Era o primeiro dia de aula de um Curso de Direito. A alegria tomava conta da sala, onde os alunos já se sentiam futuros bacharéis.
Emocionados, respeitosamente, receberam de pé o elegante professor de Introdução ao Estudo do Direito, que os cumprimentou e mandou que todos se sentassem. Após observar demoradamente e com seriedade todos os alunos, o professor fixou o olhar num rapaz franzino, tímido e de óculos, que estava sentado na primeira fila, e em voz alta, perguntou-lhe o nome.
O rapaz respondeu:
– Meu nome é Francisco, professor.
Com voz estridente, o professor ordenou:
– Retire-se da sala de aula, e não volte mais, Francisco!
A turma mergulhou em silêncio sepulcral.
O aluno ficou perplexo, diante de tamanha brutalidade. Tinha certeza de que não fizera nada que justificasse sua expulsão da sala de aula. Apenas, respondera qual era o seu nome, conforme lhe fora perguntado. Humilhado, imediatamente, Francisco levantou-se, pegou sua pasta onde tinha lápis e papel, e se retirou.
A turma ficou assustada e indignada, diante da incabível grosseria do professor. Ninguém entendeu a razão da sua ira contra Francisco, que, da mesma forma dos outros alunos, apenas aguardava, atento, o início daquela que seria a primeira aula do Curso de Direito.
Todos perderam a voz. O silêncio continuou, até que o professor tossiu e começou a falar:
– Dando início à primeira aula do Curso de Direito, pergunto a vocês?
– Para que servem as leis?
Os alunos continuavam assustados, mas os mais desinibidos ousaram responder:
– As leis existem, para que se ponha ordem à sociedade em que vivemos.
– Não! – respondeu o professor.
– Para que seja possível a convivência humana! – disse outro aluno.
– Não! Contestou o professor.
Para que as pessoas paguem pelos erros cometidos!
– Não!
E o professor continuou a falar, indignado:
– Será que, entre tantos alunos, nenhum sabe dar uma resposta correta?
Até que, timidamente, uma aluna respondeu:
– Para que haja Justiça!
O professor, eufórico, respondeu:
– SIM!!! Até que enfim!!! É isso mesmo!!! … Para que haja Justiça!
– E para que serve a Justiça? – Perguntou o professor, com hostilidade.
Todos começaram a se irritar com a atitude grosseira do professor. Mesmo assim, continuaram dando suas respostas:
– Para preservar os direitos humanos…
– Certo! E o que mais? – perguntou o professor.
Os alunos continuaram respondendo:
– Para separar o joio do trigo! Para distinguir o certo do errado! Para premiar aquele que fez o bem e punir aquele que fez o mal!
O professor vibrou:
– Muito bem! Mas, me respondam: Agi certo, ao expulsar Francisco da sala de aula?
– Não! – a resposta dos alunos foi uníssona.
O professor insistiu na pergunta:
– Podem me dizer se cometi uma injustiça com Francisco?
Todos os alunos responderam:
– Sim!!!
O professor, então, retrucou:
– E por que ninguém protestou diante da injustiça que eu fiz?!!!.Para que queremos leis e regras, se não dispomos da coragem necessária para praticá-las?
– Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar, quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais!
– Vão chamar Francisco! – disse o professor com voz austera, olhando fixamente para todos os alunos.
Acabrunhado, Francisco relutou em voltar. Foi preciso que os outros alunos fossem chamá-lo, acompanhados do professor, que o abraçou e lhe pediu desculpas, por tê-lo usado como exemplo do que vem a ser uma injustiça.
Naquele dia, os alunos do Curso de Direito receberam a mais importante lição que poderiam receber:
“O DIREITO NÃO SE NEGOCIA”.
Aí, Violante! Um exemplo chocante como esse é que mostra que não podemos nos acovardar. Sempre elegemos maus políticos mas esquecemos que também somos responsáveis pelo que eles fazem, até mesmo contra as leis, como por ex. soltar traficantes e . . . 172 políticos condenados. E agora PT e PL querem condenar o”Francisco”, digo, o Sérgio Moro. Que tal? Não somos iguais aos alunos do desse episódio?
Obrigada pela gentileza do comentário, prezado Flávio Feronato!
O clima de repressão que assola o nosso País faz com que nos calemos diante das injustiças praticadas, temendo as cruéis represálias a que temos assistido.
O terror das penalidades aplicadas aos “Franciscos” da vida, pelos “donos do poder”, faz com que a população se acovarde.
Sérgio Moro está sendo vítima de uma vingança feroz, previamente anunciada.
Bom final de semana!
Violante,
Parabéns por sua crônica abordando a injustiça. O primeiro dia de aula do Curso de Direto foi uma metáfora perfeita para o seu belíssimo texto dar uma lição na preservação dos direitos humanos essenciais a fim de que a justiça seja efetuada.
A injustiça significa principalmente o desrespeito pelos direitos tanto dos indivíduos como da sociedade em conjunto, e isso pode ser visível de diversas formas: alguns menores e quase invisíveis, outras mais notórias e flagrantes.
Winston Churchill foi muito feliz quando pronunciou a seguinte frase: “Onde há uma vontade, há um caminho. Se há uma chance de justiça, ela deve ser alcançada.”
Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e inspiração!
Aristeu
Obrigada pelo gratificante comentário, prezado poeta Aristeu!
A injustiça aniquila o indivíduo, principalmente, quando se vive numa sociedade onde a desvirtuação de valores é gritante.
É impossível se tapar o sol com a peneira, diante das aberrações e injustiças que estão sendo cometidas à frente do nosso País.
Assistimos a derrocada dos bons e a subida daqueles cujo caráter é duvidoso.
É muito verdadeira a frase de Winston Churchill, citada por você:
“Onde há uma vontade, há um caminho. Se há uma chance de justiça, ela deve ser alcançada.”
Com relação à atual situação política do Brasil, nunca foram tão atuais as famosas palavras de Rui Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
Desejo a você também um final de semana pleno de paz, saúde e inspiração!
Uma semana corrida, entre Natal e Fortaleza, de muitas reuniões etc., e para atualizar a minha mente eu vou abrindo para ler as várias publicações desse JBF que nos encanta. Daí, dou com sua crônica, Violante, e deixo os meus parabéns.
Obrigada pelo comentário gentil, grande poeta Jesus de Ritinha de Miúdo!
Bom final de semana!