JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Rita Lobato Velho Lopes nasceu em Rio Grande, RS, em 9/6/1866. Médica, política e uma das pioneiras do movimento feminista brasileiro. Considerada a primeira mulher médica formada no Brasil e a segunda a obter êxito acadêmico na América do Sul. Aos 17 anos, vendo a morte da mãe no parto do 14º filho, firmou a promessa de se tornar médica obstetra, enfrentando os obstáculos da época em tal empreitada.

Filha de Rita Carolina Velho Lopes e Francisco Lobato Lopes, rico estancieiro e comerciante de charque gaúcho, viveu e teve os primeiros estudos em diversas estâncias perto de Pelotas. Perseguindo o sonho de se tornar médica, a familia mudou-se para o Rio de Janeiro em 1884, onde ela e o irmão entraram na Faculdade de Medicina. No 1º ano do curso, seu irmão teve problemas com a Reitoria, devido a discordâncias sobre a Reforma Felipe Franco de Sá, que alterava o regulamento da escola e outras medidas que alguns alunos julgaram prejudiciais. Afim de evitar retaliações contra os filhos, a família mudou-se para Salvador, onde ela e o irmão ingressaram no 2º ano do curso de medicina, em 1885.

O entrosamento com os professores e seu empenho nos estudos possibilitou que requeresse adiantamento dos exames e fosse aprovada, conforme a norma da faculdade. Estudando incessantemente, conseguiu matrícula no 3º ano do curso em março de 1886. Um novo pedido de adiantamento, permitiu-lhe ingressar no 4º ano do curso, em julho do mesmo ano. Em outubro a aluna prodígio fez mais um pedido de adiantamento e realizou as provas que a levaram ao 5º ano. Fez uma pausa, passou 5 meses viajando pelo interior da Bahia e retornou ao curso, que foi concluído em menos de 3 meses, em outrubro de 1887, aos 21 anos. Um fenômeno em termos de capacidade realçado pelo fato de ser mulher. O curso de medicina, com duração de 6 anos foi realizado em 3 anos.

Com boas notas em todas as disciplinas, apresentou o trabalho de conclusão do curso, num auditório lotado, e foi aprovada em novembro de 1987 com a tese “Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana”. No mês seguinte, na cerimônia de formatura, conquistou o título de 1ª mulher médica do Brasil. Na época subverteu o sistema dominante onde o pudor imperava em detrimento da saúde e quando começou a atender, muitas mulheres que se recusavam a ser examinadas por médicos passaram a frequentar seu consultório instalado em Porto Alegre. Em 1889 casou-se com Antonio Maria Amaro de Freitas, um namorado da adolescência, que ficou esperando a conclusão do curso. A partir daí passou a atender a clientela em sua própria casa.

Com o nascimento da primeira e única filha, o casal passou a viver na Estância de Capivari e no ano seguinte realizaram uma viagem pela Europa. Tempos depois, em 1910, e com a família consolidada, passou 5 meses fazendo cursos em Buenos Aires, atualizando-se em novas descobertas na área médica e fazendo estágios em hospitais. De volta ao Brasil, passou a atender a clientela na região de Capivari, Rio Pardo e arredores. Em 1925, logo após o casamento da filha, decidiu encerrar a carreira médica, apossentando-se aos 59 anos. No ano seguinte, dá-se o falecimento de marido. Após o período de luto, vivendo sozinha, abraçou a causa da descriminação da mulher e passou a defender seu direito ao voto, uma luta que vinha sendo travada pela bióloga Bertha Lutz.

Nesta nova fase, participou do incipiente movimento feminista, com artigos na imprensa e organização politica. Assim, testemunhou algumas vitórias, como a conquista do “Código Eleitoral de 1932”, que permitiu o voto feminino e a eleição da médica Carlota Pereira de Queiroz como Deputada Federal. Como militante da causa feminista, filiou-se ao Partido Libertador e foi eleita vereadora de Rio Pardo em 1934. Assim, a 1ª médica formada no Brasil tornou-se também a 1ª vereadora gaúcha. Com o golpe getulista de 1937 e a ascensão do Estado Novo, seu mandato foi interrmpido. Porém, não deixou de participar da politica, mesmo após o acidente vascular cerebral, que sofreu aos 73 anos, em 1940.

Nos últimos anos de vida, perdeu parcialmente a visão e audição, mas manteve-se lúcida e ativa até 6/1/1954, quando veio a falecer aos 93 anos. Além de alguns logradouros de Porto Alegre, que receberam seu nome, foi homenageada com um selo postal dos Correios, em 9/6/1967, no dia do 1º centenário. O selo postal é um importante documento; é um registro “oficial”; uma boa homenagem, mas falta uma biografia mais detalhada de sua trajetória. Navegando pela Internet, encontrei apenas alguns verbetes que serviram para a costura desta biografia concisa.

10 pensou em “AS BRASILEIRAS: Rita Lobato

  1. E assim, caro Prof. Brito, você vai ampliando a magnífica história dos povos brasileiros, alguns tão esquecidos… mas agora chegando aos palcos de nossas vidas.

    Mais um aplauso fervoroso por sua atuação como historiador.

    Carlos Eduardo

  2. Caro Brito,

    A vida é interessantíssima!

    Quantas pessoas não aprenderam na dor de ver um ente queridíssimo sofrer e ficar impotente ante o caso e não poder fazer nada.

    Certamente, foi o caso da doutora Rita Lobato Velho Lopes, com 17 anos, ao ver a mãe agonizando no parto e ter ficado impotente.

    A história registra milhares de casos de médicos que se tornaram famosos (no sentido contributivo da palavra), e salvaram muitas vidas, presentes e futuras, por terem vivido a dor de ter perdido um ente querido.

    Parabéns, meu caro memorialista, por nos ter trazido a história da gaúcha que serve de referência para o mundo

  3. Muito bom! Parabéns por mais uma personalidade brasileira resgatada do esquecimento. Um país que não preserva sua história, cai no esquecimento, e desaparece…
    Grande abraço

  4. Façamos uma retificação no texto. Ao final eu disse que faltava uma biografia de Rita Lobato
    Encontrei agora há pouco uma biografia dela publicada em 1954.
    “A primeira médica do Brasil”, de Alberto Silva. Edições Pongetti.

    Quer dizer, temos e não temos, pois esta citada é um livro raro, que pode se encontrado em algum sebo antiquário de São Paulo, Rio sou Salvador. E prepare o bolso

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