Luciana Maria de Abreu nasceu em 11/7/1847, em Porto Alegre, RS. Professora, escritora, poeta e pioneira na luta pela emancipação da mulher. Abandonada na “Roda dos expostos” logo após o nascimento, foi adotada por uma família que lhe proporcionou educação e formação como professora e tornou-se a primeira mulher brasileira a ingressar numa sociedade literária e primeira a ocupar a tribuna para discursar sobre a condição feminina.
Foi adotada pela esposa de Gaspar Pereira Viana, um guarda-livros da casa comercial Porto & Irmãos. Apesar de modesta, a família cuidou bem da educação da criança, que demostrava certa vivacidade e facilidade no estudos e um gosto especial no trato com outras crianças. Logo cedo verificou-se o caráter de líder e dedicação aos estudos, particularmente nas letras, rabiscando historietas após os primeiros anos de escola. Conta-se até de um “romance” iniciado na época. Além dos cuidados da família, a menina teve como madrinha Clara Soares de Paiva, esposa do comendador Israel Soares de Paiva, rico comerciante e incentivador das artes. Promovia saraus literários em sua casa, onde a menina era a atração recitando textos escolhidos pela madrinha, que lhe abastecia de livros.
Aos 10 anos tornou-se uma leitora compulsiva de tudo que lhe caía nas mãos. Os pais, vizinhos e professores mantiveram o hábito de leitura da criança com livros, sem abrir mão de seu desempenho nas prendas domésticas, desde a costura, arrumação da casa e cozinha. Aos 20 anos foi pedida em casamento e em 1867 casou-se com João José Gomes de Abreu, com quem teve 2 filhos: Maria Pia e Teófilo. Em seguida surgiu o desejo de se tornar professora, tendo e vista não apenas seu gosto em lidar com crianças, mas também para ajudar no orçamento familiar.
Em 1869 entrou para a Escola Normal de Porto Alegre, criada naquele ano, e pouco depois conseguiu entrar no magistério da província. Por essa época ficou conhecida no meio cultural e saraus literários com sua desenvoltura nos poemas e textos que escrevia. No ano anterior foi criado o “Partenon Literário” da cidade pelo Dr. José Antônio do Vale Caldre e um grupo de intelectuais, entre os quais Apolinário José Gomes Porto alegre e José Bernardino dos Santos, poeta, romancista e dramaturgo. Ela foi convidada a participar da agremiação e tornou-se uma oradora talentosa. De seus discursos poucos se salvaram, pois muitos deles eram de improviso e apenas 3 foram publicados na Revista Trimestral da Sociedade Partenon Literário.
O primeiro, publicado em 1875, tratou exclusivamente da emancipação da mulher; o segundo discurso foi sobre a educação das mães de família, reiterando a necessidade e responsabilidade na educação dos filhos: “Minhas senhoras, nós temos sido vítimas dos prejuízos das preocupações do século, nós temos sido olhadas como seres à parte na grande obra de regeneração social, quando, sem nós, impossível seria à humanidade aperfeiçoar-se e progredir. […] Nós temos sido caluniadas, dizendo-se que somos incapazes dos grandes acontecimentos, que somos de inteligência fraca, de perspicácia mesquinha, e que não devemos passar de seres caseiros, de meros instrumentos do prazer e das conveniências do homem, quando o nosso ensino tem preparado os mais perfeitos heróis da humanidade; e quando, à testa das nações, quer na cadeira, quer na oficina modesta do operário, temos dado exemplos de assombrar os povos e os séculos!”
O terceiro foi um discurso como oradora oficial por ocasião do 11º aniversário do Partenon, em 1879. Seu discurso foi um apelo às mulheres conclamando sua participação: “E vós, senhoras brasileiras, que reunis à beleza plástica uma vasta inteligência e um terno coração, não quereis que pulse ele ao amor das letras e da glória nacional?. Ontem, proscritas da ciência e consideradas apenas meros ornatos dos salões, deu-vos o Parthenon um lugar de honra no banquete do progresso. Hoje, que a voz autorizada de Andrada se elevou no parlamento nacional em prol de vossos foros, estreai no Parthenon o uso de vossos direitos”.
Junto a causa feminina, engajou-se também na abolição da escravatura, na defesa da república e do voto da mulher, em sintonia com os acontecimentos na Inglaterra. No ano seguinte deu-se uma grande epidemia de tuberculose em Porto Alegre, vitimando a jovem professora aos 32 anos de idade, em 13/6/1880. Seus poemas foram recolhidos por Dante de Laytano e publicados em 1949 sob o título de Preleções. Além dos discursos, esta é a única obra que restou certificando seu talento literário. Em 2012 o escritor Benedito Saldanha lançou o livro Luciana de Abreu abordando sua trajetória de vida numa trilogia sobre o Partenon Literário, publicado pela Edijuc. Seu nome ficou registrado na cadeira nº 38 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul; numa rua do bairro Moinhos de Vento e numa escola publica no bairro de Santana, em Porto Alegre.
José Domingos merece uma medalha. Urgente. por tudo que faz. Parabéns, amigo.
Beleza, Padre José Paulo
Pela medalha que me estimula