as questões com uma visão preconcebida que precisa ser confirmada, mas sim com a real dúvida de quem quer saber a resposta. Tem faltado essa humildade a muitos jornalistas e até especialistas. Em sua mais recente coluna, ele mostra estudos que colocam em xeque os lockdowns, especialmente diante dessa nova variante, tão mais transmissível e, felizmente, menos agressiva.

Diz um trecho: “A Organização Mundial da Saúde estima que 47 mil pessoas morreram de malária devido a intervenções não-medicamentosas da pandemia que dificultaram acesso a serviços de saúde. Um estudo do Japão concluiu que fechar escolas não teve nenhum efeito sobre o avanço da pandemia. Que há custos nessas intervenções não é algo que surpreende. Resta saber se os benefícios superam os custos”. Eli Vieira conclui: “Como se vê, a literatura especializada sobre os lockdowns continua em debate acalorado, sem perspectiva de um consenso tão cedo. Quanto à variante ômicron como um motivador para novos lockdowns, o questionamento é natural quando ela se mostra menos agressiva que a variante delta, representando uma redução de 45% no risco de hospitalização”.

A Gazeta do Povo é o único jornal grande do país que tem dado espaço e voz para aqueles que querem realmente saber o que funciona e o que não funciona nessa pandemia. Outros veículos de comunicação preferem adotar a postura arrogante cientificista, selecionando a dedo apenas aqueles especialistas que confirmam a visão já escolhida como “verdade absoluta”. O mais irônico é que são esses jornais que também dão destaque a charlatanismo como as previsões de videntes ou astrólogos:

Diz um trecho da “reportagem”: “Baba Vanga prevê ainda uma invasão alienígena em 2022. Segundo a vidente, um asteroide enviado por extraterrestres em 2017 vai atacar o planeta Terra no próximo ano”. Devemos prender o riso? Ou levar a sério tanta baboseira? A Folha de SP não quis ficar atrás:

Eis a “ciência” da turma: Candidato que está à frente com folga nas principais pesquisas eleitorais à Presidência do Brasil, Lula é um escorpiano que, segundo a terapeuta holística Lígia Schincariol, tende a ser líder por toda a sua trajetória. “Ele tem o desafio de exercer o poder a vida toda”, afirma ela. Ela complementa que o petista estará vibrando uma energia de harmonia até 27 de outubro de 2022, quando faz aniversário e um novo ciclo se inicia. “A partir desta data, ele entrará em um ano de introspecção”.

É essa velha imprensa que quer falar com exclusividade em nome da ciência? Pense duas vezes quando ler uma “reportagem” em certos veículos demonizando um remédio para tratamento imediato do Covid ou pregando o lockdown como salvação para a pandemia. O que mais tem por aí é gente sem qualquer compromisso com a ciência tentando ser seu único porta-voz…

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