CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Para Magnovaldo Santos e Sancho Pança

À semelhança da viúva alegre, que tentou “seduzir” Seu Luiz

Seu Luiz era um setentão bem casado, pai de quatro filhos e avô de seis netos. Frequentador assíduo da Igreja Universal do Queijo do Reino, (mas não pagava dízimo nem com a bixiga lixa!) “Deus não precisa de dinheiro!” – justificava sua opinião.

No bairro onde morava era conhecido pela paciência, sinceridade, serenidade, solidariedade e respeito aos vizinhos confinantes e confrontantes, que ele sempre os cumprimentava cortesmente.

Marceneiro de mão cheia, Seu Luiz não parava em casa. Era constantemente solicitado para ir à casa de um freguês instalar um móvel na parede da cozinha, fazer um armário, armar uma cama, consertar uma mesa, uma espreguiçadeira, coisas da profissão.

Certo dia recebeu um telefonema em casa de uma desconhecida chamando-o para ir à casa dela instalar uma prateleira na parede da cozinha. Ele anotou o telefone, o endereço e prometeu que no outro dia chegava lá no horário combinado.

Ao chegar à casa da viúva, Seu Luiz foi recebido com agrado, galanteio, afago, cortesia, com a coroa toda empiriquitada, indicando o local onde queria instalar o armário, como desejava que fosse instalado e o deixou bem a vontade dizendo que não tinha pressa. De logo, acertou o preço da instalação e o material que ia comprar.

Com o material à mão comprado, Seu Luiz volta no outro dia à casa da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Ele pede licença, entra, conversa com ela mais uma vez detalhes de como deseja a posição da colocação do armário e depois começa a trabalhar.

Assanhada, a viúva alegre se aproxima do marceneiro e pergunta se ele não deseja fazer um lanche, tomar um cafezinho, beber uma água, tomar um suco. Enquanto vai lhe oferecendo essas cortesias a viúva alegre vai observando Seu Luiz da cabeça aos pés: mulato, gordinho, braços e pernas grossos, sério, educado, tudo que a viúva alegre deseja num homem. Nesse ínterim, vai lhe subindo um calor com um desejo louco de ter aquele coroa nos seus braços. Imagina-o pelado na frente dela e se excita toda!

Naquele instante a viúva assanhada cria uma fantasia erótica tão da moléstia do cachorro pensando em Seu Luiz que não se apercebe que havia passados mais de seis horas trabalhando na instalação do armário e que ele já havia terminado o serviço!

Quando deu por si Seu Luiz a chama na cozinha, pergunta se está tudo bom, se ela gostou e, a viúva, já pensando como ter uma conversa com o coroa, diz que adorou a instalação e pede a ele que retorne no outro dia para receber o valor do serviço acertado. Despede-se dele no portão, olha-o mais uma vez dos pés à cabeça e devora-o no pensamento com um sorriso vermelho de batom.

No outro dia, na hora marcada, lá está Seu Luiz no terraço da viúva alegre. Bate palmas. Ela vem atendê-lo. Abre a porta, Manda-o entrar. Tranca a porta e tira a chave sem ele perceber. Pede para ele sentar no sofá e aguardar um momento enquanto ela vai tomar um banho. Nesse momento Seu Luiz fica apavorado com a atitude da viúva. Mas, mesmo contrariado com o pedido dela, fica esperando que ela saísse do banho o mais rápido possível e viesse lhe pagar o valor do serviço acertado para ele ir-se embora.

Depois de mais uma hora de espera, Seu Luiz já nervoso de tanto esperar e estranhando o silêncio da viúva, fica em pé e a chama para lhe atender, dizendo-lhe que tem outro serviço para acertar.

Nesse momento, a viúva lhe aparece de camisola transparente, sem calcinha, sem sutiã, e na frente dele, abre a camisola e o provoca:

– E aí meu gatão, meu gostosão, meu pão-de-ló, está pronto para fazermos uns tilicuticos regados aos prazeres da carne mijada? Tomei um banho, me perfumei toda, raspei a danadinha só pensando na gente! Vem, corre, que estou louca de desejos! Sou uma tarada insaciável! Desde ontem que não paro de pensar em nós dois em baixo do edredom! Tudo está pronto. Só está faltando você! Vem!!

Nesse momento, vendo aquele desmantelo à sua frente e pensando na esposa que deixou em casa e que nunca a tinha traído, seu Luiz aboticou os olhos fundo de garrafa, ficou mais preto do que já era e, ameaçando a viúva, inquiriu:

– Olhe, madame, eu não vim aqui para isso não, viu! Eu vim para receber meu dinheiro! Se a senhora insistir mais uma vez eu quebro aquela porta, faço o maior escândalo aqui e vou me embora. Tá ouvindo?!

Foi nesse momento que a viúva assanhada, com medo da ameaça do velho e a atenção da vizinhança, foi lá dentro, pegou o dinheiro, vestiu uma blusa, e chegou até a porta para pagar a Seu Luiz. Mas antes de pagar, olhou o coroa mais uma vez da cabeça aos pés e lhe provocou:

– Olhe, tudo isso aqui é seu (e abriu a camisola transparente mais uma vez). Basta você me telefonar, marcar o momento para a gente fazer aquele ziriguidum (e começou a requebrar toda e revirar os olhos) que garanto que você não vai se arrepender! Estou à sua inteira disposição! A hora que quiser, pode vir seu garanhão!

