JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Magdalena Maria Yvonne Tagliaferro nasceu em Petrópolis, RJ, em 19/1/1893. Pianista franco-brasileira, foi uma referência mundial na arte de tocar piano. Criou uma concepção de sonoridade feminina no teclado, sem esquecer a missão pedagógica. Dizia que “não há gênio no mundo que resista à falta de estudo”.

Filha Louise Hergenröder e Joseph Paul Tagliaferro Tagliaferro, músico e professor de canto e piano, teve sua primeira apresentação pública aos 9 anos. Aos 12 realizou uma turnê pelo Brasil e no ano seguinte foi para França estudar no Conservatório de Música de Paris, dirigido por Grabriel Fauré. Lá conviveu com Ravel e Polenc e teve como mestres Raoul Pugno e Alfred Cortot, sobre o qual ela declarou: “Ele abriu minha imaginação musical de um modo extraordinário”. Conta-se que ele, casado, apaixonou-se pela aluna.

Era uma menina prodígio e conquistou seu primeiro prêmio – medalha de ouro – aos 14 anos (1907). O primeiro disco foi gravado em 1928 e no mesmo ano recebeu a comenda “Legião de Honra da França”. Por esta época apresentava-se regularmente nos palcos da Europa, EUA e Brasil. Em 1937 foi nomeada catedrática do Conservatório onde estudara e desenvolveu uma nova técnica de ensino. Criou o que se chama hoje de “Aula Pública”, visando a educação dos alunos e a formação do público simultaneamente.

A partir daí desenvolveu uma expressiva carreira internacional, apresentando-se com importantes orquestras: Filarmônica de Viena, Concertgebouw de Amsterdam, Filarmônica de Berlim, Orquestra da Suiça Romanda etc. Atuou com os principais maestros: Wilhelm Furtwan, Pierre Pierné, Ernest Ansermet, Charles Munch, Leopold Stokowski, Lorin Maazel, Pierre Monteux e os brasileiros Heitor Villa-Lobos, Eleazar de Carvalho e João de Souza. Durante a II Guerra Mundial deu-se o fechamento do Conservatório de Paris e ela retornou ao Brasil com suas aulas e concertos. Foi convidada pelo Ministro da Educação Gustavo Capanema, em 1942, a ministrar seu curso anual de interpretação artística, com aulas em São Paulo, Porto Alegre, Salvador e outras cidades.

Em 1949 voltou a viver em Paris e pouco depois foi condecorada com o título de Commandeur da Legião de Honra da França. Numa temporada no Brasil, criou em São Paulo a Fundação Magdalena Tagliaferro, promovendo cursos e concursos com bolsas de estudos para novos artistas. Pouco depois, com o incentivo de Alfred Cortot, levou o curso para a França. Sua pedagogia foi dissecada no livro – A arte pianística de Magda Tagliaferro – publicado em inglês, japonês e português por sua ex-aluna Asako Tamura, em 1997. No Brasil, abriu o 1º Festival de Inverno de Campos de Jordão, em 1970, e 2 anos depois foi condecorada com a comenda “Ordem do Rio Branco”. Em seguida foi agraciada pelo Governo de São Paulo com a “Ordem do Ipiranga”, no grau Grande Oficial, em 1976.

Em 1979, após seu segundo concerto no Carnegie Hall, em Nova Iorque, escreveu sua autobiografia Quase tudo… Memórias de Magdalena Tagliaferro, publicada pela Ed. Nova Fronteira. Foi jurada dos principais concursos internacionais de piano: Concurso Chopin, em Varsóvia; Concurso Tchaikovsky, na União Soviética; Concurso Rainha Elizabeth, na Bélgica; e o Concurso da Academia de Verão do Mozarteum, em Salzburgo. Segundo Fábio Caramuru, solista da OSESP e seu aluno, ela dizia que “o brasileiro é o povo mais musical que existe no mundo, é uma musicalidade natural que dá de dez a zero na do europeu”.

Os especialistas eram unânimes em afirmar que ela “além de trazer as técnicas interpretativas do impressionismo francês, ao mesmo tempo, a pianista transmitia ao povo brasileiro um estilo mais leve e humanizado de ensinar piano”. Em 1981, gravou um disco com seu aluno Daniel Varsano (1953-1988), interpretando obras de Fauré para duo de pianos, álbum que recebeu o Grand Prix de l’Académie du Disque Français.

Sua última homenagem se deu em 1985, com a outorga da comenda “Ordem Nacional do Mérito” pelo presidente José Sarney no palco onde fez sua última apresentação. Manteve uma intensa atividade pedagógica e artística até o final da vida em 9/9/1986, aos 93 anos. Um bom apanhado de sua longa vida pode ser apreciado na pesquisa realizada pelo maestro Édson Leite, patrocinada pela FAPESP, para sua tese de doutoramento na ECA/USP, em 1999, que resultou no livro Magdalena Tagliaferro: testemunha do seu tempo, publicado pela Ed. Annablume em 2001.

9 pensou em “AS BRASILEIRAS: Magda Tagliaferro

  1. O brasileiro há 100 anos atrás era mais culto que hoje.

    Na época atual brasileiro que representa a arte clássica mundo afora?

    Se existir alguém, não tem reconhecimento interno.

  2. Lembro uma conversa. Estávamos na casa do Chico Caruso e alguém disse que estava no Municipal, aos 90 anos da primeira dama do piano brasileiro. E que Brizola, na frisa, estava triste. Foi quando Millor entro na roda e disse

    – É porque ele não era Magdalena Tagliaferro.’

    Parabéns, Mestre José Domingos.

  3. Congratulações Brito.
    Mais um belo resgate daquilo que um dia foi a alta cultura brasileira.
    Abraços,
    Airton

    • Miriam
      Eu sabia que a Magda agradaria a aristocracia de Perdizes. No entanto você não viu o vídeo inteiro. São 10 minutos onde ela toca mais de um vêz e seu relato se dá acompanhado pelo piano ao fundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *