A recente pesquisa de aprovação do governo Bolsonaro, 38,9% da população, divulgada pelo Instituto MDA, difere da aprovação pessoal do presidente, que chega a 57%. Acho que cabem, pelo menos, dois comentários aqui. O primeiro é que pesquisa de opinião varia muito de acordo com o cenário, com o interesse do financiador, com a isenção de quem faz a pesquisa, etc. Esse instituto tem, dentre os seus clientes, o PMDB, o PSB, Governo de Minas, ANEEL, enfim, mostra que conhece o ambiente político, mas eu prefiro muito a independência. No passado eu vi uma pesquisa no qual 42% dos homens diziam “a mulher que não se dá ao respeito é estuprada”. Levei essa discussão para minhas aulas na pós-graduação com o intuito de mostrar que a gente pode produzir o resultado que quiser numa pesquisa dependendo da formulação da pergunta. Fiz um questionário com perguntas que induziam o respondente, meus alunos, para a resposta que eu queria. Muitos deles com convicções diferentes do que estava sendo perguntando responderam aquilo que eu esperava. Apenas para mostrar que isso é possível.
Não quero dizer que foi isso que ocorreu nesta pesquisa, mas eu tenho certeza de que chegar para uma pessoa e dizer “você aprova o governo Bolsonaro?” é diferente de contextualizar o momento do governo, antes de perguntar. Nenhum governo é capaz de produzir nada no mês de janeiro porque a aprovação do orçamento só ocorre após o início do trabalho da câmara, que volta em 01/02, então, não temos nenhum mês de governo, rigorosamente falando. Certamente, se há esse desencanto com o governo, é possível ter um viés de desconhecimento das prerrogativas legais, porque não há imediatismo.
O ponto contraditório é a reação do mercado. A Bolsa de Valores bateu recordes com a eleição de Bolsonaro e com a posse e suportou, até mesmo, a desvalorização das ações da Vale do Rio Doce devido ao desastre de Brumadinho. Ao que parece, esse pessoal não deve ter participado dessa pesquisa. A leitura econômica mostra que empresários continuam interessados nas implantações da medida. A reforma da previdência, no governo Temer, ninguém queria relatar. Agora, há uma disputa entre parlamentares. Não tem como negar tais mudanças.
O segundo ponto é o comportamento da equipe de governo e também dos filhos do presidente. A equipe é fraca. Destaca-se Moro e Paulo Guedes. O resto é um bando de malucos que não conseguem encaminhar propostas. O Ministro da Educação, calado seria um gênio, mas publicamente ele consegue, com um simples bom dia, causar um estrago sem dimensões para o próprio governo. Bolsonaro se deixou levar pela pressão das igrejas e vetou Mozart Neves, ex-reitor da UFPE e com um grande conhecimento na área de educação. Embora a obrigatoriedade de cantar o Hino seja fruto do governo petista, há coisas muito mais fundamentais a se fazer pela educação. Até o momento não sabemos qual será a prioridade do governo nessa área. Educação básica ou educação superior. Na primeira levar-se-á anos para formar um aluno. Na segunda são desenvolvidas pesquisas que podem contribuir com o ensino em todos os níveis.
Os filhos do presidente precisam entender que não estão numa reunião de condomínio. Bolsonaro é presidente, não síndico. Ele não foi colocado ali para pintar prédios. O que se espera é encaminhamento para problemas crucias do país, como o desemprego deixado pelas ações dos governos passados. É provável que o fato de não se ter geração de empregos tenha pesado nesse índice de aprovação. Particularmente eu continuo torcendo para que as promessas de campanhas sejam transformadas em projetos estruturadores para a economia.
Acho uma enorme perda de tempo ficar discutindo bobagem, mas acredito que é o despreparo que favorece essas babaquices. A população espera por emprego, renda, corrupção sendo combatida exaustiva e continuamente, violência diminuindo, etc. Moro levou a proposta anticrime e o que se sabe é que Rodrigo Maia coloque em pauta com as famigeradas emendas de abuso de poder. Aquelas mesmas que Deltan Dallagnol tanto criticou. Assim, seria muito bom que o Ministro da Educação apresentasse algo pró-educação, ao invés de ficar atirando no pé do governo ou cuspindo para cima.
A aprovação pessoal do presidente indica que a população ainda acredita. Mas, se o governo não agir, a lua de mel acaba e o casamento sobe no telhado.