E começou a pôr a língua nos lábios em forma de gestos obscenos provocando o coroa, que já estava apavorado com tais atitudes estranhas da velha assanhada!

Enquanto a viúva fechava a porta Seu Luiz saiu para rua, desabalado, apavorado, desnorteado, pensando naquele desmantelo jamais lhe ocorrido na vida.

Chegando em casa, Seu Luiz chamou o filho mais novo, solteiro, ao canto da casa e lhe contou o vexame por que havia passado, e o filho sirrindo-se de se mijar, olhou para o velho, e o provocou:

– Mas meu pai, e o senhor não comeu essa coroa, não, foi?!! Puta merda! Meu Deus do Céu! Ó Senhor, apresentaste a coroa à pessoa errada, Senhor! Por que não deste a mim, Senhor?!

E Seu Luiz, sobressaltado com a reação galhofa do filho, imaginou: Meu Deus, como as coisas estão mudadas!… E nesse instante, ficou mudo porque percebeu que vinha vindo sua esposa Dona Santinha, da igreja, com cara de quem comeu e não gostou!

9 pensou em “A VIÚVA QUE SÓ PENSAVA EM SEXO

  1. Cícero, meu compadre: não me lembro de ter tido uma homenagem tão grande de um cabra de tão elevada extração como você.
    Vou por seu comentário em uma moldura e mostrar, orgulhosamente, à minha esposa, filhos, enteados e netos.
    Como diria sua eminência reverendíssima Luiz Berto, fiquei ancho que nem a peste!
    Deus abençoe você e seus queridos.

  2. Caríssimo amigo Ciço.

    Há muito tempo que o amigo não nos gratifica com um artigo tão bem
    bolado, como fazia antigamente, antes da sua entrada bem sucedida no ramo
    de comentários de filmes.
    Essa historieta está muito bem elaborada , com principio, meio e fim
    da melhor maneira, como o sabem fazer os bons articulistas.

    Gostei muito e aconselho ao amigo voltar a escrever mais algumas vezes
    sobre assuntos diversos, pois os faz com grande mestria.

    Um grande abraço

    • Estimado D.Matt.

      O maior orgulho que tenho em escrever para o JBF é o de ter um democrata nos conduzindo feito o editor Luiz Berto.

      Nunca me censurou o texto, nem solicitou mudança, tampouco pediu para trocar uma palavra, uma vírgula, uma reticência…

      Luiz Berto é desses seres humanos que no mundo só aparece um de 100 em 100 anos. Tudo que ele quer é o bem de todos por isso é que ele faz questão de compartilhemos nossos cartapácios.

      Por isso mesmo, vou procurar, fielmente, atender a solicitação do estimado amigo, para nossa alegria, com passagem vivenciada da vida que faz qualquer chorar de emoção e sagacidade.

  3. Caríssimo Cícero Tavares,

    Ciço, li com muita atenção; depois reli e termino fazendo um pedido e uma consideração:

    Por partes; primeiro o pedido: tens o telefone da viúva tarada?

    Agora a consideração: às taradas de plantão deixo aqui registrado que estou disponível depois da 22 horas, quando normalmente encerro o expediente cocoleiro e bananeiro, para executar tais serviços de marcenaria a domicílio, cujo pagamento, se a dona for bela, pode ser em sexo. kkkkkkk

    • Sancho, querido,

      A viúva tarada já pendurou a chuteira; hoje vive de lembrança e saudades das noitadas homéricas, depois de largar o último cachacista, que entrou na vida dela sem ela se tocar, pura atração à primeira vista.

      Segundo ela para mim: não me arrependo de nada. Faria tudo novamente. Nada no mundo faz a mulher mais feliz do que ter um homem para dividir no ededrom, quando a gente acerta.

      Meu filho – confessou ela nos seus 90 aninhos assanhadinhos, com a coluna envergada, se houve viagra para mulher eu ainda iria tentar um veinho para furar o couro. Eu não morri!

      Ninguém segura a viúva assanhada; só o paletó de madeira.

      Já disse no houvido dela que tem um jovem coqueiro que por ela se interessou, por causa dos filhos e netos que “são uns criques que proíbem a avó de ver um saco enxuto!” Kkkkkkkkkkkkkkk

  4. Parabéns pela perfeição do texto, divertido e verdadeiro, querido cronista Cícero Tavares!

    Ao que parece, essa viúva estava acometida de Demência senil.

    Grande abraço

  5. Querídíssima Violante Pimentel,

    A viúva alegríssima e espivitada se encontrar hoje com mais de 90 anos e com os mesmos brilhos nos olhos quando ver um homem moreno, entrocado, que lhe chama a atenção. Tem asco por homens afrangalhados, que os politicamente corretos chamam de LGBT (ou LGBTTT), sigla utilizada para se referir à comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, que consistem em diferentes tipos de orientações sexuais.

    Quando eu contei a ela que estava em desenvolvimento um viagra para mulher da idade dela ainda ter esperança de fazer bilu,bilu, ela deu um pulo da espreguiçadeira onde estava sentada, arregalou os olhos, focou-os em mim, e me fustigou:

    – Quando sair me avise, viu seu caba-safado! Tem um pretinho aqui na rua que eu manjo ele há muito tempo! E deu uma gaitada ouvida por todos os moradores da rua! Quá,quá,quá,quá,quá.

    A viúva assanhada é feito o pai de Zé Dantas, só baixa o fogo quando se encantar.

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