MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

Gaspar, Santa Catarina

No final dos anos 90 vi-me um belo dia na região de Blumenau, Santa Catarina, para onde minhas obrigações profissionais me levaram. Terminada minha missão rumei para Navegantes (Itajaí), onde tomaria o avião de volta para São Paulo. Como tinha mais de 4 horas de folga, parei em um pequeno restaurante em Gaspar, uma simpática cidadezinha no meio do caminho, para despedir-me em grande estilo da deliciosa comida alemã.

Na mesa atrás de mim quatro adolescentes americanas típicas, livres, leves e soltas, todas galeguinhas (ou polaquinhas, no dizer sulista) de nariz arrebitado, que se atropelavam umas às outras na descrição de suas incursões à rapaziada catarinense. Não se incomodavam em falar alto, como sói acontecer a todos os adolescentes em um país estrangeiro e que acham que ninguém ali conhece seu idioma.

Eram participantes de um desses programas de intercâmbio cultural entre Brasil e Estados Unidos, e o papo da ocasião se relacionava com os namorados que duas delas haviam arranjado. Nada que indicasse ter havido também intercâmbio de material genético, mas sim que rolaram alguns lances apimentados.

Uma delas:

– Queria que vocês vissem o Roberto dançando comigo. Nossa, ele… qui qui qui qui qui, disse uma.

E a outra:

– Ah, e eu nem te conto sobre o Alfredo. Ontem à noite no barzinho ele me… qui qui qui qui qui, retorquiu a outra, toda lampeira.

E assim seguiam com suas alegres e despreocupadas observações pessoais a respeito dos rapazolas.

Bem, não era da minha conta o que havia acontecido com as galeguinhas. Chegou meu delicioso einsbein e fui cuidar dele.

Logo depois uma delas virou-se para mim e perguntou em um português carregado de sotaque que horas eram.

Respondi em inglês:

It’s 1:20 PM.

Thanks, respondeu instintivamente a moçoila.

Imediatamente engoliu em seco se tocou que, se eu respondi em inglês, certamente havia ouvido e compreendido as conversas indiscretas que elas haviam tido. O sangue se lhes subiu às faces instantaneamente.

Pois eu garanto a vossuncê que em não mais que dois segundos as quatro se evaporaram do local. Quando eu olhei para trás só vi os restos dos sorvetes que ficaram nas taças, uma das quais ainda intacta.

6 pensou em “AS ADOLESCENTES GRINGAS

  1. Essa foi pra chorar de rir….. já aconteceu isso comigo também, mas não foi em restaurante, mas na rodoviária….e por outro motivo… a gringalhada falando em francês, esculhambando o Brasil e me perguntaram, em um português enviesado onde era o banheiro, e eu indiquei a eles, mas em francês…. a cara deles foi se desmanchando igual a um queijo rocquefort no fogo.

    • Pois é, Roque, também eu próprio já passei por esse perrengue. Em minha primeira viagem aos Estados Unidos em 1973 fui com uns amigos assistir a um jogo de hoquei no gelo. Andei falando uns palavrões quando um casal na minha frente se levantou, olhou feio para mim e comentou: “não é à toa que nós, brasileiros, somos mal vistos no mundo”. Enfiei a viola no saco e fiquei quieto o resto da partida.
      Um abraço e bom final de semana.

  2. A minha foi em Nova York.

    Fui a um prédio perto do antigo World Trade Center a fim de consertar um Laptop Sony. A assistência técnica era lá e o preço da peça era metade do preço aqui no Brasil.
    Resolvi a bronca e decidi fazer um lanche pois estava com fome.
    Havia uma grande lanchonete bem em frente ao WTC, cheio de belas jovens atendendo.
    Quando me dirigi ao caixa, a menina que estava atendendo lá estava falando com a colega que viesse correndo lhe substituir, pois estava com muita necessidade de urinar. Falou em português e, junto com essa observação, fez mais algumas observações bem jocosas a respeito do estado em que se encontrava a sua “preciosa”, depois da noite anterior de farra com o namorado.
    Recebi o troco das suas mãos e, ao final, agradeci dizendo: “Muito Obrigado!”
    Juro que saiu sem querer. Puro hábito.
    Imaginem as gargalhadas entre as inúmeras garçonetes, todas brasileiras.
    Virei as costas e saí quase correndo, sem olhar para trás.

  3. Outra vez, eu estava tomando banho na piscina em um famoso clube de Recife.
    Minha companheira havia se afastado e, junto a mim, havia um grupo de três rapazes de meia idade e um mais jovem. Todos, apesar de bastante discretos, eram assumidamente gays. Entre si, eles conversavam em alemão. Comigo, falavam todos em português.
    Ficamos conversando e eles me disseram que todos, menos o mais jovem, moravam na Holanda. Estavam aqui no Brasil em viagem de férias e tentando fazer um deles espairecer um pouco, pois havia recentemente perdido seu companheiro de longa data.
    O companheiro que havia morrido, segundo me disseram, era extremamente rico. Possuía um haras onde pessoas também ricas deixavam os seus belos cavalos aos seus cuidados. Tudo por um preço caríssimo, é claro. Deixou toda sua fortuna de herança para o companheiro brasileiro, o que encolerizou profundamente toda a família dele.
    Eis que o mais novo, falando em alemão, começou a sacanear com o “Novo Rico” dizendo que o veneno que ele havia dado ao companheiro tinha sido um santo remédio. ahahah
    O outros três fizeram cara de horror. O “viúvo” ficou arrasado e as lágrimas começaram a descer dos seus olhos sem ele dar uma palavra. Parece que ele realmente era extremamente afeiçoado ao companheiro que havia falecido.
    Para disfarçar a tremenda besteira, a bichinha desastrada virou para mim e começou a puxar outros assuntos.
    Eu só disse: “Du sprichst nur Scheiße!” (Voçê só fala merda!)
    A gargalhada que se seguiu foi suficiente para desanuviar o clima tremendamente pesado que havia se instalado. Foi quando minha companheira retornou.

  4. Bem dizia meu velho pai: em país estrangeiro, boca fechada primeiro.
    Adonis, obrigado pelos seus comentários. Estamos todos no mesmo barco.
    Um grande abraço, um final de semana alegre como seus comentários.

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