JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Dionísia Gonçalves Pinto adotou um pseudônimo bem nacionalista: Nísia Floresta Brasileira Augusta. Nasceu em 12/10/1810, numa cidade (Papari, RN), que hoje leva seu nome, na área metropolitana de Natal. Educadora, jornalista, escritora, tradutora e poeta, foi pioneira nas áreas da educação, jornalísmo e política. Junto a estas atividades, foi também uma destacada precursora do feminismo no Brasil.

Filha do advogado português Dionísio Gonçalves Pinto, e da brasileira Antônia Clara Freire, tradicional família de fazendeiros, teve a infância e adolescência marcada por um período conturbado na História do Brasil, que teve forte influência na sua formação. Devido as insurreições que assolavam o Nordeste na época, seu pai sofria perseguições antilusitanas ao mesmo tempo em que não era bem visto pela elite local, devido as causas assumidas, que iam contra os interesses dos latifundiários. Assim, teve que se mudar para Pernambuco, vivendo em Goiana, Recife e Olinda, centros irradiadores dos movimentos liberais que surgian na Europa.

A Revolução Pernambucana de 1817 levou a familia a se mudar para Goiana, onde iniciou os primeiros estudos no Convento das Carmelitas. Na biblioteca do convento, teve contato com a cultura europeia, incentivada pelo pai. Não obstante esta condição, a família seguiu a tradição da época, obrigando-a a se casar com o fazerndeiro Manuel Alexandre Seabra. Mas ela rompeu o casamento poucos meses depois e retornou à casa dos pais. Foi sua primeira atitude considerada transgressora para a época. Pouco depois a família mudou-se para Olinda, onde seu pai atuou numa causa contra os poderosos Cavalcanti. Devido a esta peleja jurídica, ele foi assassinado em 1828, numa emboscada no Recife. No mesmo ano passou a namorar com Manuel Augusto de Faria Rocha, futuro marido, acadêmico da Faculdade de Direito do Recife, com quem teve sua primeira filha, em 1830.

Em 1831 publicou alguns artigos no jornal “Espelho das Brasileiras”, do Recife- sobre a condição feminina. Foi a primeira mulher a escrever em jornal, justamente sobre o estado de inferioridade em que as mulheres se encontravam e que ela sofreu na própria pele. No ano seguinte publicou seu primeiro livro: Direito das mulheres e injustiça dos homens, assinado já com o pomposo pseudônimo. Floresta era o nome da fazenda onde nasceu; Brasileira pelo orgulho de seu país e Augusta em homenagem ao segundo marido. O livro surgiu a partir da tradução livre da obra Vindication of the right of women, de Mary Wollstonecraft, publicado em 1791. Não se trata de uma simples tradução linguística, ela adaptou o texto para as condições culturais da época. Em seguida incrementou sua colaboração em jornais do Recife, através de contos, poesias e ensaios, que posteriormente foram publicados em revistas do Rio de Janeiro.

Em 1833, mudou-se para Porto Algre, onde nasceu o filho Augusto e ela passa a lecionar para moças. Pouco depois, o marido morreu e deixou-a viúva aos 23 anos com dois filhos pequenos. Permaneceu na cidade dirigindo um colégio até 1937, quando foi morar no Rio de Janeiro. Em 1838 abriu uma escola para moças, no qual aplicou uma pedagogia revolucionária. Não havia espaço para as meninas nas escolas, e o Colégio Augusto logo viu aparecer críticas dos concorrentes na imprensa: “Trabalhos de língua não faltaram; os de agulha ficaram no escuro. Os maridos precisam de mulher que trabalhe mais e fale menos”, noticiava o jornal “O Mercantil”. O Colégio permanceu por 17 anos. Na época, o Rio vivia uma febre de novas escolas, quase todas dirigidas por estrangeiros, que, segundo ela, eram despreparados para exercer a função de professores na colônia.

Tinha convicção que a ausência de uma educação formal feminina era a maior causa da discriminação da mulher. Outra de suas convicções era dirigida ao governo: “Quanto mais ignorante o povo tanto mais fácil é a um governo absoluto exercer sobre ele o seu ilimitado poder” O segundo livro foi publicado em 1842 – Conselhos à minha filha -, como presente de aniversário à filha, ao completar 12 anos. Seis anos depois, passou a escrever mais sobre edudação, sem abandonar causa da igualdade entre os gêneros. Surgem novas publicações: Daciz ou A jovem completa (1847); A lágrima de um caeté (1849); Itineraire d´um voyage em Allemagne (1857), Scientille d`uma anima brasiliana (1859), Trois années em Italie (1861) e Abismos sobre flores (1864). Em 1851, o jornal carioca “O Liberal” publicou uma série de artigos sobre a importância da educação voltada às mulheres. Antes disso, sofreu um grave acidente à cavalo e teve que deixar a direção do Colégio, em 1849. Por recomendação médica, mudou-se para Paris, junto com a filha para tratamento.

Nesse periodo fez o curso de História Geral da Humanidade, no Palais Cardinal, tendo Auguste Comte como professor. Conviveu com grandes personalidades, como Almeida Garret, Alexandre Herculano, Alexandre Dumas (pai), Victor Hugo etc. Em 1852 retornou ao Brasil e se dedicou a produção de artigos para jornais, que deu origem ao livreto – Opúsculo humanitário -, uma seleção de artigos sobre a emancipação feminina, que mereceu elogios de seu professor, o pai do positivismo. Em 1856 partiu de novo para a Europa, onde permaneceu até 1872. Viajou por diversos paises e publicou alguns relatos de viagem na França em 1857, 1864 e 1872, traduzidos para o português e publicados no Brasil somente em 1982 e 1998. Esteve no Braisil entre 1872-75, mas logo retornu à Eruropa, indo morar em Londres, Lisboa e Paris. Aí publicou seu último trabalho, em 1878: Fragments d’un ouvrage inédit: notes biographiques. Já idosa, doente e com penumonia, faleceu em 24/4/1886 e foi sepultada na cidade de Bonsecours, onde vivia.

As homenagens vieram (antes tarde do que nunca) em 1948, quando o municipio de Papari passou a se chamar Nísia Floresta. Seis anos depois seus despojos foram transladados para o Brasil e sepultados num túmulo na Fazenda Floresta, onde nasceu. Os Correios prestaram-lhe uma homenagem com o lançamento de um selo postal, em 1954. Em 2012, foi inaugurado o Museu Nísia Floresta, no centro da cidade, afim de reunir e expor objetos e documentos vinculados à sua história. Uma alentada biografia foi publicada em 1995 pela Editora Universitária da UFRN, escrita por Constância Lima Duarte: Nísia Floresta: vida e obra entre tantos outros textos biográficos. No entanto, ela permanece desconhecida nos livros de história, conforme se vê no título de um artigo publicdo na revista Forum, de maio de 2015: Nísia Floresta, a feminista brasileira que você não encontrará nos livros de história.

Um comentário em “AS BRASILEIRAS: Nísia Floresta

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